A atendente de nutrição Maritza Azevedo Carneiro, 57 anos, de Porto Alegre, faz parte dos 73.513 gaúchos que convivem diariamente com a espera pelo retorno do INSS. Com diabetes e apenas um rim — o segundo órgão precisou ser removido durante procedimentos para tratamento de um câncer no colo do útero —, Maritza recebeu o auxílio-doença por 15 anos.
Em 2017, o benefício foi cortado, e ela precisou retornar ao mercado de trabalho, mesmo convivendo com as complicações causadas pelos problemas de saúde. No atual emprego, em um hospital, a atendente é responsável por levar a alimentação para os pacientes, fazendo uso de um carrinho para transportar as refeições. Ela relata ter dificuldades para exercer a função:
— Trabalho o tempo todo em pé, e o carrinho é pesado, não consigo empurrar. Tem dias em que não consigo trabalhar e tenho dificuldade até para subir no ônibus, pois sinto muita dor nas pernas. Até minha chefia acha que não tenho mais condições de trabalhar, mas não tenho o que fazer, não posso largar o serviço porque, só em remédios, gasto mais de R$ 200 por mês.
Descaso
Diante dos problemas enfrentados, em 16 de maio de 2018, Maritza solicitou a aposentadoria por tempo de contribuição. A previsão de 45 dias para obter resposta à solicitação ficou só na promessa: desde então, 407 dias se passaram e o pedido permanece em análise.
— Ligo para o (telefone) 135 umas três vezes por semana, e só dizem que está em análise. Por último, falaram que meu processo está em uma averiguação interna. Que averiguação é essa? Como maior interessada, penso que eles deveriam me falar, mas não explicam nada direito. É muito descaso — desabafa.
“Parei com o remédio para o coração, não posso comprar”
A espera também faz parte da vida do vendedor ambulante Ulisses Cabral Leal, de Esteio. Prestes a completar 66 anos, ele solicitou aposentadoria urbana por idade em 27 de junho de 2018. De lá pra cá, já são 365 dias aguardando pelo retorno do INSS.
— Fui três vezes lá e só sabem dizer que está em análise. Vai fechar um ano, e nada de vir a resposta. Enquanto isso, sigo numa situação precária — conta.
A quantia que ganha com a venda de espanadores de pó não é suficiente para seu sustento. Por ser idoso, ele tem dificuldades para obter um emprego formal.
— Não consigo vender quase nada, pois ninguém está comprando muito. Há dias em que não consigo tirar nem o dinheiro do almoço. Também parei de tomar meu remédio para o coração, pois não tenho como comprar. Já tentei procurar emprego, mas ninguém quer dar serviço para alguém com a minha idade — desabafa.
Sem conseguir pagar os R$ 450 mensais do aluguel da residência em que vivia, precisou se mudar para a casa do filho. Para ele, a aposentadoria é a única saída:
— Estou desesperado. Me sinto o pior dos homens por, nesta idade, precisar depender dos outros. Já não sei mais para que lado correr, só espero que minha vida melhore.