Imagine alguém preso em um buraco fundo e escuro que, de repente, vê uma corda sendo jogada lá de cima. Quem não a seguraria com as duas mãos para escapar? Para muita gente endividada até o pescoço, é assim que parecem as ofertas pela internet de crédito rápido, fácil e sem consulta a cadastros de restrição de crédito. O problema é que esse tipo de empréstimo pode piorar ainda mais a situação. Ou, ainda, ser um golpe.
Pesquisa nacional divulgada neste mês pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) apontou que em cada 10 inadimplentes que contrataram empréstimos, três disseram que era a única forma que encontraram para limpar o nome. A internet foi meio para se obter empréstimos para negativados usado por 26% dos entrevistados. Essa confiança em usar a internet para fechar essas operações de crédito vem merecendo alertas. A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, explica que consumidores decididos a buscar esses empréstimos devem, antes, conferir se a empresa tem autorização de funcionamento concedida pelo Banco Central do Brasil.
— Embora existam muitos bancos e financeiras que operam regularmente e de forma idônea, o consumidor deve ficar atento na hora de contratar esse tipo de serviço. Instituições falsas ou não autorizadas oferecem facilidades fora da realidade e exigem depósito prévio para liberarem o dinheiro, principalmente em contas de pessoas físicas _ adverte a economista.
Atenção às altas taxas
Pesquisadora da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Renata de Almeida Pedro diferencia dois cenários de empréstimos na internet. O primeiro é o das chamadas fintechs — startups que usam tecnologia para oferecer produtos e serviços financeiros — que não disponibilizam crédito para quem tem nome "sujo" e oferecem juros atraentes. O segundo é o das financeiras, que por oferecem crédito imediato a quem está negativado cobram taxas muito altas.
— E é nas financeiras onde mora o perigo. Elas oferecem taxas muito altas porque emprestam para quem está negativado. Mas é preciso muito cuidado para saber se são, de fato, idôneas. Há muitos golpes na internet — avisa Renata.
Mesmo escapando de um golpe, o problema continua. Porque buscar esse crédito caro já revela um desequilíbrio completo das finanças. O que o consumidor espera ser a corda para sair do buraco tem tudo para virar a pá que cavará ainda mais fundo. Ainda na pesquisa SPC Brasil/CNDL, quatro em cada 10 entrevistados consideram que o empréstimo não ajudou a resolver sua situação financeira e estão com dificuldades para honrar com o custo das parcelas do empréstimo.
Para o educador financeiro do SPC Brasil e do Portal Meu Bolso Feliz José Vignoli, quitar uma dívida é tarefa que exige esforço e mudanças drásticas nos hábitos financeiros da família.
— Muitas vezes as pessoas optam por um caminho mais rápido e, aparentemente, mais fácil para limpar o nome. No entanto, essas financeiras concedem dinheiro em troca de juros acima do que o mercado costuma cobrar — comenta ele.
Sete dicas para fugir do superendividamento
- Não é proibido tomar um empréstimo se ele estiver dentro de uma estratégia de sanar as dívidas.
- Pense friamente. Para que preciso do dinheiro? É mesmo necessário? A prestação cabe no orçamento?
- Certifique-se de que as parcelas não irão comprometer o orçamento, dificultando o pagamento de outras despesas.
- Veja se as taxas cobradas e o Custo Efetivo Total (CET) não irão elevar demais o valor total a ser pago.
- Guarde todo o material publicitário. Ele integra o contrato e suas informações devem ser cumpridas.
- Compare os prazos de diferentes opções de empréstimos e financiamentos e também de diferentes instituições. Solicite uma planilha de simulação da operação, com as parcelas que você deverá pagar.
- O BC oferece a Calculadora do Cidadão para operações a partir de informações dadas pelo usuário.
Sete dicas para não cair dos golpes
- Procure instituição autorizada pelo Banco Central e certifique-se de estar tratando, de fato, com a instituição em questão. Em caso de dúvida, confirme o telefone e o site oficial no portal do Banco Central.
- Navegue pelo site, conheça a seção "Quem somos", "Política de Privacidade" e "Termos de uso". Nos sites fraudulentos, esses conteúdos são mal feitos.
- Procure o certificado de segurança, os sites fraudulentos costumam não ter esse certificado, que é um cadeado verde fechado no endereço do site quando acessado.
- Faça uma busca sobre o site que oferece o empréstimo. Procure nas redes sociais, em notícias, blogs, e no Reclame Aqui, site de reclamações.
- Não forneça dados pessoais nem cópia de documentos a desconhecidos, nem aceite a intermediação de pessoas, com promessas de acelerar o crédito.
- Jamais faça depósito inicial para garantir empréstimos, principalmente, em contas de pessoas físicas, muito menos ofereça cartão ou senha de banco a terceiros.
- Desconfie de ofertas muito vantajosas ou facilitadas que dispensem avalista ou que não façam consultas a cadastros restritivos, como o SPC Brasil ou Serasa.
Fontes: Proteste, Banco Central, Portal Meu Bolso Feliz e educadores financeiros Reinaldo Domingos e José Vignoli