Ao falar sobre a relação do brasileiro com o dinheiro, Ana Leoni é categórica: a receita de bolo não funciona para todo mundo. A superintendente de Educação e Informações Técnicas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) aconselha o investidor a não tomar decisões no calor do momento, sobretudo em ano de eleição, como 2018.
Com base em uma pesquisa que a associação fez em novembro de 2017, que apontou cinco perfis quando o assunto é dinheiro (construtores, camaleões, planejadores, despreocupados e sonhadores), ela explica como guiar as decisões em 2018. A seguir, trechos da entrevista e, abaixo, um resumo de cada perfil.
Por que há perfis tão diferentes na relação com o dinheiro?
Somos tanto o perseverante, que poupa de pouquinho em pouquinho, como aquele que se vira de qualquer jeito, o camaleão. O construtor é a cara do brasileiro: vemos pessoas que medem o patrimônio por andares da casa, por exemplo. O camaleão tem jogo de cintura. Numa crise ou em ano de eleição, ele se adapta rapidamente. Já para o construtor, essas oscilações incomodam mais.
Em ano de eleição, muda a relação com o dinheiro?
A eleição tem grande impacto, mas sempre haverá eventos positivos e negativos. O importante é que a pessoa tem de ser neutra nas decisões de longo prazo, senão vai ter sempre de parar e repensar.
A maioria dos brasileiros diz que não sobra dinheiro. A melhora da renda abre espaço para investimentos mais arriscados?
Nunca sobra. O segredo não é ganhar mais, mas gastar menos. A sobra, entretanto, não quer dizer que a pessoa vai investir em produtos mais arrojados, apesar de o cenário estar mais propício. É preciso olhar qual rota seguir para que o capital seja mais sustentável, dentro do apetite de risco de cada um.
O juro baixo histórico vai influenciar nas decisões?
Mesmo que haja uma conjuntura econômica favorável, é como andar de bicicleta: primeiro começa no terreno plano e, aos poucos, vai mudando. Quem está começando vai poupar em produtos mais tradicionais. Tem gente que vai explorar um pouco mais de risco. O que percebemos é que a receita de bolo não serve para todo mundo.
Muitos veem os bancos como um mal necessário. Isso explica o baixo número de investidores?
Não é isso unicamente. O que mais explica é a cultura de investimentos ser muito recente. O brasileiro ainda tem de entender que investir é um aprendizado. Ainda precisa fazer uma auto-avaliação e refletir sobre os seus objetivos.
Cinco perfis dos brasileiros quanto à gestão das finanças pessoais*
Construtores
Destaque entre os brasileiros, os construtores gostam de ter o controle das situações e cuidam do dinheiro dia após dia, mesmo que em pequenas quantidades, mas de forma consistente. Eles representam 30% da população — 91% deles afirmam que pensam duas vezes antes de gastar.
Camaleões
Eles representam 29% dos brasileiros e não costumam guardar dinheiro. Para 80% deles, o salário cai na conta e vai direto para pagar os boletos.
Planejadores
Pragmáticos, os planejadores representam 22% da população. Eles possuem uma relação muito forte com o dinheiro e têm, no crescimento do próprio patrimônio, uma fonte de prazer. 80% deles afirmam que possuem uma reserva financeira para emergências.
Despreocupados
Os despreocupados não costumam ser organizados e correspondem a 11% da população. São pessoas que gastam sem pensar mas, não necessariamente, são endividados. Do total de "despreocupados", 86% afirmam que o dinheiro foi feito para gastar e dar prazer.
Sonhadores
Esse perfil corresponde a uma pequena parcela dos brasileiros (6%). Entre eles, 86% declaram ter espírito empreendedor. Os sonhadores são inquietos e até sabem que precisam de dinheiro para suas empreitadas, mas acham que não é qualquer quantia que vai ajudar. Eles acabam, portanto, perdendo a oportunidade de poupar pequenos valores do dia a dia.
*Fonte: Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).