Há quem diga que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval. Mas a máxima não vale para as contas. Custos com viagem, lazer, IPTU, IPVA, material escolar e rematrícula, somados aos gastos básicos, como alimentação, transporte e contas do dia a dia, podem pesar (e muito) no bolso no início do ano. Muitas pessoas saem de férias e só voltam a pensar nas dívidas quando retornam para casa. Surgem, então, as dúvidas sobre como organizar o orçamento e quais contas priorizar.
O economista, pesquisador e diretor técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Alfredo Meneghetti, orienta quem está voltando de férias e deixou as contas de lado, a pagar primeiro as que têm as taxas de juros mais altas.
— O cidadão que tiver muitas dívidas deve fazer um planejamento, discriminando os valores, as parcelas e as taxas de juros dessas contas. Então, deve buscar o credor e tentar negociar com os recursos que ele têm, pedindo um desconto para o pagamento à vista — aconselha.
De acordo com o coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, uma boa dica para quem quer organizar as contas é listar todos os seus gastos, fazendo três blocos. No primeiro, vale anotar as contas que você não pode deixar de pagar, como aluguel, escola e gastos com alimentação. No segundo, a orientação é reunir os gastos que você gostaria de ter, mas podem ser adiados por um determinado período, como academia ou aula de balé. Por fim, no terceiro bloco, devem ser colocadas as despesas das quais você pode abrir mão, como a visita a restaurantes.
Teixeira aconselha fazer um planejamento financeiro, criando uma planilha para o ano todo. Nela, será anotado tudo o que for comprado à vista e, também, as compras parceladas. Planejar é uma boa opção para quem não quer arrastar as dívidas para o próximo ano.
— Se for possível, tente fazer as compras no mesmo número de parcelas, para terminar todas as contas ainda neste ano — orienta.
As despesas podem ser divididas entre fixas ou variáveis. As fixas são aquelas que têm basicamente o mesmo valor todo mês, como condomínio, prestação do carro e plano de saúde, por exemplo. Já as despesas variáveis são as que acontecem mensalmente, mas que é possível tentar reduzir, como por exemplo, luz, água, telefone, compras de supermercado e cuidados pessoais.
— Quando conhecemos o quanto se gasta e com o que, será possível dimensionar para onde o nosso dinheiro está indo e, assim, priorizar nossas ações em relação a ele — afirma a professora do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do projeto de extensão Educação Financeira para todos, Wendy Carraro.
Ela aconselha registrar todos os gastos seguindo a classificação do que é fixo e do que é variável. Se você dividir o valor de um item pelo total dos seus rendimentos terá a porcentagem do quanto este gasto representa em relação ao que você ganha. Por exemplo, se o total da sua renda familiar for R$ 4 mil, e os gastos de alimentação envolvem supermercado (R$ 500), almoços (R$ 252) e lanches (R$ 168), então o gasto total de alimentação representa 23% da sua renda familiar (R$ 920/R$ 4.000). Analisando cada item dos gastos com alimentação, percebe-se que o supermercado representa 13%, almoços 6% e lanches 4%. Se o objetivo é reduzir os gastos com alimentação, por exemplo, o foco terá de ser nestes itens, individualmente.
— Pode-se optar por fazer melhores escolhas nas compras do supermercado, trocando por idas a feiras ou mercado público, comprar em dias de promoção, escolher produtos mais econômicos, ou então ter uma outra alternativa para almoços e lanches mais econômicos — propõe.
Parcelar ou pagar à vista?
Se você se considera uma pessoa desorganizada, o ideal é juntar o dinheiro e pagar à vista. Se você estiver ciente de que não pode mexer no dinheiro que é destinado à cada parcela, pode optar pelo parcelamento. Uma dica para se organizar é fazer uma planilha com todas as contas parceladas, para ver quanto de dinheiro as parcelas estão consumindo do seu salário líquido.
— É ilusão achar que um grande número de parcelas com valor baixo vale a pena, porque há juros embutidos — ressalta o coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira.
O IPTU e o IPVA são contas indispensáveis no início do ano. Quem possui automóvel pode pagar o IPVA com desconto de 22,4% até a próxima quarta-feira (31). Também é possível parcelar o valor em até três vezes. Quem quiser fazer o parcelamento deve quitar a primeira prestação até o dia 31. Depois disso, o pagamento poderá ser feito em parcela única com até 21,60% de desconto até 28 de fevereiro. O último prazo para o pagamento antecipado termina em 29 de março, com até 20,80% de desconto.
Se no seu município ainda for possível pagar o IPTU à vista, analise se o desconto vale a pena e se você terá dinheiro para fazer o pagamento em uma vez. Se você optar pelo parcelamento, tanto do IPTU quanto do IPVA, deve se planejar, para não acabar gastando o dinheiro que é destinado para a parcela.
— Você tem que pensar que esse dinheiro não existe, deve tirar esse valor da cabeça — afirma Teixeira.
Segundo o diretor técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Alfredo Meneghetti, é preciso fazer uma pesquisa de variação de preços. Se você deseja muito uma televisão que custa mil reais, por exemplo, o ideal é se organizar e juntar o dinheiro por três ou quatro meses e comprar à vista. Já quem tem dificuldade para poupar deve tentar fazer um parcelamento de curto prazo, que seria em até três vezes, para não prolongar as contas por muito tempo.
Quando você faz alguma compra no cartão de crédito, na fatura sempre vem a opção parcela mínima, que chama a atenção, principalmente se orçamento atual estiver baixo. Mas o economista aconselha a fugir dessa opção, para não entrar no Crédito Rotativo e acabar gerando uma "bola de neve" de dívidas. O ideal é sempre buscar recurso para pagar o valor total da parcela.
Ao pagar o valor mínimo da parcela do cartão, você assume o custo financeiro dos juros que acaba tornando a dívida infinita.
— Se você não tem previsão de pagar a parcela do que comprou, melhor não comprar — aconselha a professora do curso de Ciências Contábeis da UFRGS e coordenadora do projeto de extensão Educação Financeira para todos, Wendy Carraro.
Trabalhar só para pagar as contas?
Quem nunca comprou algo já contando com o salário do mês seguinte que atire a primeira pedra. De acordo com o coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, é preciso primeiro receber o dinheiro para depois gastar. Ele ainda aconselha que é sempre bom dar um "basta" nas dívidas e fazer um planejamento para o futuro. Nós sabemos que uma parte do dinheiro já será gasto com alimentação, transporte, vestuário e contas das quais não podemos fugir. Mas é importante reservar uma quantia para uma poupança, outra para emergências e, claro, também para o lazer, afinal, não dá para trabalhar só para pagar as contas.
Para planejar o destino do seu salário, o diretor técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Alfredo Meneghetti, aconselha dois passos a serem seguidos: primeiro, fazer um levantamento para ver quanto sobra do salário no fim do mês. Se estiver sobrando uma boa quantia, você está no sinal verde. Se o seu dinheiro estiver equilibrado, ou seja, você paga as contas, mas ainda sim consegue guardar uma pequena quantia, você está no sinal amarelo. Agora, se você estiver com dívidas e não consegue guardar nada, fique atento, você está no sinal vermelho.
O segundo passo é organizar quanto do seu salário é destinado para as suas necessidades, qual o valor que você consegue guardar numa poupança e a quantia que você pode usar para o lazer.
Meneghetti ressalta que o ideal é guardar 10% do salário todo o mês. Quando for possível reservar um valor maior, melhor ainda. Se você conseguir guardar menos, tudo bem, o importante é manter essa prática mensalmente.
— O dinheiro deve ser dividido em três partes, a primeira para as contas, a segunda seria os 10% para a poupança e a terceira para o lazer. O lazer deve estar no seu orçamento, pois é algo importante para a qualidade de vida — diz.
Confira algumas dicas para não virar refém das contas
- Para se organizar, faça um controle financeiro. Registre o quanto você gasta no dia a dia e com o que. Você pode utilizar um bloco de anotações, uma planilha do excel ou algum aplicativo de celular.
- Separe os gastos que são essenciais, os que podem ser adiados e os que você pode abrir mão.
- Faça um planejamento com todas as suas contas, sejam elas à vista ou parceladas, para analisar quanto do seu dinheiro deve ser reservado para as dívidas.
- Sempre que possível, junte o dinheiro e faça a compra à vista.
- Lembre-se: quanto mais parcelas, mais juros.
- Fuja da parcela mínima, para não entrar no Crédito Rotativo.
- Tente guardar mensalmente 10% do seu salário líquido.
- O ideal é separar uma quantia do seu salário para uma poupança, outra para possíveis emergências e também para o lazer.