Depois de mais de um mês funcionando em local improvisado, a Centrais de Abastecimento do Estado (Ceasa-RS) voltou nesta segunda-feira (17) para sua sede oficial, no bairro Anchieta, em Porto Alegre. O retorno, ainda restrito, teve sensação de volta pra casa para os produtores e clientes da central.
As comercializações estão sendo organizadas na área externa ao tradicional Galpão dos Produtores. Somente os boxes já recuperados e o setor de flores e embalagens estão liberados para uso. Cerca de 80% dos comerciantes puderem retornar para a estreia.
As restrições na operação se devem aos estragos provocados pela enchente. Segundo o presidente da Ceasa, Carlos Siegle, serão necessários R$ 64 milhões em reformas para a recuperação da estrutura danificada. O nível da água chegou a 2m8cm no complexo. Lama e resquícios de entulhos ainda são vistos pelas ruas da central.
O local permanece sem luz em razão dos danos nas subestações de energia elétrica. A expectativa é de que religamento ainda demore, pelo menos, 20 dias. Também serão necessários reparos na rede de esgoto, no asfalto e na estrutura dos prédios.
Desde o dia 8 de maio, a Ceasa estava operando provisoriamente no estacionamento do centro de distribuição da Farmácias São João, às margens da freeway. O espaço improvisado permitiu que o abastecimento de produtos estivesse garantido mesmo no auge da catástrofe climática que devastou o Rio Grande do Sul. Cerca de 11 mil toneladas de hortigranjeiros puderam ser vendidas no local.
"Era tudo o que a gente esperava"
Para a permissionária Flávia Regina dos Santos, o retorno ao espaço oficial permite manter o trabalho com mais estrutura, apesar dos improvisos. O box está sendo alimentado por um gerador enquanto a luz não é restabelecida.
— Graças a Deus, estamos voltando. Era tudo o que a gente esperava — celebrou Flávia, relembrando as dificuldades do endereço anterior na freeeay.
A permissionária estima prejuízo de R$ 100 mil em estoque, fora caminhão e veículos de carga que se perderam. Tudo o que estragou foi fora, de alimentos a móveis.
Em outra ponta do complexo, o sócio da Hortti Jeferson Sauzen também contabilizava danos. A retomada da operação oficial, ainda que no escuro, tranquiliza pela maior facilidade para trabalhar.
— Lá (na freeway) também estávamos sem luz e aqui, pelo menos, temos água. Sem falar no acesso aos produtores e maior oferta de produto também — diz Sauzen, que opera na logística de entrega de alimentos a restaurantes, hotéis, clínica e escolas.
Reabertura
Nesta segunda-feira, ainda se ajustando ao retorno, os portões da Central abriram ao público às 12h30min. Na terça, a operação volta ao horário regular: de terça a sexta, a partir das 9h15min para os clientes mais distantes e às 12h30min para o público geral.
Antes da reabertura oficial, filas de caminhões se formavam no entorno do complexo aguardando a entrada. A espera era em razão da solenidade que marcou a retomada das atividades. Representantes dos governos estadual e municipal enalteceram os esforços pela permanência das atividades da Ceasa, mesmo em local improvisado.
Do lado de fora, o hasteamento de uma bandeira do Rio Grande do Sul foi embalado pelo Hino Rio-grandense e por uma sinfonia de buzinas entoada pelos motoristas que aguardavam na pista. A entrada dos primeiros veículos foi aplaudida.
— Geramos em torno de 10 mil empregos diretos e mais de 80 mil indiretos. Existia uma apreensão muito grande dessas famílias, se elas conseguiriam ter os seus empregos mantidos, principalmente os carregadores, por exemplo. São 900 carregadores autônomos, mais os que são funcionários das empresas. A maioria dessas pessoas é do Humaitá, do Sarandi ou do Mathias Velho, em Canoas, bairros muito atingidos pela enchente. Imagina essas pessoas sem casa e sem emprego? E quando a gente consegue recuperar o complexo e voltar no dia de hoje, com toda dificuldade ainda, é um dia de muita festa — disse o presidente da Ceasa.
Em relação aos recursos necessários para a reforma do complexo, o vice-governador disse que o Estado está em conversa com o governo federal para buscar apoio nos aportes:
— Vamos precisar investir recursos aqui, sim, e estamos em conversa para entender o tamanho do volume desses recursos, onde eles serão aplicados e os projetos técnicos para tanto — disse Souza.
Cerca de 50% de tudo o que é consumido no Estado em termos de hortigranjeiros é comercializado pela Ceasa. Os produtores de hortaliças e verduras estão entre os que mais sofreram danos nas lavouras devido ao avanço da água na Região Metropolitana, na Serra e nos vales do Taquari e do Caí.
As perdas nas plantações já se refletem em menor oferta de produto disponível nas prateleiras dos supermercados, afetadas também pela dificuldade logística de escoar o que pôde ser colhido. A oferta, segundo os produtores, está se ajustando aos poucos.