A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) reconhece o momento de dificuldade envolvendo produtores de diferentes culturas que são seus associados, mas prega a manutenção do herbicida no mercado, com intensificação dos programas de boas práticas de aplicação.
– É uma situação muito constrangedora e delicada, um problema dentro de casa, mas a Farsul, na sua história, nunca se furtou na busca por soluções dentro da legalidade. A nossa visão é de que o problema é grave, mas pontual. É claro que, para aquele produtor que acaba atingido, é algo gravíssimo – avalia Domingos Velho Lopes, vice-presidente da Farsul.
O dirigente diz que foram “meritórias” e “eficientes” as discussões da Secretaria da Agricultura, em conjunto com setores produtivos e Ministério Público, no grupo de trabalho que criou, em meados de 2019, uma série de normas para o uso e comercialização do 2,4-D em 24 municípios gaúchos.
Há previsão de cursos de qualificação para o correto uso do produto, especificações técnicas para os bicos dispensadores do químico, regras para as lojas agropecuárias que vendem e para os agrônomos responsáveis pela aplicação, além de possíveis punições administrativas e criminais para quem descumprir os ditames. Também há normativas relacionadas ao clima: o 2,4-D somente pode ser aplicado em dias de ventos de até 10 km/h.
Lopes avalia que o herbicida, “terceiro produto mais vendido no país” entre todos os agrotóxicos, não é o problema. Ele salienta que o químico é registrado e autorizado junto à Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura, disponível no mercado “há quase 50 anos”.
– Na nossa ótica, o problema é a má aplicação por parte de alguns usuários. Os cursos de formação dos produtores estão surtindo efeito, mas a educação é um exercício de repetição, alguns aprendem mais rápido e outros, não. Por isso, ainda estamos com problema de deriva, mas, aparentemente, já há uma diminuição – diz Lopes.
Defesa
Ele avalia que, diante do cenário, o mais indicado é seguir investindo na qualificação técnica para que os sojicultores apliquem o herbicida nos campos respeitando as normas e observando as condições climáticas.
Presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Rio Grande do Sul (Aprosoja), Décio Teixeira diz que o 2,4-D é um produto fundamental para o plantio do grão.
Ele destaca a eficiência do químico contra a erva-daninha conhecida como buva e chama atenção para o preço do herbicida, de custo inferior a opções de mercado apontadas como menos propensas à deriva.
– Se proibir, é mais uma ferramenta que se perde. O Heat também é um herbicida que se aplica para combater a buva, mas é muito mais caro. Cada vez mais tiram uma parte da nossa renda. Todo produto mais caro que entra diminui a receita – aponta Teixeira.
Para ele, é necessário, dentro da cartilha já estabelecida pela Secretaria da Agricultura, reforçar a urgência de misturar o 2,4-D com óleo mineral e produtos antideriva antes de fazer a aplicação, que ocorre de maneira terrestre.
Essas medidas tornam as gotas do agrotóxico mais pesadas e densas, reduzindo a possibilidade de deriva.
– Há produtores de uvas viníferas que não fazem proteção nas beiradas das plantações. Precisa de uma cortina verde de árvores, uma barreira natural para se proteger de eventual deriva. É importante se precaver – rebate Teixeira.
A Associação Brasileira de Defensivos Pós-Patente (Aenda) informa que montou uma força-tarefa com as indústrias químicas que produzem herbicidas hormonais a partir da molécula do 2,4-D. Um dos metas da iniciativa, explica Luiz Carlos Ribeiro, gerente de regulação estadual da Aenda, é promover materiais de comunicação e de orientação que ajudem os produtores rurais a aplicar o agrotóxico corretamente, com protocolos de segurança desde a aquisição até o descarte da embalagem.
– Sendo bem realizada a parte de tecnologia da aplicação, voltada para a qualidade dos bicos, a pressão no pulverizador, o tamanho de gota, temos um resultado positivo. Esse tipo de trabalho está em crescimento no Estado – diz Ribeiro, projetando melhores resultados na educação.
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