Diante da prateleira, com centenas de marcas e variedades, como escolher o vinho fino que mais combina com seu paladar e bolso? A tarefa não é fácil, mas ficar atento aos seus gostos pessoais e ler as informações das embalagens ajudam a evitar dissabores. No rótulo e contrarrótulo, tipo de uva e safra servem de guia para quem ainda não é iniciado. Mesmo que o terroir de cada local confira características próprias à fruta, há atributos comuns de cada variedade, independentes da região onde foi cultivada.
Até pouco tempo atrás rodeado de rituais, o ato de beber vinhos finos e espumantes vem sendo desmitificado. Hoje não há distinção entre o certo e o errado, apenas sugestões de como aproveitar o sabor máximo da bebida.
— Queremos induzir o consumidor a ter sua própria linguagem — explica Daniel Salvador, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE).
A campanha mais recente do setor no país trazia como slogan: ‘Seus vinhos, suas regras’. A proposta evidenciou uma mudança de paradigma. Se a bebida remetia ao glamour, agora a proposta é incluí-la no dia a dia. O foco são os millennials, ou geração y, nascidos nas décadas de 1980 e 1990.
Para pessoas dessa geração e de outras que ainda não se renderam ao mundo de Baco, Salvador dá dicas de como começar a degustar:
— Uma boa porta de entrada são os tintos jovens, pois são bebidas frutadas e com menor intensidade de madeira e álcool. Ou rosés, servidos em temperaturas baixas, são refrescantes e macios. Entre os espumantes, a sugestão é o moscatel, com menos álcool e açúcar residual da fruta.
Segundo o dirigente da ABE, ao acostumar o paladar, o caminho natural é buscar produtos de maior intensidade. Uma recomendação para quem não gosta de bebida gelada e prefere temperatura ambiente, é beber na mesma temperatura adotada nas adegas das vinícolas, entre 14° e 20°.
Uvas estão em fase de brotação no Estado
Hoje, 85% das uvas processadas no Brasil estão concentradas no Estado, incluindo finas e de mesa, detalha João Carlos Taffarel, enólogo e analista da Embrapa Uva e Vinho. Com diferentes terroirs em razão de altitude, solo e clima variados, o Estado tem vocação para produção da fruta nas regiões de Serra (com as sub-regiões Vale dos Vinhedos, Monte Belo do Sul, Farroupilha, Pinto Bandeira, Altos Montes) Campos de Cima da Serra, Campanha (Candiota, Dom Pedrito, Santana do Livramento) e Serra do Sudeste (Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado).
Nessa época do ano, parte dos parreirais está em brotação no Estado, o que varia de acordo com a região e variedades. Por isso, é prematura qualquer previsão de safra. Na Serra, em razão do frio em agosto, o ciclo vegetativo atrasou em pelo menos 15 dias em relação à safra passada, detalha Taffarel, explicando que esse tardamento pode ser minimizado ao longo do ciclo em razão do comportamento climático e tecnologias empregadas na quebra de dormência.
Características dos vinhos e principais uvas
Tintos
Vinhos jovens: bebidas leves, frutadas e elegantes, com menor ou zero presença de madeira.
Vinhos de safras mais antigas: com uvas potentes, mais tanino, alcoólico e estruturado, com envelhecimento em madeira.
Variedades: cabernet sauvignon, merlot, cabernet franc, pinot noir, malbec, tannat, touriga nacional e teroldego.
Brancos
Nos vinhos tranquilos, há variação entre uvas aromáticas e não aromáticas.
Variedades aromáticas: moscato, malvasia, sauvignon blanc.
Variedades não aromáticas: chardonnay e riesling.
Rosés
De cor rosa sutil, são jovens e quase a totalidade é feita a partir de uvas tintas
Variedades: tannat, merlot, pinot noir e malbec.
Espumantes
São divididos por métodos de produção:
Charmat
A segunda fermentação é realizada em tanques de inox (autoclave). Permite espumantes frescos, características aromáticas frutadas e presença de gás carbônico, com retrogosto sutil e delicado.
Variedades: chardonnay, pinot noir, riesling, trebbiano e glera/prosecco.
Tradicional ou champenoise
A segunda fermentação ocorre na garrafa. Com maior tempo de guarda, ao fim da fermentação envelhece sobre borras finas – a partir de 120 dias – conferindo aromas mais maduros.
Variedades: chardonnay, pinot noir e riesling
Moscatel
Com álcool reduzido e açúcar residual da fruta madura.
Variedades: moscato branco, R2, giallo e malvasia.
O que vem por aí
A tendência entre as vinícolas brasileiras são os vinhos de corte — que é quando se busca harmonia entre uvas de diferentes variedades. O ícone entre os assemblages — termo francês para corte — , vem da tradicional região de Bordeaux.
— O bordalês traz a suavidade do merlot, o tanino do cabernet sauvignon e a delicadeza do cabernet franc — detalha Daniel Salvador, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE).
No Brasil, houve uma evolução nos vinhos de tipo blend nas últimas décadas, e hoje eles são pensados para destacar o potencial de cada variedade.
— Os cortes são estratégias das vinícolas para sair do patamar muito bom para fenomenal — afirma Salvador, destacando que essa evolução foi possível, entre outras ações, pela revisão de protocolos na viticultura, trato dos vinhedos e investimentos das vinícolas em tecnologia.
Em nível internacional, os vinhos do novo mundo seguem conquistando adeptos, inclusive entre consumidores de regiões tradicionais da Europa. Além de Brasil, integram a lista Chile, Argentina, Uruguai, África do Sul, Austrália e Estados Unidos. Em geral, essas bebidas têm características “frutadas, elegantes, de bom potencial alcoólico e presença de madeira“, completa Salvador.
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