As lavouras de arroz gaúcha são mais sustentáveis do que culturas semelhantes ao redor do mundo, e grande parte desse resultado vem de tecnologia desenvolvida no Estado, por meio do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Foi o que mostraram pesquisadores da instituição no Campo em Debate, realizado nesta segunda-feira (26), na Casa da RBS, no parque Assis Brasil, em Esteio. O público conheceu técnicas que permitem redução de até 48% na emissão de gases de efeito estufa ao longo de duas horas, no evento mediado pela colunista do agronegócio do Grupo RBS, Gisele Loeblein.
— A inundação das lavouras de arroz estimula a produção de metano, porque a água fermenta o solo, que gera esse gás. A planta do arroz, por sua vez, faz trocas gasosas. Por ela passa 90% de todo o metano que estiver no solo, que é liberado no ambiente. O que estamos fazendo é reduzindo essa emissão por meio de genética e manejo — introduziu a engenheira agrônoma Mara Grohs, pesquisadora do Irga.
A cientista elencou ações promovidas pelo Irga, em parceria com outras instituições de pesquisa como a Embrapa e as universidades federais do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e de Santa Maria (UFSM): desenvolvimento de cultivares que resultam em emissões menores graças à características físicas das plantas — menos canais por onde o metano é liberado; preparo antecipado do solo, para evitar o contato dos nutrientes com a água da irrigação e diversificação de culturas a cada safra para manter o terreno seco, evitando a inundação intermitente.
— Aqui produzimos um quilo de arroz com 400 gramas de CO2, enquanto, no mundo, é preciso 650 gramas de CO2. E tudo graças ao melhoramento genético e às boas práticas dos agricultores — comparou a pesquisadora, lembrando que é preciso fazer com que essa informação chegue ao consumidor, para que ele possa fazer sua escolha também com base na sustentabilidade.
Aqui produzimos um quilo de arroz com 400 gramas de CO2, enquanto, no mundo, é preciso 650 gramas de CO2. E tudo graças ao melhoramento genético e às boas práticas dos agricultores.
Mobilização antiga e resultado próximo
A pesquisa para melhoramento genético e manejo adequado entre os cientistas gaúchos começou no final dos anos 1990, à luz da assinatura do protocolo de Kyoto, no qual a comunidade internacional se comprometeu a reduzir emissão de gases de efeito estufa como forma de controlar o aquecimento global.
— No contexto externo, havia essa pressão. E, internamente, o Ministério Público começou a cobrar que licenciássemos as lavouras por conta do impacto nos recursos hídricos, coisa que nunca tinha acontecido em cem anos de atividade arrozeira no Rio Grande do Sul — recordou Ivo Mello, integrante do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos e também pesquisador do Irga e produtor de arroz.
O Ministério Público começou a cobrar que licenciássemos as lavouras por conta do impacto nos recursos hídricos, coisa que nunca tinha acontecido em cem anos de atividade arrozeira no Rio Grande do Sul.
Hoje, esse sistema de produção que mescla arroz com soja e até pecuária, que evita revolver o solo desnecessariamente e utiliza cultivares selecionadas, está a um passo de ingressar no Plano de Agricultura de Baixo Carbono do Ministério da Agricultura, o que daria ao produtor gaúcho chance de acessar linhas de crédito especiais e de receber apoio técnico do órgão para o desenvolvimento sustentável da cultura.
Sobre o arroz do Rio Grande do Sul, temos um parecer da Embrapa muito positivo, diria que 70% do caminho já está trilhado.
— Só podemos incluir sistemas que estejam muito bem estudados. Sobre o arroz do Rio Grande do Sul, temos um parecer da Embrapa muito positivo, diria que 70% do caminho já está trilhado — revelou o coordenador-geral de mudanças climáticas do Ministério da Agricultura, Elvison Nunes Ramos.