No país onde o espanhol e o guarani ainda se misturam, especialmente no interior, as características que sustentam o crescimento da economia são bem definidas e pouco influenciadas pelo humor político. O Paraguai tem baixa carga tributária (cerca de 10% do PIB contra 33,4% o PIB no Brasil) e custos competitivos, sobretudo com energia e mão de obra.
– O Paraguai tem fundamentos econômicos sólidos. Tem estabilidade governamental e leis que não mudam todo dia – afirma Claudio Gomes, diretor da consultoria Centro Empresarial Brasil Paraguai (Braspar).
O Imposto sobre Valor Agregado (IVA), semelhante ao ICMS no Brasil, é de no máximo 10%. Para a produção primária, como grãos e carnes, é de apenas 5%. Os baixos impostos no país fazem com que a mesma energia gerada na usina hidrelétrica de Itaipu seja distribuída no país vizinho a um terço do custo no Brasil. E o fator é determinante para a lavoura de arroz, que cresceu 240% em território paraguaio na última década. Os custos menores de produção estimularam investimentos na cultura, especialmente no sul do país.
No Departamento de Misiones, principal região produtora do cereal, a indústria Agroalianza está no terceiro ano de operação em San Juan Bautista. O empreendimento de um grupo de gaúchos, da Fronteira Oeste, em parceria com uma família paraguaia, tem capacidade para beneficiar cerca de 180 mil toneladas por ano.
– Hoje temos pouco mais da metade da planta industrial ocupada. Se houver demanda pelo produto, há espaço para expandir a área de produção – afirma o agrônomo João Carlos Schardong Junior, natural de Três de Maio e gerente de originação da unidade, com 65 funcionários fixos.
Das 80 mil toneladas de arroz produzidas pela indústria no ano passado, cerca de 70% foram exportadas para o Brasil – grande parte em big bag, antes da fase de embalagem final.
– Temos negócios com 20 países. A intenção é reduzir a dependência do Brasil, não passando de 40% – estima Schardong, que trocou a estabilidade na Emater para trabalhar em uma multinacional no Paraguai, há oito anos.
O arroz que abastece a Agroalianza é cultivado em cerca de 11 mil hectares – 100% arrendados pela indústria ou por parceiros. A maioria das lavouras foi aberta em áreas de pecuária, com recursos fornecidos pela empresa, já que o crédito agrícola público no Paraguai é quase nulo. Dos 23 produtores que entregam a safra para a Agroalianza, pelo menos 10 são migrantes do Rio Grande do Sul – onde os altos custos de produção geraram crise nos últimos cinco anos.
Menos de 20% das sementes cultivadas são certificadas
Mesmo com custos menores, principalmente de energia e de arrendamento da terra, o aumento da produtividade das lavouras de arroz ainda é um desafio para quem aposta na cultura. O rendimento médio é de 5,5 mil quilos por hectare, 40% menor do que no Rio Grande do Sul.
Outro problema é o baixo percentual do uso de sementes certificadas, menos de 20% do total, alerta Hector Ramirez, consultor de arroz no Mercosul. Colaborador do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) por 10 anos, hoje presta consultoria técnica para dezenas de propriedades rurais no Paraguai e trabalha na criação de um banco genético de arroz.
– Dependemos de variedades desenvolvidas pelo Irga e também da Argentina. O uso de semente salva e sem procedência acaba reduzindo nosso potencial produtivo – lamenta Ramirez.
Apesar de exportar o produto para 32 países, o Paraguai ainda é dependente do mercado brasileiro – destino de 50% da safra de arroz passada.
– Os preços básicos dos produtos agrícolas são influenciados pelos mercados vizinhos, como o Brasil. A nossa demanda interna também é incerta, o que representa riscos – considera Esther Storch, sócia-diretora da Dasagro, corretora e consultoria de agronegócios do Paraguai.
É do Brasil também que o país vizinho importa grande parte das máquinas e equipamentos agrícolas.
– Depois do Brasil, o Paraguai é hoje o principal mercado agrícola na América Latina – diz Carlos Lourenço, presidente da Ciabay, revendedora de máquinas e insumos, com 10 lojas no país.