Um contêiner vedado para diminuir o calor e climatizado com ar condicionado é a casa improvisada de Enio Delci Souto Coelho, 51 anos. Mais conhecido como Coejito, apelido recebido nas lavouras de arroz de Quaraí, na fronteira com o Uruguai, o trabalhador rural mudou-se para o Paraguai há seis meses. Migrou com o patrão, que arrendou terras em San Ignácio, no Departamento de Misiones. Em poucos dias, trocou o chimarrão pelo tererê – bebida típica dos paraguaios, feita com água gelada e ervas.
– Cuido da lavoura, planto e colho. Faço o que fiz a minha vida toda – conta Coejito, que precisa andar cerca de um hora de carro para chegar ao centro da cidade.
O custo trabalhista menor é outro atrativo para produtores e investidores que desembarcam no país. A jornada semanal é de 48 horas, quatro a mais do que no Brasil e o salário mínimo no Paraguai é de US$ 370 – o equivalente a R$ 1.440.
– Os encargos trabalhistas não passam de 30% do salário, enquanto no Brasil quase dobram. Sem contar que lá não tem sindicato tumultuando a vida dos empresários – compara Claudio Gomes, diretor da consultoria Centro Empresarial Empresarial Brasil Paraguai (Braspar).
Por ano, um paraguaio trabalha em média 360 horas a mais do que os brasileiros – levando em conta o número menor de feriados e de férias. Nos primeiros cinco anos de trabalho, o funcionário tem 12 dias de férias, aumentando para 18 dias do sexto até o nono ano e chegando a um mês somente a partir do 10º ano de contrato.
Safra dolarizada do início ao fim afasta riscos cambiais
Apesar de o guarani ser a moeda oficial do país, é o dólar que baliza praticamente 100% das transações do agronegócio no Paraguai. A moeda americana é usada como referência durante todo o ciclo da produção – do plantio à colheita.
– Como não há cruzamento de moedas, o risco de oscilações cambiais durante a safra, que ocorre no Brasil, por exemplo, não acontece aqui – compara Fernando Sartor, gerente da Servalesa no Brasil e no Paraguai, multinacional espanhola fabricante de bioestimulantes orgânicos para a agricultura.
Trabalhando há sete anos no Paraguai, o gaúcho natural de Horizontina lamenta que a imagem do país vizinho ainda seja negativa.
– O Paraguai caminha para ser uma ilha na América do Sul. Se continuar nesse ritmo, em 10 a 15 anos se consolidará por ser um país pequeno e com condições favoráveis para trabalhar – estima Sartor.
Embora tenha reduzido a pobreza quase pela metade nos últimos 15 anos, o Paraguai tem ainda 28% da população vivendo nessa condição. É uma parcela elevada que ainda não tirou proveito do crescimento da economia – que não se sabe até quando terá fôlego para avançar.