O cultivo de cogumelos vem despertando o interesse cada vez maior de produtores na medida em que o alimento vem ganhando espaço no mercado nos últimos anos. Viável em pequenas propriedades rurais por não necessitar de muita área, o fungo está ligado à busca por alimentação saudável e à dieta vegetariana.
A professora Marli Camazzolla, pesquisadora do Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), destaca que os cogumelos são ricos em proteínas, sendo alternativa às carnes:
— Eles têm potencial para substituir em parte a proteína animal, com vantagem de serem ricos em fibras e não terem colesterol.
O trabalho desenvolvido na UCS de coleta e análise de cogumelos e outras espécies de fungos começou em 2009. A pesquisa busca descobrir aplicações ambientais e na saúde. Alguns fungos catalogados pela equipe ainda não foram identificados. Estima-se que apenas de 3% a 7% das espécies sejam conhecidas no mundo.
De 10 anos para cá, as vendas quase triplicaram
JOEL BOLZAN
Produtor de cogumelos em Flores da Cunha/RS
Em relação aos fungos comestíveis, a produção no Rio Grande do Sul remonta há cerca de 30 anos, com uma técnica de produção de champignons trazida da França, conforme o pesquisador e assistente técnico da Emater Ari Uriartt. O especialista observa que, embora não haja ainda dado oficial do número de produtores, nem mesmo no Censo Agropecuário, percebe que a prática vem aumentando. A maior concentração fica em São Paulo, devido aos imigrantes de origem asiática.
A Associação Nacional de Produtores de Cogumelos tem como referência um censo paulista de 2016, que indicou produção de mil toneladas por mês, gerando receita mensal de R$ 21,24 milhões e cerca de 5 mil empregos diretos.
Uso de troncos perfurados é um dos métodos de cultivo
Variedades como o cogumelo shitake e o shimeji são as mais cultivadas pela facilidade de manejo em pequenas propriedades. Conforme Uriartt, não necessitam de estrutura cara, como o champignon.
Um dos métodos mais tradicionais é o uso de troncos perfurados onde sementes dos cogumelos — o fungo em estágio inicial — são aplicadas. Outra técnica é o uso de blocos de substrato, como a serragem de eucalipto, com introdução de farelo de soja e trigo. Os blocos precisam ser esterilizados antes da introdução das sementes.
Esse é o método usado pelo produtor Joel Bolzan, no interior de Flores da Cunha, na serra gaúcha, que abre a produção a turistas. Os visitantes fazem um tour pelo galpão de 120 metros quadrados onde antigamente eram criados suínos e hoje são ocupados por cerca de 800 blocos de serragem com cogumelos shitake.
— De 10 anos para cá, as vendas quase triplicaram — conta.
Segundo o agricultor, que também planta uva e alho, o cogumelo shitake vem se tornando bastante rentável nos últimos cinco anos e, embora não seja a principal fonte de renda da propriedade, está cada vez mais próximo dos outros cultivos.
Clima propício à produção
O cultivo de cogumelo tem duas variáveis importantes: temperatura amena e umidade. Acima dos 30°C, o cogumelo não sobrevive. Em temperaturas baixas, o fungo cresce de forma muito lenta. O ideal varia conforme a espécie, mas fica em torno de 25°C. Por isso, o outono e a primavera são os melhores períodos.
Joel Bolzan conta que um bom índice de umidade é acima de 65%. Outra variável importante é a luminosidade, com a incidência do sol também controlada dentro do galpão.
Ari Uriartt reforça que o clima do Rio Grande do Sul é ideal para cogumelos, uma potencial vantagem em relação aos produtores paulistas:
— Os nossos verões em regiões de altitude são mais amenos.
Já no litoral, no inverno, as temperaturas não chegam a baixar tanto. E, com alguns recursos de climatização das unidades de cultivo, conseguimos produções a baixo custo praticamente o ano todo – analisa o assistente técnico da Emater.
Por outro lado, há insumos que ainda não podem ser adquiridos no Estado. Para obter as sementes, produtores gaúchos costumam ir ao Paraná ou a São Paulo.
Para interessados, Uriartt comenta que a internet pode ser uma fonte de informações, mas alerta para o fato de que nem tudo que está disponível on-line é confiável.