A paisagem típica de homens e mulheres com as mãos para o alto em meio às videiras da Serra, cortando cuidadosamente os cachos de uva e colocando-os na bandeja, tende a se tornar menos comum no futuro. Isso porque, aos poucos, produtores começam a recorrer à mecanização da safra. Neste ano, segundo a Emater de Caxias do Sul, cerca de 20 famílias da região estão colhendo as frutas com ajuda de colheitadeiras específicas _ algumas adaptadas pelos próprios agricultores.
Calcula-se que máquinas estão sendo utilizadas em aproximadamente 200 hectares, o que representa 0,5% dos 39 mil hectares de parreirais na Serra. No entanto, a perspectiva é de que os números avancem a cada safra.
– A dificuldade em encontrar mão de obra no campo, assim como o custo alto da colheita manual, nos levará ao caminho da mecanização – projeta Marcio Ferrari, coordenador da Comissão Interestadual da Uva e vice-presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
Segundo Ferrari, os gastos com a colheita manual representam quase 50% do custo de produção da uva. Até então, desde 2011, as experiências mecanizadas se concentravam na Fronteira e na Campanha, onde grandes grupos vinícolas têm parreiras em espaldeira _ sistema horizontal de produção. A novidade agora é o uso de equipamentos também em videiras de condução latada, no sistema vertical em armações formadas por postes _ típicas da produção de uvas da Serra.
Um dos precursores no uso de colheitadeira na região está em Coronel Pilar. O produtor Renato Moresco comprou uma máquina no final de 2017 e está colhendo sua primeira safra mecanizada neste ano.
Mesmo em fase de adaptação ao processo, Moresco constata que o equipamento possibilita maior agilidade no recolhimento da uva. A colheitadeira tem capacidade para captar, em média, três toneladas por hora. Por enquanto, o produtor está colhendo de 1,5 a duas toneladas a cada 60 minutos.
Com 10 hectares de variedades como bordô, isabel e niágara, a família Moresco deve produzir entre 180 e 200 toneladas de uva neste ano. Metade será colhida a partir do trabalho do equipamento.
Na próxima safra, a intenção é de usar a máquina em 80% da colheita. Para isso, durante o inverno, serão feitas algumas adaptações nos parreirais para permitir que a máquina transite no local com maior facilidade.
– Mecanizamos a produção principalmente pela escassez de mão de obra para a colheita. E também porque temos de evoluir, não podemos ficar parados – conta Moresco.
Equipamento faz trabalho de 20 pessoas na colheita
Diretor de uma fabricante de colheitadeiras em Farroupilha, o engenheiro agrônomo Anderson Benato calcula que o trabalho de uma máquina equivale ao de 20 pessoas em colheita manual. Até agora, o empresário já vendeu quatro unidades na região, a valores que variam de R$ 90 mil a R$ 200 mil, dependendo do modelo. Para a próxima safra, contabiliza seis encomendas garantidas.
Mesmo assim, Benato afirma que ainda é necessário vencer a desconfiança em relação à colheita mecanizada. Algumas empresas evitam comprar a fruta colhida por máquina e até mesmo os agricultores se mostram ressabiados com o equipamento, relata o empresário.
– O produtor hoje ainda não acredita nessa tecnologia. Na verdade, ele não conhece. Calculamos que esse mercado vai começar a girar em quatro ou cinco anos, quando houver uma adaptação maior à mecanização – estima o empresário.
A perda de uva, com a máquina, fica em torno de 3% a 5% do total colhido. O grande desafio é o escoamento da produção. Como algumas frutas acabam sendo abertas no procedimento, o ideal é transportar até a cantina em, no máximo, quatro horas, evitando o início do processo de fermentação da uva.