A produção de mel na serra gaúcha foi impactada neste ano pela irregularidade do clima – com temperaturas amenas no inverno, antecipando a floração, e estiagem no mês de agosto. Com isso, a matéria-prima para as abelhas produzirem mel diminuiu, já que a brotação de flores foi menor e com menos néctar.
A estimativa da Associação Caxiense de Apicultores, que reúne 150 produtores da região de Caxias do Sul, é que a produção fique entre 10 e 15 toneladas neste ano. Para se ter uma ideia do impacto das condições do ambiente, em safra cheia, o volume pode chegar a até 130 toneladas de mel.
Conforme o apicultor Antônio Viapiana, de Antônio Prado, a produção das colmeias depende muito da temperatura e de precipitações na medida. Em 2016, com o clima regular, a produção permitiu a estocagem de mel para venda. Conforme Viapiana, geralmente, para cada ciclo bom, há duas safras baixas; por isso, os apicultores trabalham com estoque para manter a comercialização o ano todo.
Na Serra, o mel é produzido de setembro a novembro, quando há abundância de flores. Em outras regiões do Estado, como nos vales e no Litoral, também há uma safra no outono. Muitos produtores praticam a apicultura itinerante, deslocando as colmeias ao longo do ano para diferentes regiões onde o potencial de produção é maior.
Para boa parte dos produtores, o mel não é o principal negócio, representa renda extra e, para muitos, é um hobby. É o caso de Eleandro Bagatini, engenheiro elétrico que mantém colmeias em Forqueta, no interior de Caxias do Sul.
– Tenho para atender a meus familiares e amigos. Minha produção é baixa, tenho só 20 colmeias. Não chega a ser um complemento; é mais um hobby. O que me alegra é contribuir com a natureza, porque esses enxames vão polinizar as flores – afirma.
O vice-presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul (Fargs), Aldo Machado, estima que 90% dos apicultores do estado tenham o mel como segunda ou terceira fonte de renda. Para o produtor sobreviver da atividade, são necessárias mais de 50 colmeias, calcula Machado. Já para um salário médio R$ 4 mil reais, são necessárias pelo menos cem.
Aplicação irregular de agrotóxicos prejudica abelhas
O uso de agrotóxicos preocupa os apicultores. Químicos aplicados de forma incorreta nas plantações têm provocado a morte de abelhas e a perda de colmeias inteiras. Conforme Machado, cada abelha pode provocar o envenenamento de até outras 700. Há cerca de duas semanas, ocorreu uma mortandade em São Gabriel, na Fronteira Oeste, onde o próprio Machado possui caixas. O levantamento ainda está sendo feito, mas já aponta que ao menos 500 colmeias foram perdidas. A situação foi denunciada à Inspetoria Veterinária do Estado, Ministério Público, Polícia Civil, Patrulha Ambiental da Brigada Militar e Ibama.
Para Machado, as leis sobre o uso de agrotóxicos, que restringem ou barram a aplicação em períodos de florada, são satisfatórias. O problema é que a maioria dos apicultores não denuncia as perdas decorrentes da aplicação irregular dos químicos em lavouras por medo de represálias. Em geral, os produtores de mel atuam em propriedades de outros agricultores, que cedem um espaço para terem, como retorno, aumento na produtividade em razão do trabalho de polinização realizado pelos insetos.
Isso vale para diversos cultivos, como a própria soja. Na Serra, conforme o agrônomo da Emater Ênio Todeschini, especializado em fruticultura, a polinização feita por insetos é fundamental para a produção de maçãs e ameixas. Ele afirma que os agricultores são orientados a utilizarem produtos de forma racional, especialmente durante a floração. Todeschini ressalta que as substâncias do grupo dos neonicotinóides são nocivas às abelhas. Inclusive, conforme o agrônomo, há agrotóxicos com dois ativos utilizados em lavouras na Serra e cuja aplicação aérea é proibida no Brasil: tiametoxam e o imidacloprido.
Exportações estimulam produção
Embora a população de abelhas esteja diminuindo principalmente em função dos agrotóxicos, ainda há espaço para novos produtores. A principal preocupação em termos ambientais, segundo Machado, é com relação à perda de colmeias em ambiente natural, já que o número de abelhas mantidas por apicultores é muito pequeno frente à necessidade de polinização.
Com o déficit mundial de mel, muitos apicultores brasileiros aproveitam para exportar, elevando o valor do produto. Essa demanda, inclusive, tem provocado um leve aumento no número de produtores a cada ano. O Rio Grande do Sul é o maior produtor do país, com volume de 6.284 toneladas e colmeias em 44 mil propriedades, segundo a Produção da Pecuária Municipal de 2016 do IBGE. A quantia produzida difere da média anual estimada pela Fargs, de 10 mil toneladas; a Fundação estima que haja no Estado 500 mil colmeias de 32 mil apicultores. O Brasil está entre os 10 principais exportadores do mundo, e os maiores compradores do mel brasileiro são os Estados Unidos e a Alemanha.