Vídeos produzidos a campo, touros usados na troca, frete grátis, lotes a preço fixo e descontos em programas de fidelidade. Para enfrentar a retração do mercado do boi gordo no país, fortemente impactado pelo escândalo da JBS, as cabanhas investem em alternativas de venda nos remates de primavera no Rio Grande do Sul. É a criatividade entrando em pista para garantir a liquidez das ofertas.
Em um dos principais leilões da temporada, da GAP Genética, em Uruguaiana, quase 40% das vendas de mais de mil animais ocorreram por meio de preço fixo. Pela modalidade, cada compra em pista dava direito a escolha de até dois lotes da mesma raça e sexo a valor pré-definido. Esses exemplares não foram levados fisicamente ao leilão, sendo mostrados em vídeos reproduzidos no site da cabanha e na hora do remate.
– A compra do lote a preço fixo é vantajosa para quem precisa fazer volume sem entrar na disputa – explica João Paulo Schneider da Silva (Kaju), diretor comercial da GAP Genética.
Embora adotado há três anos, o modelo de venda se consolidou nesta edição, segundo Kaju:
– O sistema foi aprovado pelos compradores, o que nos permitiu aumentar a oferta de animais em relação ao ano passado.
Outra novidade nesta temporada foi a oferta de 20 lotes surpresa. A cada toque do sino, o aviso de que a próxima compra viria acompanhada de prêmios – que variavam entre pacotes de sêmen, cavalos domados, produtos veterinários, serviço de aviação agrícola e adubação de lavouras.
– Também demos descontos maiores para quem comprou bovinos e cavalos – completa Kaju.
Para valorizar a oferta a ser leiloada no próximo dia 19, em Dom Pedrito, na Campanha, organizadores do 45º Remate Guatambu, Alvorada e Caty produziram vídeo individual de todos os 130 touros das raças hereford e braford que serão oferecidos, além de imagens em lotes das 420 fêmeas. Foram quatro dias inteiros de gravações nas três cabanhas, em Dom Pedrito e Santana do Livramento. As imagens dos bovinos a campo foram propagadas nas redes sociais nesta semana para atrair compradores de todo o país.
– Decidimos oferecer uma ferramenta para facilitar a visualização dos animais antes do remate, especialmente para os compradores à distância – explica Valter Pötter, proprietário da Estância Guatambu, de Dom Pedrito.
Outra inovação são as informações de avaliação genômica de todos os exemplares, com índices de resistência a carrapatos e facilidade de parto.
– Apostamos em animais com índices genéticos superiores para tentar compensar a queda do preço do boi gordo neste ano – completa Pötter.
A Cabanha Capanegra, de Dom Pedrito, também apostou em vídeos produzidos para atrair compradores ao remate do próximo dia 18. As filmagens de lotes de 65 reprodutores e 120 fêmeas prenhes, divididos em raças e categorias, foram compartilhadas em redes sociais, como grupos de WhatsApp.
– Estamos passando por uma readequação de mercado, isso exige buscar novos clientes e potencializar os antigos – diz José Francisco Moura, veterinário da Capanegra.
Entre as estratégias adotadas pelas cabanhas estão ainda fretes grátis dentro Rio Grande do Sul e subsídios para deslocamento para fora do Estado. Neste ano, também cresceram os programas de fidelização de clientes, com descontos maiores do que os oferecidos normalmente.
– De uma forma ou de outra, as facilidades oferecidas buscam reduzir o custo para o comprador em um período mais difícil de vendas, na comparação com anos anteriores – confirma o leiloeiro Marcelo Silva, diretor da Trajano Silva Remates.
Nos primeiros leilões da temporada, em duas semanas, a média dos animais vendidos caiu 10%, segundo o Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Rio Grande do Sul (Sindiler). No ano passado, a média dos touros chegou a R$ 9,94 mil por exemplar – com destaque para os reprodutores da raça braford, que alcançaram R$ 10,65 mil.
– Ainda é cedo para estimar um percentual de baixa. O certo é que será uma temporada diferente. Está todo mundo buscando liquidez, com as médias em segundo plano – avalia Jarbas Knorr, presidente da entidade.
Apesar do mercado nebuloso, o leiloeiro Fábio Crespo aposta que a qualidade ofertada em pista e a necessidade do criador de comprar ou vender nesta época do ano garantirão bons resultados na temporada.
– O preço será ditado pelo mercado. O que fará a diferença é a liquidez – resume Crespo.