O preço do leite despencou, mas o produtor Aldemir Hammel, 52 anos, segue no azul. Um ano atrás, recebia R$ 1,79 pelo litro. Agora, ganha R$ 1,29, mas, com a gestão atenta dos gastos, ainda faz a receita superar o custo, de R$ 0,90 por litro. O período de vacas magras no mercado não fez o negócio ir para o brejo.
– Em agosto do ano passado, o preço estava muito bom, mas a gente sabia que não era real. O que tenho que fazer é reduzir custos, economizar, contornar dificuldades, buscar aproveitar melhor a alimentação – conta Hammel, ressaltando que isso não significa negligenciar a nutrição dos animais em lactação, o que impactaria na produção.
Na propriedade de 15 hectares de leite, também em Carazinho, Hammel mantém 22 vacas em lactação. Produz hoje 420 litros por dia. Uma das estratégias é oferecer mais pastagem e diminuir a silagem de milho, mais cara. Outro ponto é o manejo das vacas em final do ciclo de lactação. Essas, por produzirem menos, não recebem a mesma alimentação farta.
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Hammel não enfrenta um problema comum nas pequenas propriedades. A mulher ajuda nas tarefas e o filho de 22 anos voltou para casa depois de se formar como técnico agropecuário e em gestão ambiental.
– Melhorou 100% depois que ele voltou – alegra-se.
Hammel não cogita abandonar a pecuária leiteira. Gosta do que faz. E a atividade é lucrativa. Investiu em uma nova sala de ordenha, animais e equipamentos.
A contratação de um consultor privado também impulsionou os negócios. Com os ganhos, foi possível até melhorar a casa onde a família mora. Além da criação, planta soja e um pouco de milho, parte para silagem. Nos arredores, admite ele, estar satisfeito com a produção de leite é uma raridade. Muitos vizinhos falam em largar o tambo. O segredo, avalia, é caprichar na gestão:
– Se não for bem organizado, fica sempre no vermelho.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Alexandre Guerra, também receia que as dificuldades no setor causem um problema social, mas faz uma ressalva. Embora o levantamento mostre que o número de criadores e de animais diminuiu, também apontou que o rendimento por vaca subiu 7,58% e, por propriedades, 24,91%. Maior produtividade, observa, é imperioso quando há necessidade de concorrer de forma global.