A comunicação do campo com a cidade foi o tema discutido na Casa RBS no primeiro dia da 40ª Expointer, no Parque Assis Brasil, em Esteio. Durante o Campo em Debate, promovido por Zero Hora e Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) foram apontados os principais caminhos e desafios para aproximar e melhorar a relação do homem do campo e o da cidade.
O evento foi mediado pela colunista e editora do Campo e Lavoura, Gisele Loeblein. Vice-presidente de integração da Federasul, Rodrigo Sousa Costa disse ser significativa a importância de participar de um debate que traz a realidade do campo que produz para o cidadão urbano. Diretor de Jornalismo do Grupo RBS, Marcelo Rech destacou que a discussão realizada na mostra internacional contribui para que o tema seja discutido por toda a sociedade.
– A cidade tem que aprender com o campo. Isso é de extrema relevância para nós que trabalhamos no setor de comunicação e para quem de uma forma ou de outra convive ou tem relação com o agronegócio – disse Rech.
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Durante quase uma hora e meia de debate, os especialistas em comunicação avaliaram o atual cenário da relação entre o a cidade e o campo. O editor-chefe do Globo Rural, Humberto Pereira, disse que no mundo de hoje nenhuma atividade ou entidade pode se fechar em si e não se mostrar para a sociedade, como o homem do campo fez no passado.
– O que acontece na fazenda não está mais isolado. De 40 anos para cá, a evolução do campo é pautada pelo desenvolvimento das comunicações. Hoje, quem está no campo convive com as mesmas tecnologias e ferramentas da cidade, e entende a cidade. O agricultor não depende mais daquele jornal de associação que chegava atrasado, passou a era do rádio e da TV e já chegou a internet e tem acesso. Agora o homem da cidade não tem total entendimento do que o campo é para ele – afirmou.
A trajetória de 38 anos do programa Globo Rural, exibido pela TV Globo, foi citada como exemplo de pioneirismo na comunicação por ter colocado o homem do campo como protagonista em rede nacional. Um dos exemplos mais recentes é a campanha "Agro: a Indústria-riqueza do Brasil", da qual Pereira é curador, que visa promover o setor e mostrar a sua relação com os moradores das metrópoles. Se por um lado, ela mira o agricultor para valorizar e dar visibilidade ao trabalho nas propriedades, de outro quer conscientizar o urbano da interferência do campo no seu dia a dia – desde quando abre a geladeira, passando pelo papel higiênico e até ao guarda-roupa, explicou Pereira.
Para o coordenador do núcleo de negócios da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), José Luiz Tejon Megido, apesar do avanço da comunicação nas últimas décadas ainda são muitos os desafios nesta relação entre campo-cidade e cidade-campo.
- A grande luta da próxima década é a luta por percepção. Vamos viver uma guerra porque ainda existe essa distancia de como o produtor se enxerga e como a cidade o vê - diz Tejon.
Para 86% da população urbana, o agronegócio é muito importante, indica pesquisa da ESPM-SP. O agricultor também está entre entre as cinco profissões mais importantes. Mesmo diante desse cenário, pesquisas mostram que o homem da cidade desconhece informações essenciais da atividade, como por exemplo a importância de adubos, fertilizantes, água e elementos que a produção. Desmistificar aquela velha imagem de um agricultor "chorão" e "vitimizado", diz Tejon, também é um dos pontos a serem conquistados pelo setor nos próximos anos.
- O principal desafio é de entender a importância de seu papel na sociedade e que vai além da relevância econômica e passa também pela questão de sustentabilidade e de saúde da população - afirma Tejon.