O consumo per capita de arroz no Brasil era de 45,1 quilos em 2000. Ficou relativamente estável nos anos 1980/1990. Mas a partir de 2000, em queda constante, caiu para a média atual de 36 quilos ao ano. Com o feijão ocorre situação similar: o consumo per capita - que nos anos 1980 era de 25 quilos - caiu de 18 quilos em 2000 para 15,5 quilos, desconsiderando-se aqui 2016, cuja forte quebra na safra provocou explosão inédita dos preços.
O Brasil é o maior consumidor de arroz e feijão dentre os grandes países da América Latina. Cuba se destaca, com 11 milhões de habitantes e consumo per capita de 90 quilos de arroz. Sobre os benefícios nutricionais da típica mistura brasileira é desnecessário comentar: há centenas de estudos que atestam os ganhos da combinação de aminoácidos que formam uma proteína de alta qualidade, dentro diversos outros. E mais saudáveis se consumidos juntos, em vez de separados.
Mas, então, qual o porquê dessa queda? No Brasil, assim como vem ocorrendo em outras economias emergentes, os hábitos alimentares mudaram radicalmente nas últimas décadas. E para pior! "Junk food" (ou comida lixo), uma expressão pejorativa entrou em nosso vocabulário, com o avanço do consumo de gorduras, sódio em excesso, frituras, salgadinhos, biscoitos, e por aí vai. No entanto, a explicação está também em outra constatação, que não tem relação com a tal "junk food".
O consumo de proteínas no Brasil cresce na mesma proporção em que cai o de arroz e feijão. De 2000 até agora, o consumo per capita de frango deu um salto de 30 para 45 quilos per capita ao ano; o de ovos subiu de 90 unidades/habitante/ano para 200. A demanda per capita anual de lácteos (leite, iogurtes, queijos, etc.), considerando a equivalência em leite, saltou de 118 litros/habitante, para 178 litros. Exceção para carne bovina, a preferida dos brasileiros nas pesquisas do IBGE, cujo consumo caiu do pico de 46 quilos/habitante em 2006, para 36 quilos. Com preço mais competitivo, o frango conquistou espaços deixados pela carne bovina.
O fato é que o avanço do consumo de proteínas também acabou impactando na demanda da dupla arroz e feijão. Essas duas cadeias produtivas não devem "jogar a toalha". Especialmente para o arroz, campanhas têm sido organizadas para elucidar os benefícios do consumo. É preciso persistência e determinação, pois os resultados virão. Basta olharmos para os alimentos que foram sendo "absolvidos" da lista de vilões, após campanhas embasadas em pesquisas científicas confiáveis, como o próprio ovo, a manteiga e o frango - que não têm hormônios!
Carlos Cogo é consultor em agronegócio, especializado em análises,tendências e estatísticas dos mercados agrícolas
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