Município que mais produz kiwi no Brasil, Farroupilha luta contra uma doença que ainda não tem cura conhecida e pode ameaçar a continuidade da cultura. Provocada pelo fungo Ceratocystis fimbriata, a enfermidade leva à morte kiwizeiros em poucos meses. Embora os sintomas tenham sido relatados a partir de 2008, há produtores que percebem queda das folhas e murchamento dos frutos há aproximadamente 15 anos. Mas foi na safra 2012/2013 que a praga provocou o maior estrago
Em alguns pomares, agricultores perderam quase 60% da produção. A exemplo do ocorrido na safra passada, a estimativa para 2014 é de quebra. A colheita começa a partir da metade de março e segue até a primeira semana de maio. A cultura foi introduzida em Farroupilha em 1989, como alternativa à uva, que estava em crise, e hoje é responsável por cerca de 40% da produção da fruta no Brasil.
Para resolver o problema, produtores, prefeitura, Emater e entidades ligadas à agricultura procuraram a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Uva e Vinho, de Bento Gonçalves. Desde então, técnicos e agrônomos orientam os agricultores.
- Procuramos a Embrapa, a Fepagro, a UFRGS e a UCS. O que mais nos preocupa é que os pés vão morrendo anualmente, aí o pessoal corta fora, replanta, e o produtor se desestimula. Daqui a pouco, vai plantar outras coisas. E, de uma forma ou outra, tem queda da produção, porque não é o pomar todo que está produzindo. Temos que combater urgentemente essa doença, senão no futuro não vai mais ter kiwi no Brasil - diz o secretário da Agricultura de Farroupilha, Fernando Silvestrin.
Origem da praga pode ser um lote adquirido em São Paulo
Foto: Roni Rigon
Como a Embrapa Uva e Vinho nunca havia pesquisado a doença, foi iniciado um levantamento em 2013. Em visitas a cinco propriedades, os pesquisadores coletaram plantas. Análises em laboratórios confirmaram o fungo que provoca a morte dos kiwizeiros. Em 2014, o levantamento terá sequência em mais 15 propriedades, e produtores serão entrevistados para verificar que práticas estão adotando. A partir disso, será elaborado um projeto de pesquisa multi-institucional que tentará solucionar também os principais gargalos do cultivo.
- A gente passa a pesquisar formas de controlar a doença. Não se sabe ainda qual o produto químico mais indicado, qual a melhor forma de controle. Não temos essa informação - comenta o pesquisador em Fitotecnia da Embrapa Uva e Vinho, Samar Velho da Silveira.
A pesquisa pretende identificar meios de controle não só químicos, mas também biológicos. Uma dos hipóteses é de que a doença possa ter entrado na Serra em um lote contaminado de mudas adquiridas em São Paulo. O viveirista em questão produzia também mudas de eucalipto. Como essa árvore é afetada, os produtores imaginam que o fungo passou das mudas de eucalipto para as de kiwi. Atualmente, 70% do kiwi consumido no Brasil é importado, especialmente de Itália, Nova Zelândia e Chile. O fruto é originário da China.
Os primeiros sinais de que algo estava errado com os kiwizeiros na Serra surgiram para o produtor Claudino Contini há cerca de 15 anos, no interior de Farroupilha. Mas ele não sabia o que levava as plantas a perder as folhas e fazia murchar os frutos. Desde então, mil pés tiveram de ser replantados, em substituição àqueles que morreram. Cercado de mais informações, foi somente no ano passado que Contini passou a adotar os cuidados para evitar que o fungo agora identificado dizimasse ainda mais a plantação.
Da turma dos pioneiros no cultivo do kiwi, Contini, 71 anos, sentiu de forma mais intensa o poder da doença na safra 2012/2013: perdeu 500 das cerca de 2,8 mil plantas. A morte dos pés reduziu a produção em 20%. Os Contini devem obter 40 toneladas da fruta neste ano, mas poderiam colher 30 toneladas extras. Além do fungo, o frio fora de época no ano passado deverá reduzir a produção.
- Tem gente que está largando a cultura por causa da doença. Isso é ruim, não podemos deixar a fruta desaparecer. É um produto nobre - justifica Contini.
Nova quebra de safra neste ano
A produção da fruta em Farroupilha registrou queda de 55% na safra passada e deve ter mais perdas no atual ciclo. Das 1,8 mil toneladas previstas para o ciclo anterio foram obtidas apenas 800 toneladas. No entanto, o agrônomo do escritório municipal da Emater, Alfredo Gallina, não credita à praga a principal causa da quebra nesta temporada.
- A doença influencia, mas não é a causa principal. Mas se não se fizer nada em relação à doença, ano após ano as perdas vão crescer em progressão geométrica - alerta Gallina.