Mais da metade das brasileiras não consegue chegar ao orgasmo durante o sexo. A informação é resultado de um estudo do departamento de Transtornos Sexuais Dolorosos Femininos da Universidade de São Paulo (USP), realizado em 2020 – especificamente, 55% delas afirmam não alcançar o ápice do prazer. Porém, segundo a psicóloga e sexóloga Lina Wainberg, talvez não seja bem assim.
— Muitas dizem que não têm orgasmos, mas na realidade não fazem uso do estímulo clitoriano. Isso acontece por vários motivos: falta de conhecimento do próprio corpo, achar que não é correto por acreditar que deva vir da penetração... Em relacionamentos heterossexuais, ainda há homens que não sabem lidar (com o estímulo do clitóris) por se sentirem dispensáveis. O número acaba diminuindo bastante se considerarmos tudo isso — pontua ela.
Além disso, Lina afirma que muitas mulheres que dizem chegar ao orgasmo apenas com a penetração, na verdade, tiveram o clitóris estimulado de forma indireta, normalmente pela posição sexual. Mas, à parte destas considerações, existem alguns fatores que podem explicar a dificuldade que muitas ainda encontram na hora de aproveitar o prazer ao máximo. Confira:
Áreas a explorar
Uma questão simples é encontrada na anatomia, como lembra Lina:
— Os homens têm o órgão sexual externo. Então, pela naturalidade do corpo, exploram mais o toque, mesmo sem querer, seja para urinar, para arrumar dentro da cueca. Como a mulher tem o órgão sexual interno, tem menos acesso — compara.
Menos estimuladas
Quem nunca ouviu um "tira a mão daí"? O fator cultural é determinante para que muitas mulheres não experimentem os prazeres sexuais. Conforme afirma a sexóloga, elas são desestimuladas desde cedo a explorar o próprio corpo. Por conta disso, é natural que demorem mais tempo para descobrir o prazer no toque.
Falta de fantasia
O orgasmo, na verdade, é uma resposta espontânea a dois tipos de estímulos: físico e mental, e esse último inclui tanto o afeto quanto a fantasia, frisa a sexóloga. Neste ponto, as mulheres, de modo geral, também não são tão incentivadas a explorar seu mundo de fantasia erótica.
— Os homens passam por uma série de recursos, como revistas e pornografia, em que são mais estimulados. Para eles, é mais normalizado falar sobre isso, a temática é mais permitida e provocada. Enquanto as mulheres fazem um caminho mais envergonhado, culpado e constrangido — reflete.
É comum que as pessoas pensem que as fantasias sexuais representem algo sobre elas, o que não necessariamente é verdade.
— Às vezes, nos sentimos constrangidos ao perceber que nos excitamos com algo que não colocaríamos em prática ou não nos orgulhamos. Mas temos que ter a consciência de que as fantasias não representam o que a gente é. Quando nos autorizamos a não podar tanto o pensamento, nos permitimos um nível de excitação maior no caminho para o orgasmo — resume a sexóloga.
Estresse afeta a todos
Trabalho, demandas, prazos. Homens e mulheres sentem os efeitos do estresse na libido.
— A diferença é que, como eles têm esse caminho mental para o erotismo mais acessível, talvez consigam mais rapidamente se afastar dos empecilhos — afirma Lina.
As mulheres também costumam ser mais ensinadas a vincular a intimidade ao desejo sexual. Se há uma conflitiva emocional no relacionamento, por exemplo, pode ser que elas se afetem de forma mais significativa.
Baixa autoestima
Outro fator determinante para o orgasmo é a autoestima. Sabemos que as mulheres (ainda) sofrem mais com a pressão estética - e, consequentemente, são mais insatisfeitas com o próprio corpo. Mas por que isso atrapalha o prazer sexual?
— Porque ela não se solta. Por não se sentir à vontade com aquele corpo, não usufrui da sexualidade com leveza, soltura, desinibição — explica a sexóloga.
Multifatorial
Por fim, a especialista reflete que a palavra que define o orgasmo feminino não é "complexo", mas sim "multifatorial". E faz um lembrete importante às mais velhas:
— As mulheres não perdem a capacidade de ter orgasmo (ou multiorgasmos!) com o envelhecimento. Isso se mantém a vida toda.
Bora treinar?
Questionada se existe algum exercício ou técnica que possa ajudar a bloquear o que está fora da cama na hora do sexo, Lina prontamente sugere a prática de exercícios para a manutenção da saúde do assoalho pélvico, o que mantém a região mais irrigada (fundamental para a excitação e, consequentemente, o orgasmo).
*Produção: Luísa Tessuto