Nas últimas décadas, Nathalia Dill foi uma figurinha marcante na televisão brasileira. Seja como heroína ou vilã, a atriz conquistou o público com suas personagens cativantes em diversas novelas ao longo de uma carreira que já soma 19 anos.
Após cinco anos longe da TV, a carioca de 38 anos retornou em grande estilo como Vênus, uma das protagonistas de Família é Tudo, novela da faixa das 19h. Ela, inclusive, destaca a importância de compartilhar histórias sobre as diferentes estruturas familiares:
— Não é só porque é seu irmão, que você tem que amar incondicionalmente. A novela fala como isso é um exercício diário. A gente tem que batalhar e se dedicar para irmandade também. Se a gente não rega, ela não floresce.
Sinto que há uma novidade em tudo
NATHALIA DILL
O tempo que ficou afastada da atuação foi para se dedicar à maternidade. Se tornar mãe de Eva, hoje com três anos, fruto do seu casamento com o músico Pedro Curvello, enriqueceu, segundo Nathalia, o seu ofício como atriz, trazendo novas camadas de sentimentos para seus papéis:
— Nunca fiz uma novela sendo mãe. É diferente. Atuar é um reflexo da nossa existência, logo quanto mais rica for a minha existência, mais rica vai ser a minha atuação.
Seu retorno à telinha não se restringe apenas a Família É Tudo. Em Guerreiros do Sol, novela prevista para estrear em 2024 no Globoplay e na TV aberta em 2025, ela interpretará Valiana, uma mulher que enfrenta um câncer de mama, cuja história promete inspirar e emocionar:
— Foi uma oportunidade de fazer o paralelo entre a doença e o papel da mulher na sociedade de cem anos atrás. Com exceção da tecnologia, poucos pontos mudaram para a mulher.
Para Nathalia, cada papel é uma jornada de descobertas, que alimenta a sua evolução artística, mas ela leva em consideração, também, olhar ao redor na hora de compor uma personagem:
— Enquanto fazia Valiana, a Preta Gil foi abandonada pelo marido. Então, para mim, foi muito forte perceber que estava acontecendo a mesma coisa cem anos depois.
Em conversa com Donna, a artista compartilha mais sobre os desafios da atuação, relembrando sua trajetória na TV, o desejo de explorar novos horizontes e a experiência na maternidade.
Confira a entrevista com Nathalia Dill
Sua última novela foi A Dona do Pedaço (2019). Como foi voltar a fazer folhetins depois desse tempo?
É muito gostoso e ao mesmo tempo são fortes emoções. Fazer novela é o único trabalho que a gente entra sem saber onde vai dar. Em um filme, você leu até o final, já sabe a história. Então entrar em um projeto, como ator, sem saber onde vai dar, é muito desafiante.
Como tem sido protagonizar Família é Tudo?
Vênus é o coração daquela família. Ela consegue se conectar profundamente com cada irmão, que são muito diferentes entre si. É uma família fora do padrão e é legal falar disso, que não existe fórmula, mas a única coisa certa é o amor, de querer estar unido.
Como é a sua relação com o público?
Quando fui renovar a carteira de motorista, uma pessoa me parou para comentar sobre os meus irmãos na novela e de como ela chega em casa correndo para ligar a TV e assistir à novela. É muito legal isso. Quando fiz Avenida Brasil (2012), as pessoas também faziam a mesma coisa. Novela é uma característica muito nossa e as pessoas se identificam. É bobo colocar que é uma arte menor, tem lugar para todo mundo.
Qual é o seu critério na hora de escolher um papel?
Após passar por uma maternidade e uma pandemia, fiz uma reflexão sobre o que queria falar, as pautas que queria abordar e personagens que desejava fazer, entre outros assuntos. Tive um grande processo de ler artigos, conversar com amigos, de perceber as mudanças no mundo e de me entender. Os papéis que estão sendo feitos já estão sendo elaborados com outra dinâmica que não é a mesma de anos passados. É um discurso mais consciente, isso é muito legal.
Quais foram as personagens que mais lhe marcaram?
A Débora de Malhação (2007) foi uma grande virada na minha carreira. Até então, só tinha feito teatro e filmes pequenos. Foi um grande aprendizado no audiovisual e na sua logística de filmagem. A Débora era uma vilã com um colorido forte, tinha uma comédia e uma vilania. Logo depois, fiz a Santinha em Paraíso (2009), que era totalmente o oposto do que tinha vivido e fazer esse contraponto foi muito importante. Gosto também de Branca, de Liberdade, Liberdade (2016), que era uma vilã cômica, então sempre que dá para colocar algo cômico, atinge mais as pessoas.
Você tem preferência por algum gênero na hora de atuar?
Apesar de não ser comediante, gosto de fazer comédia, pois ela é muito concreta: ou você acha engraçado ou não. É uma forma de deixar as personagens mais plurais. Em Liberdade, Liberdade, a Branca não era engraçada, mas se colocar a comédia no tempero certo, vem um colorido diferente. A comédia se dá pela situação.
Família é Tudo é a sua primeira novela após a maternidade. O que isso pesa para você?
Ser mãe me deu uma paleta mais colorida para atuar, de sentimentos, reações, sensações etc. E tem outra parte que é o tempo de não fazer tudo o que a gente gostaria. É muito cruel falar que dá para fazer tudo, mas alguma coisa vai faltar.
Ser mãe me deu uma paleta mais colorida para atuar
NATHALIA DILL
Você conta com alguma rede de apoio?
Tenho sorte de ter pessoas que trabalham comigo, que fazem parte da dinâmica, mas também tenho meus pais por perto. Já me falaram do “tempo de qualidade” com os filhos, de quando você estiver com eles, precisa estar 100% presente. Esses dias, tive duas horas para ficar com a Eva antes de ir trabalhar, então fui lá acordá-la e ela me falou “Mamãe, hoje quero acordar sozinha”. E aí faz o quê? Só esqueceram de me avisar quando ela não quiser ficar comigo (risos).
Você tem sido a mãe que idealizava ou teve que reavaliar alguma coisa?
Não existe você ser a mãe que idealizou. Ter muita certeza nunca é o caminho. Mesmo trabalhando ou estudando, sempre tem alguma dúvida em relação a algo, e a maternidade é a mesma coisa. Adoro aquela frase “Na prática, a teoria é outra”. Você não vai conseguir executar o que planejou, mas, ao mesmo tempo, vai ser o melhor que conseguiu e vai ser melhor do que foi antes.
Quais são os cuidados que você tem com o corpo, a beleza e a mente?
Desde a adolescência, tenho muitos problemas de espinha até hoje. Então estou sempre lutando contra isso. Faço terapia, que é um lugar onde você consegue elaborar as coisas. E de corpo, já fiz tudo que é aula que você possa imaginar (risos), mas a verdade é que agora estou querendo ser mais autossuficiente, então gosto de malhar sozinha. Tenho um professor que me auxilia, mas é questão de rotina, de não precisar me prender a horários.
Quando não está gravando novela, nem está com a família, o que você gosta de fazer?
Estou sempre indo ao teatro, que é onde a novidade pulsa, sempre tem alguma coisa para trocar ali. Também vejo os amigos, faço algum curso, leio coisas variadas. Tenho interesse também de voltar para a faculdade de Direção Teatral.
Como você está se sentindo neste momento? O que está no seu horizonte profissional?
É um momento de renovar os votos com tudo: com o trabalho, com a vida, o dia a dia. Sinto que há uma novidade em tudo. Tem o fato de ter tido um período maior fora do ar e voltar em uma novela, tem também Guerreiros de Sol, que toca num tema novo, escrito por George Moura, com quem nunca tinha trabalhado antes. A maternidade também é uma coisa nova para mim. Sinto um ar de renovação em todos os aspectos.