As personagens cômicas que são as favoritas de Juliana Paiva agora dão espaço para uma complexa ex-presidiária, disposta a provar que foi condenada por um crime que não cometeu. O desafio atual da carioca é dar vida a Electra, uma das protagonistas de Família é Tudo, nova novela das sete da TV Globo. A trama, criada e dirigida por Daniel Ortiz, vai ao ar a partir do dia 4 de março, substituindo Fuzuê.
A obra marca o retorno da artista de 30 anos às novelas desde que pôs fim aos 13 anos de contrato de exclusividade com a emissora, em 2022. Em uma nova fase, com mais liberdade para se experimentar em outros formatos, aproveitou para interpretar uma cirurgiã na série médica Sutura, do Prime Video, e também atua em uma produção da Netflix, a terceira temporada de De Volta aos 15. Enquanto aguarda a estreia desses projetos, Juliana comemora o reencontro com o público da TV aberta.
— É um momento bom de carreira. Por estar num contrato por obra, pude, no intervalo entre uma novela e outra, aprender a fazer série, algo que nunca tinha feito antes e que foi muito legal. Acho que este é um ano de colher frutos que foram plantados no ano passado e também de reencontrar com o público que estava saudoso das novelas — destaca.
A conversa com Donna, por telefone, é direto da sua casa no Rio de Janeiro - as gravações estão se dividindo entre a capital fluminense e São Paulo. Em termos de personalidade, a mulher da vida real está no polo oposto da personagem, garante Juliana. Ela se define como alguém que gosta de trazer alegria, fazer rir, e que tem sempre que fazer o meio de campo entre um “coração mole” e uma “cabeça mais racional”.
— Sou do signo de áries com ascendente em câncer, então tenho toda a coragem e a força de vontade do ariano, mas também sou super família, amiga para todas as horas. Estou sempre pensando em levar alegria, porque acredito que a gente está aqui para trocar amor, qualquer coisa fora disso é ir contra o fluxo do nosso propósito aqui na Terra — confia.
A carioca está na telinha desde a adolescência, quando fez uma participação em Viver a Vida (2009), ao lado de José Mayer e Taís Araújo. Em quase 15 anos, deixou sua marca em produções como Malhação (2012), Totalmente Demais (2015), O Tempo Não Para (2018) e, mais recentemente, Salve-se Quem Puder (2020). Agora, mais experiente, a artista reflete sobre as ferramentas que foi adquirindo ao longo do caminho e sobre o que as três décadas de vida representam na vida da mulher.
Confira a entrevista com Juliana Paiva
Você e Electra se assemelham?
Não, somos totalmente opostas. É uma temperatura de personagem que eu ainda não tinha feito. Electra ficou presa por cinco anos por um crime que não praticou e que pôs fim a uma relação que adorava e a uma vida cheia de possibilidades, então ela vai em busca de justiça.
Também há todos os desdobramentos, porque depois da prisão, não é bem assim para retomar a vida. As relações se perderam, é mais difícil encontrar trabalho, etc. O mais intenso e perturbador na história dela é que é algo completamente passível de acontecer. Então torço para que traga um pouco de reflexão sobre um tema que não paramos muito para pensar.
O que espera em termos de repercussão com esta personagem?
Que o público mergulhe junto com ela, num lugar de empatia e reflita: e se fosse com alguém que você ama? Será que você seria capaz de ir contra todas as provas e tentar enxergar aquela pessoa de fato, ou você se deixaria levar? E até onde uma busca por justiça se confunde com uma vingança?
Arlete Salles vai interpretar irmãs gêmeas que serão a avó e a tia-avó da sua personagem. Como está sendo trabalhar com ela?
É maravilhoso porque cresci vendo Arlete em cena e, agora, poder estar em cena olhando nos olhos, criando com ela, é um grande privilégio e fico muito honrada. Ela também tem o desafio de interpretar duas personagens em uma novela pela primeira vez, um exercício maravilhoso com o qual ela está muito feliz, então é muito gostosa essa troca.
A personagem Fatinha, de Malhação, foi um sucesso e um marco na sua carreira. O público ainda fala dela para você?
Sim, lembram demais da Fatinha, acho que marcamos uma geração com essa Malhação, o público tem muita memória afetiva. E para a gente que fez, foi muito legal também. Eu tinha 18 anos quando fiz essa personagem e tenho amigos frutos desse trabalho até hoje.
Quando a vida profissional fica mais densa, quais são os seus cuidados com a saúde mental?
Ter uma rede de apoio é importante e fundamental para mim. Chego em casa, vejo algum filme leve, busco estar com meu namorado (o empresário Danilo Partezani), minha mãe e meus amigos. É sobre descobrir onde posso recarregar as minhas baterias, aproveitar os dias de folga e fazê-los render. Ou não. Também é sobre ficar jogada vendo filme e tudo certo. E graças a Deus, sou fruto de uma família que sempre deu asas aos meus sonhos e esteve presente em qualquer questão minha.
Como se interessou pela atuação?
Quando tinha 10 anos, a minha família foi morar em Fortaleza, onde comecei a fazer teatro com o diretor Marcelino Câmara. Eram peças com bilheteria e tudo, que foram me introduzindo à atuação, até que o bichinho da arte me mordeu e não soltou mais.
Também era muito assediada por agências, desde pequena, mas meus pais me seguraram muito, especialmente meu pai (Gilmar dos Santos, morto em 2019) que foi modelo nos anos 1980 e conhecia esse universo. Como queriam que eu tivesse uma cabeça legal para entender o que estava acontecendo, essa brincadeira só ficou mais séria quando completei 15 anos.
Teve outros planos para sua vida, além de ser atriz?
Desde nova, me sentia muito bem em cena e continuei atuando. Mas para ter um plano B, fiz faculdade de Publicidade e Propaganda. Meus pais sempre falaram “enquanto seu olho brilhar está tudo certo, senão a gente está aqui e traça novos planos”. Então tudo que fiz na carreira foi por sentir que estava fluindo, fazendo sentido para mim e me realizando. E continuou assim até os dias de hoje.
Para a mulher, os 30 anos são um momento de olhar para si e se curtir na sua individualidade, fazer menos comparações
JULIANA PAIVA
Você tem algum estilo de atuação preferido?
Eu amo fazer comédia, mas, mais do que tudo, gosto de humanizar a personagem. Também acho que personagens dramáticos falam mais diretamente ao coração do público. Em todas as vertentes, sempre busco ir na linha da verdade, pensar que aquela pessoa existe.
Então é muito bom quando você enxerga que está chegando até o telespectador, que ele está gargalhando ou se emocionando profundamente com você. O que mais me motiva é essa parte social, de poder falar com o público de A a Z, de representar pessoas que vão se reconhecer através do meu trabalho.
Os 30 anos também têm sua carga, seu significado. Como foi para você?
É um pouco esquisito porque parece que tudo passou muito rápido, mas, ao mesmo tempo, é só um número. A jovialidade está na nossa cabeça, na forma como a gente encara a vida. E hoje os 30 são os novos 20, os 40 são os novos 30 e assim por diante.
E como lida agora com a questão do corpo e das cobranças estéticas?
É muito legal a fase que estou vivendo. Para a mulher é um momento de olhar para si e se curtir na sua individualidade, fazer menos comparações. Isso porque a gente já passou por várias coisas até chegar aos 30, já se investigou, se conheceu, entendeu do que gosta ou não gosta, o que busca e aceita nas relações e também o que não quer mais viver.
É um processo de autoconhecimento valioso. Me vejo mais dona de mim neste momento, me curto e me respeito mais, e aprendi que a saúde mental e a física têm que estar em dia para ajudar nos desafios da rotina.
Tem algum ritual de autocuidado?
Para a saúde física, tenho um personal trainer que já está comigo há alguns anos, fazendo treinos de funcional e musculação. E também faço dança com o (coreógrafo) Justin Neto, que é maravilhoso. Esses dias estava cansada, tinha gravado o dia inteiro embaixo de sol, disse para ele “Justin, eu estou só o pó”, mas ele disse “vem que vai ser divertido” e aí fiz uma aula muito gostosa.
É muito bom quando você enxerga que está chegando até o telespectador, que ele está gargalhando ou se emocionando profundamente com você.
JULIANA PAIVA
Quem é a Juliana fora de cena? Tem um hobby secreto?
Eu aprendi a tocar ukulele, ganhei um do (ator) José Condessa quando estávamos gravando juntos Salve-se Quem Puder. Eu gosto de ler, assistir filmes, dançar, e, se deixar, fico ouvindo música 24 horas por dia. Eu adoro ouvir rádio e ser surpreendida por uma canção que está tocando e que, às vezes, tem tudo a ver com o momento de vida que você está passando.
Você está namorando há pouco mais de um ano. Como foi este encontro com o Danilo?
A gente não mora junto, mas me dedico a essa relação, até porque nossa rotina é complicada. É um parceiro compreensivo, que me ajuda, decora os textos comigo. Buscamos ter tempo de qualidade.
Na vida pessoal, para qual futuro você está olhando?
Quero viajar, mas ainda não sei para onde. Ano passado foi intenso em termos de trabalho, então estou precisando dar uma renovada com umas férias legais. E também seguir conduzindo a minha vida da forma que acredito, sendo feliz, fazendo o que gosto com as pessoas que amo do meu lado.