Foi ela a responsável por uma verdadeira revolução na sexualidade das mulheres. Após sua invenção, elas puderam, pela primeira vez, controlar quando queriam engravidar, feito que fez toda a diferença para a independência feminina.
Da década de 1960 para cá, a pílula anticoncepcional sofreu diversas modificações, mas ainda é o método contraceptivo mais utilizado no Brasil. Conforme pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos no ano passado, 58% das mulheres são adeptas.
E, mesmo com tamanha adesão há tantos anos, algumas dúvidas persistem – desde o horário certo para a ingestão até as possíveis consequências do uso a longo prazo. O guia a seguir, elaborado a partir da contribuição das ginecologistas Cristina Helena Luz Grecco, Suelyn Portalupi e Jéssica Zandoná, busca esclarecer as questões mais comuns sobre o anticoncepcional oral combinado. Confira!
Eficácia
Ainda que seja segura, a pílula não é o contraceptivo mais eficaz de todos. Os métodos irreversíveis, como a laqueadura, e os reversíveis de longa duração têm taxa de falha menor (os DIUs, por exemplo, têm, em média, menos de 1%).
A chance de fracasso da pílula pode variar. No chamado "uso perfeito", quando é feito exatamente o indicado na bula, a taxa de falha é de 0,3%. Já no "uso típico" ou habitual, podem ser cometido erros. Neste caso, o índice pode chegar a 8,7%.
Corta o efeito
Outra dúvida comum é sobre os fatores que podem cortar seu efeito. Embora os antibióticos sejam os medicamentos mais temidos, os únicos realmente associados à diminuição da função da pílula são os administrados no tratamento de tuberculose, segundo as especialistas.
Além deles, alguns antirretrovirais, como o ritonavir, usados por pacientes com HIV, anticonvulsivantes, antipsicóticos, medicações usadas para controle do apetite, como o topiramato, e o antifúngico griseofulvina podem interagir com o anticoncepcional e reduzir sua eficácia.
Vômitos ou diarreias até quatro horas após a ingestão da pílula, pontuam as médicas, também podem interferir no desempenho. Caso isso aconteça, a recomendação é ingerir uma nova pílula associada a algum método contraceptivo de barreira, como o uso de preservativos, para evitar gravidez indesejada.
E quem gosta de curtir bons drinks pode ficar tranquila: bebida alcoólica não corta o efeito da pílula (a não ser que seja consumida em grande quantidade e cause vômito).
— O maior hábito que pode cortar realmente o efeito é não tomá-la da maneira correta. E, acredite, isso costuma ser habitual — alerta a ginecologista Cristina Helena.
No mesmo horário
Sim, é fundamental tomar a pílula sempre no mesmo horário, alertam as médicas. Além de diminuir a chance de esquecimento, esse hábito tem outras funções funções relevantes.
— Se ficar mudando o horário da ingestão da pílula, pode haver desequilíbrio, uma flutuação nos níveis hormonais, e ela pode não ser suficiente para manter a ovulação bloqueada, que é o mecanismo de ação da pílula — explica Jéssica.
Esqueceu de tomar? Calma: se o atraso for de até três horas, o impacto tende a não ser grande. Já em atrasos superiores a 12 horas, há redução substancial da eficácia da pílula. A indicação do que fazer nesses casos consta na bula de cada medicação, ensinam as profissionais.
Além de aumentar a chance de falha, o período sem hormônios também pode desencadear escapes menstruais. Em resumo, quanto mais a paciente conseguir respeitar o horário para a ingestão da pílula, melhor.
Por fim, é importante ressaltar que a variação da eficácia decorrente do atraso varia de acordo com a pílula. Portanto, é essencial o acompanhamento médico.
Contraindicações
A pílula oral combinada (estrogênio e progesterona) é indicada para mulheres sem contraindicações formais, que queiram um método contraceptivo e que se considerem aptas a fazer o uso correto, sem esquecimento, ainda de acordo com as médicas. Quem já teve câncer de mama, enxaqueca com aura ou com histórico de eventos tromboembólicos, como infarto, AVC e trombose, não deve fazer uso.
— O ideal é sempre passar por uma avaliação completa com seu ginecologista, que saberá indicar qual o melhor método para cada pessoa — frisa Suelyn.
A ginecologista Cristina Helena reforça:
— Cada mulher deve ser vista como um todo. Indicar ou não o uso vai variar de acordo com a história de vida e de saúde.
A ginecologista Jéssica lembra que existem ainda os "benefícios não-contraceptivos" da pílula, relacionados à menstruação e aos hormônios. Ela cita a diminuição do fluxo menstrual, da intensidade das cólicas e do surgimento de acne e oleosidade na pele, além da amenização dos sintomas da TPM.
A longo prazo
Não tem problema algum usar a mesma pílula anticoncepcional por muitos anos, desde que seja por indicação e com acompanhamento médico especializado, garantem as médicas. Acontece que as condições de saúde e eventuais necessidades podem mudar com a idade e, por isso, é recomendado que se faça uma reavaliação de tempos em tempos.
Mas fique tranquila: desde que você esteja usando de forma correta, a pílula segue funcionando.
— Em time que está ganhando não se mexe. Então, se está bem adaptada e satisfeita com o método, sem efeitos colaterais, preferimos mantê-lo — diz Jéssica.
Sem pausa
Buscando a possibilidade de não menstruar, muitas mulheres optam por "emendar as cartelas das pílulas", sem fazer a pausa entre elas. A conduta pode ser adotada, desde que se tenha acompanhamento profissional.
— A eficácia é a mesma, os riscos são iguais e a questão do sangramento é uma opção. Sangrar ou não é uma escolha de cada paciente. Eu uso muito a frase "meu corpo, minhas regras" no consultório — opina Jéssica.
Diminuição da libido
Estudos mostram que uma pequena parcela das mulheres são mais sensíveis à queda da testosterona livre que o contraceptivo oral combinado pode causar. Assim, é possível que algumas percebam uma diminuição do desejo sexual. Porém, isso não quer dizer que há necessidade de abandonar ou mudar o método contraceptivo.
— O hormônio é só uma pequena porção de muitas coisas que interferem no desejo e na resposta sexual da mulher. Isso precisa ser avaliado de forma individual, avaliando todos os outros fatores que interferem. Muitas vezes, trocar (a pílula) por um método no qual a paciente menstrue todo mês e não tenha um bom controle da cólica ou dos sintomas de TPM também pode ter efeito negativo na sexualidade — alerta Jéssica.
*Produção: Luísa Tessuto