A vontade de tomar aquele vinhozinho quando a temperatura cai é uma realidade para muitas pessoas. Mas, junto com o desejo pela bebida, vêm as dúvidas: será que atrapalha a dieta? Pode prejudicar a saúde? Há uma dose ideal para a mulher?
Para responder essas e outras questões sob o ponto de vista nutricional, Donna conversa com a nutricionista e mestre em endocrinologia clínica e nutrição pela UFRGS Poliana Espíndola. Segundo a especialista, para que a bebida cause menos impacto no corpo, é importante que a mulher que deseja aproveitar sua tacinha o faça prestando atenção à quantidade ingerida, ao teor alcóolico, à concentração de açúcar da bebida e ao possível despertar do apetite após o drinque.
Existe uma dose ideal de vinho para a mulher?
O consumo moderado de álcool é definido como um drinque por dia para as mulheres. Um drinque padrão contém aproximadamente 14 gramas de álcool etílico puro, o que equivale, em média, a uma taça de 150ml de vinho. Consumir além dessas quantidades aumenta significativamente os riscos à saúde.
A bebida engorda?
Apesar de não ser uma das bebidas mais calóricas, o vinho, se consumido em excesso, pode contribuir para o aumento de peso. Outro fator que deve ser levado em consideração é a graduação alcoólica – quanto maior ela for, mais calórica será a dose. Isso porque o álcool, por si só, tem sete calorias por grama. O teor de açúcar e o tipo de uva utilizado no processo de produção da bebida também podem influenciar.
Importante também lembrar que, ao beber vinho, o apetite pode aumentar, levando à ingestão de petiscos e alimentos mais gordurosos, como queijos, fondue, chocolates etc. Isso pode contribuir para o ganho de peso.
Ao beber vinho, a mulher deve fazer alguma mudança na dieta ou “compensação”?
O recomendado é que aquelas que já não bebem continuem sem beber — o mais indicado é que não haja consumo de bebida alcoólica, independente do tipo. Para as que já têm o hábito, a recomendação é que não ultrapassem os limites. O comportamento de compensação deve ser evitado, tomando cuidados durante o consumo: manter-se hidratada, bebendo água entre cada dose e evitando o exagero nos petiscos (queijos, embutidos, fondue etc). No dia seguinte, deve-se manter uma alimentação balanceada, com frutas e vegetais, prática de exercícios e quantidade adequada de água.
A bebida traz benefícios à saúde?
Com base no conhecimento científico atual e como profissional da saúde, eu não recomendo o consumo de álcool baseado em seus benefícios para prevenir doenças. No entanto, pesquisas apontam que o vinho é melhor do que a cerveja ou destilados, porque contém polifenóis derivados da uva com propriedades antioxidantes, mais presentes no tinto do que no branco. Demonstram ainda que o consumo moderado reduz o risco de doenças cardiovasculares, como o infarto e o derrame cerebral. Há também muitos dados emergentes demonstrando que os riscos de declínio cognitivo em idosos e de demência também são reduzidos pelo consumo leve a moderado.
Apesar dos benefícios demonstrados, devemos evitar pensar no álcool como elemento protetor de saúde, pois muitas pessoas ultrapassam a barreira entre o moderado e o exagerado. Os estudos apontam que o efeito protetor deixa de existir quando a pessoa exagera na dose, mesmo que seja por apenas um dia no mês. Além disso, o excesso de álcool é comumente citado como fator de risco para demência, declínio cognitivo, alguns tipos de câncer e doenças cardiovasculares.
Manter uma boa alimentação, com consumo regular de vegetais e frutas e um baixo consumo de alimentos ultraprocessados, previne doenças cardiovasculares e contribui para a preservação da função cognitiva, não sendo necessário o consumo de vinho para ter esses benefícios.
Existem explicações para o aumento da vontade de beber vinho no inverno?
Acredito que um dos fatores é porque o brasileiro prefere o vinho tinto, que é mais forte e harmoniza com comida quente e com maior teor de gordura, geralmente servida no inverno. Por exemplo, o vinho branco combina com o verão. Na Europa, consomem vinho branco no verão, com comida fresca e fria.
Um outro ponto de atenção é que no inverno temos uma temperatura adequada para o consumo de vinho tinto. Mesmo quem não possui uma adega climatizada pode aproveitar para consumir os vinhos em temperatura ambiente.