A estudante Juliana Estradioto descobriu que a ciência poderia ser também para mulheres e meninas. Mesmo que as circunstâncias dificultassem seu caminho, Onilia Araujo abriu seu negócio e agora desbrava espaços para outros negros no empreendedorismo. Já a estilista Rochele Gloor fez questão de dividir tudo o que aprendeu com os maiores nomes da moda em um projeto social no Morro da Cruz. Conheça as histórias inspiradoras das três vencedoras da 5ª edição do Prêmio Donna Mulheres que Inspiram, que decidiram fazer diferente para mudar a realidade – dos outros e delas próprias.
* Neste ano, a cerimônia de premiação precisou ser cancelada como medida de prevenção em razão do coronavírus. Mas nossas vencedoras foram homenageadas com mimos da Onodera Estética e delícias da Caracol Chocolates. Agradecemos aos nossos parceiros.
Juliana descobriu a ciência
“As antenas do Morro da Borússia eram o mais alto que eu achava que poderia chegar”, suspira a jovem Juliana Estradioto. O que a guria de Osório não imaginava é que, antes mesmo de completar a maioridade, ela conquistaria um feito inédito no Brasil. Por conta de seus (muitos) méritos na ciência, foi selecionada para acompanhar uma cerimônia do prêmio Nobel.
Precisamos mostrar que existem mulheres e meninas na ciência. Acredito muito no protagonismo juvenil
JULIANA ESTRADIOTO
Mas, antes da viagem à Suécia, onde ocorre a homenagem aos maiores pensadores do mundo, a estudante descobriu como os tempos de colégio poderiam render aprendizados para além da sala de aula. Aos 14 anos, Juliana passou para o curso técnico de Administração no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), no Litoral Norte. No contraturno das aulas, poderia tentar vagas de bolsista de extensão social. Não entrou na primeira seleção, mas insistiu com a professora que poderia ser voluntária. Logo, os laboratórios do campus se tornaram sua segunda casa. No projeto, passou a estudar formas de reduzir os resíduos gerados por agricultores do Litoral que produziam geleias de frutas. Primeiro, tentou descobrir um jeito de usar as cascas do maracujá no próprio doce.
— Mas acabei indo por um caminho totalmente diferente. Vi que o maracujá possuía uma substância que poderia ser usada para produzir plástico biodegradável — recorda.
Juntando as peças, a pesquisadora entendeu que poderia usar o material para embalar as mudas da fruta que seriam plantadas, no lugar do tradicional saquinho preto de plástico.
— Os agricultores precisavam retirar essa embalagem e geravam resíduo, além de poder danificar o torrão e a raiz. Por ser biodegradável, o material pode ser colocado na terra com a muda — explica.
Estava plantada, em Juliana, a sementinha do conhecimento. A partir daí, a guria não parou mais. Seu projeto seguinte foi com outra casca, desta vez, a de macadâmia, também transformada em membrana para substituir sintéticos – e que pode ser utilizada como curativos. Como reconhecimento pela descoberta, a guria foi premiada em uma feira de ciências para uma viagem a Estocolmo, ao lado de outros 25 jovens cientistas do mundo inteiro.
— Ouvi de um dos (vencedores do) Nobel que nós éramos o futuro da ciência. Foi uma das experiências mais incríveis de toda a minha vida — conta.
Agora, Juliana frequenta os laboratórios da UFRGS, onde cursa Engenharia de Materiais. Entre as aulas, faz questão de incentivar outros estudantes a embarcarem na ciência – sobretudo, as gurias. Com o projeto Meninas Cientistas, visita escolas e desenvolve workshops para fomentar a produção científica no Ensino Médio.
— Precisamos mostrar que existem mulheres e meninas na ciência. Acredito muito no protagonismo juvenil — sentencia.