A estudante Juliana Estradioto descobriu que a ciência poderia ser também para mulheres e meninas. Mesmo que as circunstâncias dificultassem seu caminho, Onilia Araujo abriu seu negócio e agora desbrava espaços para outros negros no empreendedorismo. Já a estilista Rochele Gloor fez questão de dividir tudo o que aprendeu com os maiores nomes da moda em um projeto social no Morro da Cruz. Conheça as histórias inspiradoras das três vencedoras da 5ª edição do Prêmio Donna Mulheres que Inspiram, que decidiram fazer diferente para mudar a realidade – dos outros e delas próprias.
* Neste ano, a cerimônia de premiação precisou ser cancelada como medida de prevenção em razão do coronavírus. Mas nossas vencedoras foram homenageadas com mimos da Onodera Estética e delícias da Caracol Chocolates. Agradecemos aos nossos parceiros.
Onilia liderou o seu destino
Por muito tempo, Onilia Araujo acostumou-se a dizer, com a cabeça quase baixa: “Ah, mas isso não é pra mim!”. Demorou mais de 20 anos, mas finalmente compreendeu: as possibilidades poderiam ser, sim, para ela também. Mas sabia que precisaria lutar mais do que a maioria. A saída? Criou seu próprio caminho com o empreendedorismo.
Não tinha ninguém que a minha família conhecesse que tivesse passado na UFRGS
ONILIA ARAUJO
Sétima filha de uma família vinda de Palmares do Sul, no Litoral Norte, ela conta que só não passou fome porque era a caçula – e os pequenos comem primeiro. Aos 14, desatou a fazer cursos: mecanografia, office girl, operadora de telex, garçonete. Foi com este último que conquistou o primeiro salário. Mas as noites em claro cobraram seu preço: somado à sensação de ter sua própria grana, largou a escola. Por dois anos, trocou a sala de aula pelas bandejas porque parecia ser uma saída, a mais fácil. Um dia, chegou em casa e deparou com o olhar triste da mãe, apreensiva com a expressão cansada de Onilia. Seria sua última noite servindo bebidas.
Foi quando ela deu seu primeiro passo no mundo do empreendedorismo. Dinheiro emprestado aqui e ali, abriu um trailer na frente de casa para vender lanches. Se faltava dinheiro em caixa, uma irmã emprestava o cheque. Não tinha bife para todo mundo no almoço? Buscava no estoque do xis.
— Foi a minha primeira falência. Não tinha como dar certo — conta, aos risos.
Incentivada por uma amiga, retomou os estudos na antiga escola técnica da UFRGS, onde cursou secretariado enquanto concluía o Ensino Médio.
Em paralelo, começou a trabalhar em uma rede de hotelaria familiar da Capital, onde passou mais de 10 anos:
— Havia chegado ao topo no meu bairro. Poderia ter parado ali. Já tinha a qualidade de vida que esperava.
No escritório, vez ou outra o chefe a questionava: “Tu és tão inteligente, por que não tenta prestar vestibular?”. Um sonho que não parecia ser para ela, pensava. Com o cursinho pago pelo patrão passou na UFRGS.
— Não tinha ninguém que a minha família conhecesse que tivesse passado — emociona-se.
Nas aulas de Ciências Contábeis, Onilia teve a certeza de que tinha feito a melhor escolha. O desafio agora era adaptar-se à profissão. Deu início a sua empresa de inovação contábil, que atende mais de 150 clientes em Porto Alegre, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A firma ia bem quando dona Ilaides adoeceu. Nas noites em que passava cuidando da mãe, que trabalhava com assistência social, entendeu que precisava fazer algo pelos outros. Na manhã que antecedeu o enterro de Ilaides, deu início ao primeiro de seus projetos sociais: a Convexo, uma escola de empreendedorismo para jovens de escola pública.
Depois de se descobrir uma ativista social, Onilia deu à luz Pietro, seu filho, e também viu nascer uma ativista racial:
— Não importa a escola que ele frequente, a roupa que ele use. Quando estiver passeando com os amigos, ele vai ser o primeiro a ser parado pela polícia.
Fundou, então, a Associação Gaúcha de Afroempreendedores:
— É a primeira entidade que nasce despudoradamente com o intuito de ganhar dinheiro e acessar poder.