Nesta reportagem, Donna conta histórias de mulheres que encontraram, na tatuagem, uma forma de contar ao mundo – e eternizar no próprio corpo – um pouco de quem são.
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Se Inez Eggers dissesse que gostou da ideia quando a filha Gabriela pediu autorização para se tatuar pela primeira vez, aos 15 anos, estaria mentindo. Mesmo assim, assinou o documento para a filha, hoje com 32 anos.
– Nem tudo que meus filhos fazem eu morro de paixão, mas eles são esses seres livres que eu criei. Então, eu não poderia simplesmente dizer “não, não faz” – explica Inez, também mãe de Guilherme, hoje com 27 anos.
Uma das preocupações que tinha na época das primeiras tatuagens dos filhos era a de que os desenhos se tornassem um obstáculo na hora de procurar emprego. Com a popularização do fenômeno, Inez acredita que as pessoas, no geral, se acostumaram, e o preconceito diminuiu.
– Claro que há profissões em que isso ainda existe. E, quando o cara é todo tapado (de tatuagens) é como se fosse poluição visual, tipo “tu quer comunicar o que no meio de tudo isso?”. É tão over que não identifico nada. Então, me preocupava. Mas, também, não é que a Gabriela viria a ser ministra do Supremo ou whatever (risos) – diz a administradora e professora universitária recém aposentada.
Longe da Corte máxima do país, Gabriela mora em Porto Alegre e trabalha com produção de moda. Guilherme, formado em Gastronomia, está há dois anos na Austrália, onde estuda e trabalha como chef de cozinha. As tatuagens nunca foram um empecilho em suas carreiras.
Por mais que, às vezes, olhasse para as tatuagens dos filhos e pensasse coisas como “mas por que tantas” – Gabriela tem 17 –, Inez passou a entender que riscar-se é também uma forma de manifestação da identidade de cada um. Para ela, o mundo carece de propósito e, quando há significado, é bonito tatuar-se.
– Em algum momento, as tatuagens me assustaram, sim. Mas hoje é ok.
Mais do que ok. Dois anos atrás, aos 62 de idade, Inez marcou a própria pele. Foi a um estúdio com Gabriela e Guilherme e, juntos, tatuaram o mesmo símbolo: a triquetra. Os três arcos pontiagudos e interligados têm vários significados, conta a aposentada. Um deles diz que a energia que flui pelas três pontas simboliza a força da mãe natureza. A ideia surgiu quando o filho estava de viagem marcada para viver na Oceania. Os três passaram a pensar no que poderia representar o sentimento que os une:
– Esse amor sempre esteve no nosso coração, mas não estava registrado. Então, achei que essa coisa boa, importante e profunda deveria ser escrita. Não a sangue, mas em um lugar especial, como o nosso corpo.
Dois anos depois da primeira, Inez não descarta futuras tatuagens e confessa um arrependimento: a triquetra de 2,5cm no antebraço direito poderia ser um pouquinho maior.