Um cuidado bastante antigo (e põe antigo nisso!) sobre os filhotes de cães e gatos é na hora de passear na grama ou pegá-los no colo antes de concluída todas as doses da vacinação.
Quem tem mais de 60 anos e já teve animais comprados em agrolojas deve ter recebido essa advertência, "nada de ficar zanzando com seu mascote por aí antes de ele receber todas as vacinas".
Em parte, a recomendação tem fundamento. Ficou mais fácil compreender essa dinâmica depois que o mundo inteiro ficou sabendo, com a pandemia de covid-19, como é a propagação de um vírus e a necessidade de lavar as mãos, não compartilhar objetos pessoais, evitar ambientes fechados e fazer uso de álcool 70%.
Então, voltando ao colo dos parentes e ao passeio na grama da casa da vizinha. Afinal, pode meu cachorro ser pego no colo enquanto não está concluído o esquema de vacinação?
Pode. Depois de saber mais sobre onde mora o perigo, você entende que é possível relaxar um pouco a regra. Aliás, tente dizer para sua sobrinha de sete anos não pegar seu fofo, macio e peludinho filhote de cachorro porque não foi dada a terceira dose da vacina. É comprar uma briga.
Os cuidados que você conheceu para evitar o coronavírus são semelhantes àqueles que você deve ter para evitar outras doenças, patologias que acometem apenas mascotes, como cinomose, parvovirose e rinotraqueíte felina, entre outras.
Contudo, seu pet não pega esses vírus se for na casa da vovó, que tem um passarinho na gaiola, ou no pátio da vizinha, a senhora que tem um poodle de 17 anos que só sai de casa se pegar fogo. Existem lugares e pessoas isentas de qualquer preocupação.
Cuidados importantes
Antigamente, os animais eram mais soltos, viviam circulando de um pátio para o outro e não havia essa preocupação com as vacinas que, aliás, nem existiam. Então, quando um filhote tinha contato com um cachorro doente, adoecia também. Estatisticamente, não era tão difícil de acontecer.
Hoje em dia, quando se diz que o pet não pode rolar por aí, estamos nos referindo aos parques públicos, ambientes com muitos animais e também casas onde os mascotes podem estar em um processo de incubação de determinada doença, aquela fase em o indivíduo transmite o vírus sem estar doente. Essa é a situação mais tensa, pois os tutores também não sabem (ainda) que seu pet está doente, e acham que podem conviver com os mais jovens porque não estão apresentando sintomas.
Para maior controle, saiba que um mascote solitário, que vive sozinho com os tutores e quase nunca sai de casa, tem poucas chances de estar doente, o que favorece seu acesso aos animais menores.
Tenha em mente que, quando falamos de filhotes, estamos falando de um sistema imune ainda ineficiente para algumas patologias, em especial as virais. Porém, quando os animais ficam boa parte do tempo confinados nos lares, com pouco ou nenhum contato com outros animais, e vacinados de acordo com a prescrição veterinária, a neurose quanto a ficar no colo o tempo todo para não adoecer perde boa parte da força.
Portanto, se sua sobrinha não veio de um sítio com outros quatro cães e não tem estreito convívio com canis, gatis e outros ambientes com aglomeração animal, como feiras e hospitais veterinários, permita a ela ter a alegria de aconchegar seu pet nos braços.
O que vale é o bom senso. Pessoas próximas, que têm capricho e zelo com seus pets, assim como jardins privados, que não têm acesso para animais de rua, não oferecem grande risco ao seu mascote. Esse é aumentado de forma considerável em parques públicos da cidade ou bairros onde se vê muitos cachorros e gatos de vida livre, ou seja, animais desprovidos dos cuidados de tutores.
Agora, se você pretende levar seu filhote para um parque público nos finais de semana, a crença antiga tem valor. Não é recomendado deixá-lo no solo, e isso inclui a grama de um local público, pois animais adoecidos podem ter dormido ou deixado secreções, o que tem forte potencial para transmitir o vírus (e até verminose) para seu filhote.
Ainda nessa linha de raciocínio, se você vai visitar a moradia de uma pessoa cujos cães e gatos têm acesso a outros animais do bairro, o melhor a fazer é deixar seu filhote em casa. Dessa forma, você defende a saúde do seu mascote e permite a maturação de seu sistema imune sem maiores contratempos.
Para não correr riscos
Quer contentar a família e ter, ao mesmo tempo, maior segurança sobre a saúde de seu pet bebê? Restrinja o contato apenas aos conhecidos, aqueles que não têm mascotes ou os mantêm em grande apreço, com vacinas em dia e cuidados higiênicos.
Não é deselegante dizer a um desconhecido que pede para fazer um carinho no seu filhote que ele ainda não está pronto para receber afagos alheios, mas fique tranquilo sabendo que não é assim, com um estalo de dedos, que seu pet vai ser portador de uma doença viral.
Com a idade de seis meses e concluída a vacinação, de fato, imunologicamente, seu pet está melhor do que há dois meses. Mas, se você conseguir manter esses cuidados até seu pet completar um ano (ficar longe de ambientes de aglomeração animal, parques e locais onde transitam muitos animais sem tutores), saiba que está contribuindo bastante para o desenvolvimento de um mascote mais saudável e mais bem preparado para viver em grupo.
Daisy Vivian é diplomada pela UFRGS em Medicina Veterinária e Jornalismo. É autora dos livros "Cães e Gatos Sabem Ajudar Seus Donos" e "Olhe-me nos Olhos e Saiba Quem Você É", histórias reais sobre pessoas e seus animais de estimação.