O consumo virtual veio para ficar, mas isso não é um decreto de fim para lojas físicas no pós-pandemia. Fora do mundo online, a aposta é em um novo jeito de comprar baseado na experiência. Das mudanças nos espaços à dinâmica dos provadores, saiba o que vem por aí no ramo da moda.
Fim das semanas de moda?
Há muitas temporadas, o formato das semanas de moda estavam sendo questionados – e muitas delas acabaram perdendo espaço ao longo dos anos. Mas, agora, os desfiles precisaram se reinventar para sobreviver a 2020. Versões digitais, com público reduzido, cancelamentos, enfim, pode-se ver de tudo. No Brasil, a São Paulo Fashion Week, principal evento de moda da América do Sul, não realizou sua edição tradicional em abril. Mas a SPFW deve voltar em novembro, mesclando desfiles físicos e acesso do público via internet. E essas transformações em razão da pandemia prometem perdurar, aposta Ronaldo Fraga:
– A moda nunca acertou em prever o futuro. Agora, muito menos, porque o futuro não existe. É o dia de hoje, o agora. Então, quero o conforto, a acolhida, o simples, a procedência, já que descobri que posso viver com muito menos do que eu tinha. As semanas de moda tendem a enxugar e diminuir. Os pequenos vão ter dificuldades de fazer um desfile, que são muito caros. Mas, ao mesmo tempo, o formato de se apresentar uma coleção vai se tornar mais plural. Não será só o desfile da modelo na passarela mais.
A democratização dos eventos é uma das tendências apontada pela professora Paula. O que antes era restrito a um público específico, agora passa a ser acessível à maioria.
– Não é só entregar o desfile para chocar, precisa entrar em uma dimensão mais profunda, cultural e social. Acho que bons exemplos são os eventos em Copenhagen e Lisboa. Há fundamentos, como a sustentabilidade, a preocupação com o lançamento de jovens designers, muitas atrações que acontecem juntas – explica a pesquisadora. – E vai ter marca que vai preferir ficar apenas no digital, sair do circuito, tentar se inserir em outros lugares. Os desfiles em lugares abertos vêm muito forte.
E as lojas físicas?
O brasileiro aprendeu a consumir pela internet. E não há como voltar atrás, aponta Fraga:
– É a forma do consumo. Ele viu que pode comprar online e chegar em casa. Aquele público que detém o dinheiro, de 45 anos para cima, que tinha o receio de dar o número do cartão de crédito, está se esbaldando nas compras. A história do virtual veio para não sair nunca mais.
Em julho, mesmo com a flexibilização das medidas de distanciamento social, o e-commerce cresceu 25% no país, e a moda está entre os principais segmentos em alta – a pesquisa é da consultoria Conversion, agência especialista em marketing digital e performance. Então, está decretado o fim das lojas físicas? Longe disso. Os estabelecimentos devem seguir em outro modelo, como um local de experiências, ao estilo das lojas-conceito.
A ideia é que os espaços se tornem mais completos, com peças exclusivas, bate-papos, consultoria, e não apenas um destino para compra. Essas transformações também colocam o provador em xeque. Aumento dos prazos de devolução das peças para dar a oportunidade de a pessoa experimentar o item em casa, higienização rigorosa das peças nas lojas, espaços mais amplos para experimentar e também investimento em tecnologia aparecem como caminhos já para o ano que vem.
– Passaremos a pensar de maneira multiplataforma. Será uma experiência cultural – diz Visoná.