Na semana do Dia das Mães, perguntamos aos leitores 'Qual é a maior loucura que sua mãe já fez por você?'. Ao longo dos dias, foram recebidos inúmeros relatos emocionantes de superação dessas mulheres frente às adversidades da vida.
E, para celebrar a data, esta edição especial da seção O Que Vi e Vivi mostra alguns dos depoimentos compartilhados pelas leitoras, com as histórias que mais marcaram suas vidas.
Haydée: a mãe de coração e alma-irmã de Janine
"No dia em que minha mãe partiu, pensei: "Este mundo vai sentir muito a falta dela". E não estava sendo presunçosa. Minha mãe, Haydée Tavares, a dona Haydée, como era conhecida, teve quatro filhos biológicos, três adotivos e muitos outros cuidados por ela, ao longo dos seus 92 anos de vida.
Nossa história começou ainda quando eu estava na barriga da minha mãe biológica e dona Haydée, do alto dos seus 65 anos, não pensava em fechar a fábrica de "filhos do coração". Por circunstâncias alheias, que não menciono aqui, minha mãe biológica optou por não ficar comigo. E eu, ainda bebê, ganhei uma mãe do coração.
Ela já era idosa, tinha netas, sofria de problemas no coração, e a família não aconselhava a adoção. Mas ela contrariou a todos. Era uma mulher corajosa! Sua coragem era taxada de loucura por muitos. Era protetora, forte, inspiradora, exemplar. Eu era um bebê com problemas de saúde e ela passava noites em claro cuidando de mim.
"Ela já era idosa, tinha netas, sofria de problemas no coração, e sua família não aconselhava a adoção. Mas ela contrariou a todos. Era corajosa! Sua coragem era taxada de loucura por muitos. Era protetora, forte, inspiradora, exemplar. Eu era um bebê com problemas de saúde e ela passava noites em claro cuidando de mim."
JANINE MOREIRA DE SOUZA
42 anos, jornalista, de Gravataí
Costumava me colocar no seu colo, me envolver em um lençol na volta da sua barriga para não cair, caso ela cochilasse. Passou a cuidar mais da saúde (era fumante) para poder viver mais e me ver crescer. Foi minha grande incentivadora. Batalhou para que eu tivesse bons estudos, passávamos noites em claro imaginando como seria a nossa vida num futuro melhor. Mesmo já velhinha, viu eu me formar em Jornalismo. Vendeu um faqueiro de prata que guardava como relíquia para que eu pudesse ter uma festa de formatura. E estava lá, de pé a me aplaudir! Era minha alma-irmã.
Por isso, quando a vida já estava se esvaindo, do alto dos seus 92 anos, soube que era a hora da despedida. Apenas agradeci a Deus pela oportunidade deste (re)encontro, disse que ficaria bem e a libertei. Ela, que sempre foi um furacão, se foi como um sopro de brisa leve. Já se vão 15 anos.
Minha mãe contrariou a todos e me adotou. E entendo o porquê. Viemos para nos encontrar. Um dia, uns dois anos após a sua passagem, sonhei que ela me explicava porquê me adotou: porque vim para "preencher uma página em branco na vida dela". E ela veio para preencher toda a minha vida. Com amor, dedicação, resiliência e garra que só as mães têm."
Janine Moreira de Souza, de Gravataí
Doces loucuras do cotidiano
"A 'loucura' da minha mãe acontece no cotidiano. Está naquela comida especial feita nos dias em que estamos doentes. Naquela ligação 'do nada' só para perguntar se estamos bem (sendo que passamos por uma situação difícil). Naquela conversa sincera que faz com que todos os problemas tornem-se pequenos e com solução. Ao ensinar matemática, mesmo não estudando a matéria desde a infância. Está em escutar minhas explicações sobre a faculdade de Direito e transparecer entender tudo (mesmo sabendo que não por completo). Está em abdicar de qualquer coisa para o nosso bem. Mas a maior loucura de todas que a minha mãe fez por mim foi dar toda a energia e o amor da sua vida para que eu pudesse me tornar a mulher que sou!"
Fabiane Rodrigues da Silva, servidora pública de Porto Alegre
Conexão eterna após luta contra um linfoma de Hodgkin
"Em 2016, eu então com 26 anos, depois de tratar um linfoma de Hodgkin, as células malignas voltaram a se reproduzir após seis meses e sugeriram um transplante autólogo de medula óssea. Porém, para isso seria necessário uma internação de no mínimo 30 dias, em total isolamento, sem acompanhante ou com um acompanhante que se submetesse ao mesmo isolamento. Foi quando minha mãe se tornou minha acompanhante. Sim, minha mãe ficou internada comigo por 28 dias na Santa Casa de Porto Alegre. Foram intensos 28 dias, dormindo em um sofá de dois lugares, se tapando apenas com uma manta, acordando sempre que as enfermeiras vinham me medicar, tendo que me dar banho e me auxiliar na higiene íntima, até chegar ao acompanhamento de perto do próprio transplante, que foi realizado no quarto.
Durante esse período, ela também fez muito artesanato (bordado), me viu chorar, mas não chorou uma única vez. Se alimentou fora do quarto para eu não enjoar com o cheiro da refeição, após o banho trocava de roupa na outra sala, para não trazer bactérias para dentro do quarto. Enfim, dentre tantas outras situações, acho que a maior delas foi a dedicação, a reconciliação, o amor incondicional e o acolhimento em cada abraço recebido, em cada lágrima enxugada e em cada choro recolhido. Minha mãe foi tudo, ela foi muito mais que uma companhia: ela foi enfermeira, cuidadora, médica, babá, foi mãe! E eu, depois de 26 anos, descobri do que ela era capaz para me ver feliz, curada e viva. Hoje somos mais conectadas, unidas e recíprocas uma com a outra".
Helena Corrêa Fontoura, de Porto Alegre
Apoio de mãe para mãe
"No segundo semestre de 2011, minha filha tinha seis meses de vida, meu marido havia passado em um concurso no Interior e eu estava sozinha em Porto Alegre, faltando um semestre para me formar na UFRGS. Na época, não tinha condições financeiras de colocar minha filha em uma escolinha e estava desesperada, pois não sabia como ia fazer para me formar. Sou natural de Cachoeira do Sul e minha família mora lá, inclusive minha mãe.
Graças ao grande esforço que ela fez por mim, consegui me formar. Sou eternamente grata a ela."
CAMILA FAGUNDES XAVIER
38 anos, de Porto Alegre, sobre sua mãe, Maria Gecilda Fagundes Xavier
Então, minha mãe, durante um semestre inteiro, vinha de Cachoeirinha de ônibus no domingo à noite, ficava a semana inteira aqui em Porto Alegre para cuidar na minha filha, enquanto estava na faculdade, e na sexta pela manhã voltava para Cachoeira para ficar com meu pai e organizar as coisas lá para ele, porque durante a semana ele trabalhava. Ela teve essa rotina exaustiva por seis longos meses. Muitas mães não fazem isso nem com as filhas morando na mesma cidade, imagina tendo que viajar toda a semana durante seis meses. Ela foi uma súper, mega mãe!"
Camila Fagundes Xavier, de Porto Alegre
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