O despertador do celular tocou às 7h10min de um dia que eu não sabia dizer que horas havia começado para mim. Levantei com a sensação de que meus olhos estavam cheios de areia. Meu filho Vicente, de seis meses, havia dormido às 23h. Seria perfeito dizer que tínhamos tido juntos aquelas oito horas de descanso, mas a realidade era bem diferente. À 1h, ele despertou pela primeira vez naquela madrugada – depois da terceira, parei de contar.
Toda vez que eu tentava colocar o bebê no berço, ele acordava poucos minutos depois, me procurava com a cabeça e sorria ao me enxergar. Esse sorriso me faz sorrir também e é o que me ajuda a esquecer o cansaço.
O guri só voltava a dormir realmente quando eu dava o peito e o acomodava comigo na cama. Foi assim durante toda a madrugada até o início da manhã – isso tem acontecido desde que ele começou a ir para a creche.
Mesmo exausta, me derreto ao pensar que “tudo” o que meu filho precisa é passar a noite aninhado comigo. Mas, ao mesmo tempo em que eu pensava na importância do acolhimento nessa fase de adaptação (afinal, para um bebê é difícil compreender por que a mãe dele tem que ficar longe por várias horas), também entendi que encontrar formas de tornar essa transição mais leve para mim era essencial.
No trabalho, percebi o óbvio: não dormir influencia diretamente na minha capacidade de ter atenção e concentração. Uma das formas que encontrei de encarar as noites mal dormidas foi inserir na minha rotina pequenas coisas que me dessem prazer. Escrever é uma delas. E embora eu (como qualquer mãe) saiba que o padrão de sono de um bebê é diferente do nosso, achei por bem buscar esclarecimentos sobre isso e quem sabe um conselho que pudesse ajudar meu filho e eu a termos uma noite melhor.
Conversei então com a pneumologista pediatra e especialista em medicina do sono Magali Lumertz. Ela me explicou que os bebês possuem um ritmo de sono polifásico – ou seja, com poucos meses de vida, o sono e o despertar do pequeno ocorrem em ciclos que duram cerca de três horas, independentemente do dia ou da noite. Em torno dos três meses, inicia a produção do hormônio do sono, a melatonina, que é quando os bebês tendem a começar a consolidar a hora de dormir no período noturno. Porém, ela ressalta um ponto:
Ao anoitecer, o ideal é diminuir o ritmo, o volume da TV, fazer brincadeiras menos agitadas e deixar menos luzes acesas".
MAGALI LUMERTZ
Especialista em medicina do sono
– As questões fisiológicas, entre elas a liberação do hormônio do sono, associadas ao comportamento familiar, vão definir como será o sono da criança. Acordar de noite é normal. Adultos também acordam. A diferença é que nós sabemos voltar a dormir. Já o bebê aprende a dormir de acordo com os sinais que damos a ele de que é dia ou noite – explica. Por isso, a rotina e o estabelecimento de um ritual para dormir merecem atenção, destaca a médica.
– Normalmente, queremos recuperar o tempo que ficamos longe dos filhos ao chegar em casa, e não percebemos que, ao invés de induzi-los ao sono, deixamos eles agitados. Ao anoitecer, o ideal é diminuir o ritmo, o volume da TV, fazer brincadeiras menos agitadas e deixar menos luzes acesas – explica.
Passar a noite pedindo o peito pode ser considerado normal. Mas, conforme a especialista, é possível modificar alguns fatores a fim de que a mãe e o filho durmam melhor, como inserir um objeto de transição.
– Quando o bebê está acostumado a pegar no sono sendo embalado no colo, por exemplo, ao acordar, ele pensa que precisa daquele embalo para dormir novamente, o que é normal. Mas, se inserirmos um objeto de transição, como um paninho ou um bichinho de pelúcia, aos poucos e voluntariamente, a criança vai associar o sono a esse objeto. Estando com ele na cama, vai se sentir capaz de dormir sozinho. Com o tempo, a mãe vai conseguir colocar o filho no berço ainda sonolento e ele mesmo vai adormecer naturalmente – ensina.
Desde que conversei com a médica tento ser mais rigorosa na rotina e comecei a colocar uma naninha junto a ele quando o faço dormir. Mas sobre como ser feliz dormindo pouco, para mim funciona da seguinte forma: pego meu bebê no colo, sinto seu corpo pequeno no meu, cheiro o cabelo dele e dou um sorriso. Ele sempre sorri de volta. Não tem como não ser feliz com essa resposta.
Liliane Pereira é editora-assistente em GaúchaZH. A jornalista é mãe de primeira viagem do pequeno Vicente e uma adepta da criação com apego.