Mulheres que voltam ao trabalho após a chegada de um bebê nem sempre encontram acolhimento. Em vez disso, ouvem perguntas invasivas como “Onde mora a avó da criança?”. Muitas interrompem a carreira nesse momento. Quase metade das profissionais que tira licença-maternidade deixa o mercado de trabalho após 24 meses do fim do benefício, segundo um estudo de 2016 da Fundação Getulio Vargas. A maioria é demitida sem justa causa.
Seja por necessidade ou na esperança de ter mais flexibilidade de horário, muitas decidem empreender ou atuar como autônomas. Nos dois casos, ou ainda para as que seguem empregadas, a profissional precisar decidir quem vai cuidar da criança. E, aí, ao contexto machista, soma-se um sentimento conhecido das mães: a culpa. É comum pensar que direcionar sua atenção para a carreira é ser uma mãe desalmada. A boa notícia é que mães que trabalham fora criam filhos tão felizes quanto as que ficam em casa. Isso quer dizer que as escolhas sobre a sua carreira são... escolhas sobre a sua carreira. Libertador, não?
Quem chegou a essa conclusão foi a pesquisadora Kathleen McGinn, da Harvard Business School. No estudo que liderou, publicado no ano passado, foram entrevistados mais de 100 mil homens e mulheres de 29 países. Para a consultora em educação e desenvolvimento humano Carolina Manciola, é importante a mulher avaliar o significado do trabalho na sua vida. Se ele é relevante, abrir mão da carreira pode levar à frustração mais tarde.
Além disso, cuidar o dia inteiro de uma criança é super cansativo. E, às vezes, solitário. Por isso, voltar ao trabalho pode ser um alívio.
– Sair de casa, conversar sobre outra coisa que não seja cocô e xixi – brinca Carolina. – É normal sofrer no início. Depois, a mãe percebe a importância de exercer também outros papéis.
O acolhimento do qual a mulher precisa não tem a ver com vitimização, alerta Maria Elisa Moreira, especialista em gestão de pessoas.
– Uma mulher que decide dar continuidade à sua carreira não quer ser subestimada. Não é porque ela se tornou mãe que suas habilidades profissionais foram reduzidas – diz a psicóloga.
Como lidar com os desafios
• Avalie a importância do trabalho na sua vida.
• Faça as contas: sua renda vai ser suficiente para pagar a creche ou a babá?
• Liste prioridades para gerenciar seu tempo, mas lembre-se que imprevistos fazem parte da nova rotina.
• Falando nisso, repense o tempo que você gasta nas redes sociais.
• Não se compare. Os seus valores podem ser diferentes dos de outras mulheres.
• Peça ajuda, profissional ou da família.
Como apoiar
Se você é o parceiro ou a parceira:
• Divida a execução e o planejamento dos afazeres domésticos.
• Seja proativo nos cuidados com o bebê. Não espere sua parceira delegar.
Se você está próximo:
• Pergunte como ajudar.
• Fique atento para não impor o seu jeito de cuidar da criança.
Se você é gestor:
• Esteja aberto para ouvir a profissional que retorna.
• Seja compreensivo, mas não subestime a capacidade da mulher.
• Converse sobre as necessidades para que ela amamente o bebê ou tire o leite, se for o caso.
• Avalie colocá-la em projetos novos. Pode ser a chance para a profissional fazer algo relevante nesse momento tão importante.