O início da maternidade pode ser bem solitário. De tudo que aprendi ao ser mãe, o que eu mais gostaria que tivessem me contado é que, sim, a maternidade pode fazer a mulher se sentir muito sozinha.
Se antes da gravidez você era superpopular, adorava sair e estava sempre cercada de amigos, após a maternidade as coisas podem não ser mais assim. Com a chegada do bebê, especialmente no primeiro ano, você depara com um novo mundo. Vinte e quatro horas com um pequeno para cuidar, as saídas passam a ser mais escassas e os poucos amigos que ficam não vemos com a frequência que gostaríamos. E é durante esse período que a nova mamãe passa por momentos intensos de solidão.
A psicóloga Daniela Borba ressalta a importância de saber entender o seu momento e pedir ajuda quando precisar. Veja dicas para minimizar a solidão nesse período:
Encontre um rede de apoio
Eleja algumas pessoas próximas e que estejam nesse processo com você. Se cercar de uma rede de apoio como avós e amigas que entendam o momento e façam tarefas simples como cozinhar, por a roupa na máquina e até mesmo sentar para tomar um chimarrão já fará muita diferença.
Cuide-se
Muitas vezes, mesmo com o apoio da família, sentimos falta daquela antiga mulher que éramos antes de nos tornarmos mães. Tentar não perder a sua essência é fundamental. Hoje em dia já existem salões de beleza e academias equipadas com áreas kids e cuidadoras para que a gente dê um up na autoestima sem se preocupar com os filhos, pelo menos naquele momento.
Conecte-se com outras mães
Use a tecnologia a seu favor. Uma das principais ferramentas que aconselho para quem está se sentindo insegura com tanta novidade é criar grupos nas redes sociais com o foco na maternidade. Blog, Instagram, Grupo de Mães no Facebook ou mesmo criar um grupo de WhatApp ajuda na troca de experiências sobre temas da rotina como papinhas, fraldas, sonos e tudo que envolve os cuidados com os filhos.
Procure se divertir
Assim como hoje os locais já estão mais preparados para receber as novas mamães, outros lugares já disponibilizam atrativos para que elas possam se distrair um pouco. Convide amigas e vá ao cinema. O chamado Cinematerna recebe mães com filhos de até 18 meses para sessões especiais. Se o clima ajudar, saia para andar com seu bebê, vá até um café com alguém mesmo que rapidinho. Isso já ajuda a pegar fôlego para a rotina.
Drible a culpa
Haverá dias em que você vai se sentir exausta e a pior mãe do mundo. Mas aí é hora de respirar fundo e lembrar da dica mais importante: de se reconhecer como uma pessoa incrível que tem a dádiva de gerar um filho, amá-lo e educá-lo. Mesmo com todos os desafios e a montanha-russa de sentimentos em que ficamos. Errar faz parte do processo. E se notar que algo está muito fora do eixo não deixe de procurar ajuda profissional.
Depoimentos de mães
"Antes de casar, morei sozinha por 10 anos e nunca senti solidão. Já com a maternidade, na rotina da criação do Benício, inúmeras vezes eu me senti completamente sozinha. O que pode até parecer estranho, pois tenho meu filho nos braços, um sonho que realizei... Então, não é sobre não ser grata pelo meu filho, ele é o melhor companheiro que eu poderia ter. É sobre não ter com quem dividir tudo isso no dia a dia. Meus pais moram do outro lado do país, os amigos simplesmente somem, sim, todos dizem que amam, mandam mensagem, marcam de visitar, mas o tempo passa e eles nunca aparecem. Os parentes também somem, talvez pelo receio da responsabilidade de ter que "pegar junto". Mas o que faz mais falta? Não é o compartilhar de colo para alívio nas costas, ou um tempinho pra você ir ao banheiro ou comer com calma... É a falta da escuta, da troca, da solidariedade, do "eu te entendo". Tem dias que passo o dia inteiro sem conversar com alguém adulto, apenas me comunicando na linguagem do bebê. Aí entra o fantástico universo das redes sociais, um lugar de troca, escuta, comparação, aprendizado, um lugar onde outras mamães, também solitárias, encontram apoio, escuta, carinho e consolo. Me pergunto constantemente o quanto devemos nos expor, mas quando vejo já estou ali, compartilhando com conhecidos ou estranhos a minha rotina, as pequenas conquistas do meu filho, em troca de likes confortantes e motivadores". Roberta Rezende
"Na primeira gestação, passei pela solidão do estar vazia. Sentir meu corpo livre e preso ao mesmo tempo. Minha dor de não ter com quem compartilhar esse novo mundo, essas novas descobertas. Solidão de ser mãe, sem ter mãe por perto. Solidão por não saber que aquela mastite dolorida era para me ensinar a ser forte. Solidão por muitas vezes não ter com quem conversar e me ver em soluços nos banhos de cinco a 15 minutos. Solidão por estar perdida e incapaz de me ver como mulher e não apenas mãe. Na minha segunda gestação, essa de gêmeas, mesmo em meio ao turbilhão que foi me vi mais assistida. Minha mãe veio ficar conosco, as amigas estiveram mais presentes". Raynne Guedes
"Eu acho que as pessoas veem na mãe a obrigação de ser forte, mas nem sempre é assim. Nos primeiros dias vem a insegurança, o medo, a sensação de querer fazer passar a dor. Os dias sem dormir, as cólicas... Tudo muito novo, e nessa hora o papel do pai é essencial. Não só na ajuda com o banho, colocar para dormir, conversar com o bebê, mas acima de tudo para estar com a mãe passando segurança que tudo vai ficar bem". Karoline Heck
Vanessa Martini é mãe do Theo e jornalista. Tem um blog, o Mãezinha Vai Com As Outras, onde divida a rotina e os aprendizados da maternidade. Escreve semanalmente sobre o assunto em revistadonna.com.