Camila Maccari
Quando o primeiro filho nasceu, em 2008, Irene Nagashima ficou cinco meses sem ir ao cinema. Cinéfila, ela conta que, ao final desse período, já estava angustiada. Desabafou em um grupo de mães e recebeu a solução através de um comentário: “Por que não nos organizamos e vamos ao cinema todas juntas com nossos bebês?”.
Cerca de 10 mães e seus filhos com menos de seis meses se encontraram em um cinema de São Paulo para assistir ao filme Juno. Depois da sessão, foram para um café, onde o papo se alongou por mais de quatro horas.
– Foi libertador como aquilo nos fez bem. Poder sair, fazer algo por nós mesmas e conseguir estar com o bebê junto – recorda Irene.
O encontro deu origem ao CineMaterna, associação que, em parceria com 15 redes de cinema de todo o país, promove a integração de mães com bebês de até 18 meses em sessões de filmes com ambiente amigável.
Neste mês de setembro, a ONG comemorou 10 anos, chegando à marca de 110 exibições mensais em 52 cidades do país. As frequentadoras escolhem, através de votação no site do projeto, entre um dos filmes que está em cartaz no momento.
O preço é o mesmo da bilheteria, mas a estrutura é diferente. As salas são mais iluminadas, o ar-condicionado não é tão frio, o som é mais baixo e o trocador fica dentro do próprio ambiente. Em toda sessão, há mães voluntárias para receber o grupo.
– Nada melhor que uma mãe para entender outra, gera uma empatia imediata. A gente percebe e entende a outra mãe, e este momento é muito especial. A mãe recém-nascida, como chamamos, pode ir ao cinema e encontrar um ambiente tranquilo para ela e para o bebê. Encontra infraestrutura e também outras mulheres que estão no mesmo momento. É uma conexão imediata – comenta a criadora da ONG.
A analista de sistemas Aline Alvares Boyde aproveitou a licença-maternidade do segundo filho para ir às sessões junto de uma amiga, que deu à luz dois meses antes.
– Nessa fase de um nenê pequeno, tu acaba sem poder sair muito ou fazer muita coisa que não envolva os cuidados com a criança. Então foi muito legal ir ao cinema, assistir ao filme, estar com uma amiga e, ao mesmo tempo, também ficar com meu filho. E com a tranquilidade de que, se o bebê chorasse, não teria problema porque estávamos entre mães – conta Aline.
No CineMaterna, as sessões não são fechadas e qualquer um pode comprar um ingresso – mas já entra na sala sabendo que, naquela sessão, há crianças pequenas. Ou seja, pode ter choro ou, dependendo da idade, pitocos caminhando pela sala.
Aliás, a criadora do projeto lembra que não é proibido que crianças maiores de 18 meses estejam nas sessões, mas, depois dessa idade, o pequeno não costuma ficar tão quieto - e a mãe acaba não conseguindo aproveitar, de fato, o filme.
Em Porto Alegre, são três exibições por mês, espalhadas entre as filiais do GNC nos shoppings Praia de Belas e Iguatemi e o Cinemark do BarraShoppingSul, que ocorrem nas quartas-feiras ou quintas-feiras, sempre às 14h. O horário, segundo Irene, permite que a mãe se organize melhor – além de ser um período em que muitos bebês estão dormindo.
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