Esta segunda-feira (3) marca o início dos seis dias de confinamento das candidatas ao Miss Universo Brasil 2023, cuja grande final está agendada para o próximo sábado (8), em São Paulo. Dentre as 27 concorrentes está a rio-grandina Maria Eduarda Brechane, 19 anos, eleita Miss Rio Grande do Sul por unanimidade, em maio desse ano.
Antes de embarcar para a capital paulista, a miss conversou com Donna sobre o que espera da sua participação em um concurso de beleza em que as gaúchas têm tradição: até o momento, o Estado é líder em número em vitórias, com 14 coroas, seguido por Minas Gerais, que ocupa o segundo lugar, com nove. Maria diz confiar na força do “DNA gaúcho” para garantir a 15ª conquista para o Estado.
— Uma miss precisa ser líder transformacional, alguém que venha para impactar. Hoje, só a beleza não basta, ela precisa ter uma voz e uma imponência. Precisa ser forte e firme, e é por isso que agradeço todos os dias por ser gaúcha, porque nos é ensinado a ser fortes e lutar por aquilo em que acreditamos. Posso dizer que a miss do Rio Grande do Sul é forte — diz.
Nesta semana, as participantes devem cumprir uma agenda de atividades, que inclui sessão de fotos, passeios turísticos e visitas oficiais. Participam também de etapas preliminares do concurso, como desfiles, ensaios e entrevistas.
Para se preparar para esse momento, Maria tem investido em estudo, terapia, atividades físicas e mentoria para lidar com eventuais haters da internet e com suas próprias expectativas.
— A preparação está sendo constante. Eu acordo, treino, vejo concursos anteriores, estudo a nossa sociedade e as deficiências que se tem hoje. É um trabalho em conjunto com o setor público, com as questões de trabalho social que eu mantenho. Então eu continuo com toda a garra que tive para o Miss Rio Grande do Sul, agora focando no Miss Brasil — garante.
Essa edição da competição tem um temperinho a mais para a representante do RS: a coroa do Miss Universo Brasil 2023 vai se chamar "Ieda", em homenagem aos 60 anos do título da primeira brasileira a conquistar o Miss Universo, a gaúcha Ieda Maria Vargas. Para Maria, a veterana é uma inspiração:
— É de arrepiar. A Ieda fez história, é uma mulher maravilhosa e muito, muito forte que eu tive o prazer de conhecer. Eu fui a única candidata que já conheceu ela, as outras vão conhecê-la no Miss Brasil e tenho certeza de que vão se apaixonar por essa mulher e pela história dela. Quero levar um pouco de tudo o que ela fez, um pouco de toda sua trajetória comigo no Miss Brasil. Se hoje faz 60 anos de Ieda Maria no Miss Universo, que se faça uma nova Maria no Miss Brasil.
Esta é a primeira vez que mulheres casadas, com filhos e divorciadas podem participar do concurso de beleza. A vencedora da etapa nacional se classifica para a grande final mundial, o Miss Universo 2023, marcada para dezembro, em El Salvador.
Confira a entrevista com a miss Maria Eduarda Brechane
Classificar-se para o Miss Brasil é um grande passo e você tem a chance de avançar ainda mais. Nesse contexto, como faz para manter a mente tranquila?
Estou conseguindo manter a cabeça no lugar graças à grande equipe de profissionais que tenho. Há alguns anos faço terapia e sou a maior defensora disso, porque sei que é muito bom poder conversar com alguém sobre tudo o que se passa na nossa mente.
Hoje também tenho uma mentoria que me ajuda a entender e a lidar com todas as mudanças que estão acontecendo, com o hate da internet e as cobranças. O caminho se torna mais leve quando pessoas que querem a mesma coisa que você trabalham juntas.
Você se cobra bastante?
Muito. Conheço o meu potencial, então, quero fazer tudo o melhor possível. Só que nem sempre é assim, né? Às vezes, temos que fazer o “antes feito do que perfeito”.
O que você está esperando do confinamento?
A expectativa é muito grande, mas quando o pessoal me pergunta se eu estou nervosa, não posso dizer que estou. Não estou nervosa, estou feliz e muito animada, porque é um sonho de muitos anos. Foram dois de preparação intensa, então, me sinto feliz, porque finalmente chegou a hora.
E como a preparação desde que ganhei o Miss Rio Grande do Sul vem sendo muito intensa, não tenho aquela preocupação de “eu poderia ter feito mais”. E isso me dá leveza na consciência. Estou indo para o Miss da melhor maneira possível, com uma equipe ótima por trás.
Você falou que está treinando para se preparar. É academia?
Estou fazendo treino de academia, aeróbico, massagens, tomo um shot de vitaminas quando acordo e tenho acompanhamento de um endócrino. Prezo muito pela saúde, é sobre chegar no Miss Brasil bem, saudável e forte.
E a alimentação mudou?
Estou conseguindo manter uma alimentação bem certinha, mesmo diante das reuniões e dos jantares de que participo. Consigo me alimentar de uma maneira saudável e me permitir comer aquilo que gosto. Na minha família o cuidado com a alimentação é algo muito forte. Minha avó é indígena, então, brinco que, na minha casa, ninguém toma remédio. É a alimentação e o uso de chás que reparam a saúde.
Desde que me entendo por gente, tenho esse cuidado. Sei que tudo o que eu estou colocando para dentro do meu corpo vai ter uma reação. Então, mantenho uma alimentação saudável e equilibrada desde sempre.
Em termos de estética, quais têm sido os cuidados?
Nós temos feito muitos tratamentos para cuidar da pele, mas nada que modifique a estrutura do meu rosto. São procedimentos para deixar minha pele saudável, já que é muita maquiagem que se passa, é preciso cuidado. O famoso skincare é feito de fora para dentro e de dentro para fora por aqui.
Desde quando você deseja ser miss?
Quero ser miss desde que me lembro. É uma tradição na minha família: as mulheres se juntam em dezembro e assistem o Miss Universo há anos, torcendo pela miss Brasil. E chegou um momento em que eu não queria mais só assistir, queria ser a mulher que está lá, com seu sorriso e mudando o dia de várias pessoas.
Faz parte da competição responder perguntas em língua estrangeira. É um desafio?
Estudo inglês há muito tempo e me tornei fluente quando tinha 13 anos. Desde então venho aperfeiçoando sotaque e conversação, porque, por mais que você seja fluente, por não ser nativo e não falar diariamente, tem muita coisa que você não sabe ou se esquece.
Idioma é algo que se estuda para sempre. No Miss RS fui perguntada em inglês e consegui responder todas as perguntas.
Que etapa do concurso deixa você mais nervosa?
O top cinco. As respostas que temos que dar nessa etapa são desafiadoras, mas não por uma questão de conteúdo, e sim pela emoção. No momento em que você entra no top cinco, é uma das mulheres mais bonitas e mais bem preparadas do país, e isso mexe com o seu emocional.
Você fica feliz, com a voz embargada, e ter que responder uma pergunta, muitas vezes, complexa em um momento tão delicado dá um friozinho na barriga.
O Rio Grande do Sul é o Estado que mais vence esse concurso. Como se sente sobre isso?
A coroa do Rio Grande do Sul é bem grande e bem pesada, mas não só pelo material de que ela é feita. Nossa coroa é pesada porque, por trás dela, há outras 14 misses Rio Grande do Sul que se tornaram miss Brasil, e isso é muito grandioso, é muito forte.
E vou além disso: o RS é o Estado que mais tem talentos, a meu ver. Nós somos um celeiro de grandes talentos nos esportes, na moda, no teatro e isso tem um peso muito grande, mas não é uma pressão negativa. Pelo contrário, é um incentivo para dar o meu melhor.
Como espera representar o RS nesse palco nacional?
Quero levar a nossa cultura e as nossas belezas. E com belezas falo de muito além das naturais, falo do nosso falar, que é muito típico e muito característico nosso. Também a beleza do vestir e se portar, que é muito característica da mulher gaúcha.
Quais causas você defende?
Trabalho muito com a questão dos deficientes auditivos. Tive contato com a comunidade surda ainda muito jovem, em escolas da minha cidade, e eles me acolheram e abraçaram. Hoje, como mulher e como miss, também abraço eles e levo a causa, dou visibilidade.
A comunidade surda é uma das que mais sofre de depressão. Eles não conseguem ouvir tudo aquilo que é belo, não se sentem representados e nem acolhidos em muitos espaços. Então, defendo que as pessoas aprendam a língua brasileira de sinais e, cada vez mais, que a gente abrace e inclua o outro. Hoje sei o básico de libras e consigo me comunicar e entender bem.