Aos 35 anos, o ator Elliot Page está pleno ao finalmente viver da forma que sempre quis. Desde dezembro de 2020, ele vem dando detalhes publicamente sobre a sua transição de gênero. Em entrevista à revista Esquire publicada nesta quarta-feira (1º), falou sobre a repercussão após se assumir como trans e também sobre sua felicidade ao "se parecer consigo mesmo".
— Eu sei que pareço diferente para os outros, mas para mim estou apenas começando a me parecer comigo mesmo. É indescritível, porque eu estou tipo, "lá estou eu". E graças a Deus. Aqui estou. Então, a maior alegria é apenas poder se sentir presente, literalmente. Sair com um grupo de pessoas novas e poder me envolver de uma forma que eu não tenha a sensação constante de fugir do meu corpo, essa sensação interminável de ansiedade e nervosismo.
Na conversa, Elliot também afirmou que a transfobia é mais intensa que a homofobia.
— Não esperava (que a repercussão) que fosse tão grande. Em termos de qualidade real da resposta, foi o que eu esperava: amor e apoio de muitas pessoas e ódio e crueldade de tantas outras. Eu me assumi gay em 2014 e é diferente. A transfobia é tão, tão, tão extrema. O ódio e a crueldade são muito mais incessantes.
Ele relatou que, um dia, ao sair de um hotel em que estava hospedado, um homem começou a xingá-lo.
— Eu só queria atravessar a rua e não conseguia. Havia trânsito. Ele era tão alto, eu não poderia fazer nada fisicamente. Se eu falasse algo, ele poderia me retaliar. Se eu desse meia-volta, ele poderia fazer outra coisa. Então fiquei parado olhando para frente.
Ao atravessar a rua, o homem então afirmou que mataria Elliot.
— Eu corri, estava sozinho. Entrei em uma loja de conveniência e ele falou: "É por isso que preciso de uma arma".
O ator, estrela do seriado The Umbrella Academy, afirmou que nunca se imaginou envelhecendo como uma mulher.
— Não consigo especificar o pior dia. Mas quando (o filme) Juno estava no auge... As pessoas vão pensar: "Você é famoso, tem dinheiro e (está reclamando que) teve que usar um vestido, que pena!". Eu gostaria que entendessem que isso quase me matou — desabafou. — Eu estava realizando meus sonhos e, ao mesmo tempo, nem conseguia sair do hotel. Eu batalhei com a comida. Depressão profunda, ansiedade e ataques de pânico severos. Em alguns dias, eu saía de casa para uma reunião e voltava em seguida. Não conseguia ler roteiros e isso é uma das minhas coisas favoritas. Não conseguia passar de um parágrafo.
— Eu não me imaginava envelhecendo como uma mulher. Eu pensava: "Qual é meu futuro?". Não havia um. Era assim que eu me sentia. Eu falava: "Nunca fui uma menina, nunca vou ser uma mulher".