No tom de voz é possível perceber a satisfação de Claudia Ohana em poder voltar a atuar depois de um longo tempo longe dos palcos. Saindo de um ensaio da peça em que interpretará a cantora lírica Maria Callas, a atriz conversou com Donna por telefone para falar sobre a retomada dos seus projetos profissionais, autocuidado e família.
Aos 58 anos, Claudia está de volta ao ar como Natasha, da novela Vamp, desta vez na plataforma de streaming Globoplay. Quando interpretou a vampira roqueira no início dos anos 1990, a atriz tinha 28 anos e confessa que foi pega de surpresa pelo fenômeno em que se transformou.
— Foi um sucesso estrondoso, e eu não tinha nem infraestrutura para sustentar aquilo tudo. Eu era muito simples, morava em um apartamentinho no térreo, tinha um carro caindo aos pedaços, sem dinheiro, dura — conta.
Fora das cenas, aliás, a atriz precisou reescrever muitas vezes novos roteiros para a sua jornada pessoal. Mais recentemente, ao deparar com trabalhos suspensos em razão da pandemia, Claudia buscou nas aulas de interpretação uma forma de sustento e descobriu também novas amizades. Por enquanto, os encontros seguem online, mas a professora confessa que não vê a hora de poder ver seus alunos pessoalmente.
Parte da sua conexão com o mundo no último ano, durante o isolamento social, foi justamente por meio da internet. Com frequência, Claudia divide alguns momentos de intimidade em seu perfil no Instagram. Como boa avó coruja, tem fotos com os netos Martim, 16 anos, e Arto, nove, e também com a filha, a atriz e diretora Dandara Guerra, 37, além de vídeos dançando e fotos suas de biquíni, sem make e sem filtro, sempre com legendas que celebram as pequenas alegrias do dia a dia.
No início deste ano, Claudia morou por um tempo à beira-mar em uma ilha de Angra dos Reis, onde se entregou à vida ao ar livre depois de longo período dentro de casa, no Rio de Janeiro.
— A pandemia, não trabalhar, preocupação com a filha, com os netos. No meio de tudo isso, você tenta cuidar da sua mente. Teve e ainda tem momentos muito difíceis. Faço meditação, ioga, tento muito ser feliz, a minha busca é sempre por felicidade.
Na entrevista a seguir, a atriz fala mais sobre a relação com seu corpo, a passagem do tempo e planos para o futuro.
Quais lembranças você tem quando revê a Natasha, 30 anos depois?
Não fico pensando como eu era. Às vezes, quando encontro o Ney (Latorraca) ou outras pessoas que fizeram a novela comigo, podemos até falar sobre, mas não sou uma pessoa nostálgica. Sem dúvida, mudei muito de lá para cá. Acho que era muito mais insegura como atriz naquela época do que sou hoje, por exemplo, mas talvez tivesse menos responsabilidade com a minha carreira. Por ser mais nova, você coloca menos peso nas coisas, é tudo muito mais leve. E era uma época em que a novela tinha uma audiência absurda.
O enredo com vampiros e rock fez muito sucesso com o público infantil. Como foi pra você esse momento?
Era incrível. Me sentia a própria Xuxa dark. Não podia sair na rua, onde quer que eu estivesse era parada. Era uma loucura porque foi um sucesso estrondoso, e eu não tinha nem infraestrutura para sustentar aquilo tudo. Era muito simples, morava em um apartamentinho no térreo, tinha um carro caindo aos pedaços, sem dinheiro, dura. E aí veio esse sucesso enorme, que tinha que andar praticamente com segurança. Mas é impossível não dizer que foi maravilhoso, porque a personagem era maravilhosa, a novela toda deu certo, era tudo incrível, o tema era ainda muito cultuado. Virou uma novela cult, até porque é imortal falar de vampiros e rock.
Sua filha também acabou seguindo o caminho da arte e se tornou atriz e diretora. Seus netos já chegaram a demonstrar interesse em seguir a carreira artística? Você os incentiva?
Não, acho que tem que vir da criança. Claro que a família é toda do cinema, mas, enfim, o mais velho foi para a música. O mais novo que, por ser filho de ator (Álamo Facó) também, talvez, coitado, vai para esse mundo (risos).
Como é você como avó em relação à Claudia mãe?
Ser mãe é uma coisa, ser avó é outra. Quando tive minha filha era muito nova (aos 20 anos), então tinha muita necessidade de sair. Hoje em dia, com meus netos, sou capaz de ficar o dia inteiro direto com eles, brincando, tenho mais tempo, mais paciência. Com a Dandara, eu viajava muito, trabalhava muito, mas avó e mãe é muito diferente. Eu não mando em nada nos meus netos. Eles que mandam totalmente.
Você começou a dar aulas de interpretação para crianças e adultos. Como isso começou e o quanto é importante para você compartilhar o seu conhecimento?
Vou falar uma coisa que todo mundo fala, mas que é pura verdade: quando você ensina, você aprende. É incrível o quanto aprendo ensinando e tenho vários tipos de alunos, dos sete aos 70 anos. É satisfatório quando a pessoa consegue entender o que você quer passar, porque a arte da interpretação é subjetiva. Você tem que tentar fazer a pessoa buscar a verdade de uma outra fala, de uma outra personagem. Criança faz muito isso, de brincar de ser outras pessoas, e interpretar é mais ou menos isso. Também fiz vários amigos dando aula. Estou doida para o presencial, deve ser mais legal ainda.
Você tem uma relação superforte com a dança. O que dançar significa para você hoje? A Super Dança dos Famosos (a atriz participou em 2012 e voltou à disputa em edição especial em 2021) impulsionou você ou já fazia parte da sua rotina antes?
Entre as artes que eu faço, a dança é uma das coisas que me dá mais alegria. Tanto é que muitas vezes você vê no Instagram que estou fazendo umas dancinhas. É verdadeiro meu, estou arrumando a casa, coloco uma música e começo a dançar. Não sou uma profissional, estou longe de ser, mas sei dar uns rebolados.
Você está acostumada a postar fotos de biquíni e sem make, mas acredita que a imagem da mulher acima dos 50 anos ainda seja um tabu?
Tenho certeza de que quando eu tinha 20, 30 anos, talvez até 40, eu jamais postaria uma foto de biquíni. Dá prazer chegar aos 58 e poder postar uma foto de biquíni e se achar bonita. A mulher mais velha é muito depreciada no Brasil, sempre foi. Mas ela pode botar biquíni, pode botar shortinho, ela ainda está no jogo, está na pista, pode botar o que ela quiser. Com certeza, não postaria quando era mais nova, porque não tinha graça, mas agora eu me sinto, eu me acho.
Como é a sua rotina de autocuidado e quando começou a fazer parte da sua vida?
Desde que comecei a trabalhar. Com 15 anos já cuidava da minha pele, do meu corpo, já cuidava de tudo, porque o ator é corpo e voz. Fiz muita aula de canto e dança, isso tudo faz parte do pacote de ser ator. Você tem que cuidar do seu corpo, é sua casa. E tem que se cuidar ainda mais quando vai envelhecendo. Não é só uma questão de estética, de ficar bonita para postar foto de biquíni. É você poder agachar e pegar um lápis que caiu no chão, é ter mobilidade, tônus.
No início deste ano, você passou um período em Angra dos Reis. Foi o seu refúgio na pandemia?
Foi incrível ficar lá, agora não estou podendo porque comecei a ensaiar. Fiquei muito tempo dentro de casa na pandemia, foi um período muito chocante. No começo, tive medo de tudo, fiquei muito trancada. Depois, ao ir para Angra, fiquei deslumbrada de ver o mar, vi estrelas, arraia, tartaruga, é muito incrível.
E quais são os planos para o futuro?
Estou começando a ensaiar a uma peça em que vou fazer a Maria Callas, que é uma personagem que eu adoro. Vai ser muito legal voltar a atuar depois de quase dois anos sem, é muito tempo. Mas com todo o cuidado, claro, porque a pandemia ainda não acabou. E o outro trabalho ainda não posso falar (risos).