Não foram poucas as vezes em que a cantora Luísa Sonza recebeu ataques na internet. Quando falou que não sabia se queria ser mãe, foi criticada. Quando teve uma foto íntima vazada sem sua autorização, foi culpabilizada. Recentemente, ao anunciar o divórcio do comediante Whindersson Nunes e, em seguida, lançar um videoclipe com Vitão, foi acusada de ter traído o ex-marido com o cantor.
Em entrevista ao jornal O Globo, a estrela pop gaúcha refletiu sobre a importância do feminismo no seu entendimento sobre estes julgamentos. Questionada se havia machismo nas críticas, foi direta:
— Não é nem uma questão de achar ou não. É muito claro que sempre teve esse teor machista — afirmou. — Acho que a sociedade ainda não está acostumada a ver mulheres livres, independentes e que não se adequam ao que a sociedade propõe e exige delas. É uma luta diária que nós mulheres, e digo também as mulheres do pop, viemos trabalhando. Dando a cara a tapa, conseguimos mudar a cabeça de muita gente. E não vamos parar: serão mais mulheres e mais pessoas apoiando esse movimento.
Para Luísa, o machismo não é prejudicial apenas para as mulheres - e é por isso que defende a ideia de que todas as pessoas devem se desconstruir e integrar o movimento.
— A gente vive isso muito porque é uma sociedade patriarcal e culturalmente doente. Mas isso não afeta só as mulheres. O machismo é ruim para todo mundo, para qualquer gênero. Por isso, acho que a luta não é só das mulheres, mas de todos. É preciso que todos se desconstruam e entendam o que o feminismo propõe. Tem um pré-julgamento por conta do machismo que desvaloriza a fala e a causa das mulheres de modo geral — opina.
No princípio de seu "empoderamento" como mulher, está a sua família.
— Minha vó e minha mãe me inspiram muito. Elas tiveram que lidar com muita coisa sem ter o entendimento que se tem hoje, sem entender que não eram elas as erradas. É muito bonito ver isso. Eu tive o privilégio de viver sempre com mulheres muito fortes que me ensinaram e inspiraram. Hoje elas entendem muito mais sobre o feminismo — contou.
A cantora também afirma que a deturpação da palavra na sociedade é proposital para afastar as mulheres do movimento.
— A gente nasceu numa sociedade machista e, apesar de não entender muito bem, acha que isso é o normal. A equidade acaba sendo um conceito difícil de entender, leva tempo — refletiu.
Luísa então relatou que começou a viver o machismo mais escancaradamente quando se tornou conhecida na internet.
— Como anônima, eu não sofria esse machismo tão escancarado. Mas conforme fui ficando mais conhecida na internet, comecei a viver o machismo muito na pele. Aí que eu passei a entender melhor o que isso significava e tudo ficou bem mais claro na minha cabeça. Comecei a analisar como as pessoas me pintavam na internet, como me colocavam como mulher num lugar de submissão — explicou.
Para a artista, o feminismo também foi determinante para que ela não se sentisse impelida a responder os ataques:
— Me ajudou a entender a estrutura social desses ataques, a não retribuir o ódio e não culpar. Não faz sentido mais procurar o culpado pelo machismo. A sociedade é estruturalmente assim, há séculos. Não adianta culpar, mas é preciso corrigir sempre. O feminismo me ajudou a entender o que eu vivia. No começo, eu não entendia por que isso estava acontecendo comigo, mas depois vi que era por eu ser mulher. Por isso abracei a causa e vejo o quanto o feminismo é benéfico para todos — pontuou.
Por fim, Luísa falou sobre como os boatos falsos prejudicam não apenas ela, como artista e como mulher, mas vários outros aspectos da sociedade:
— Essa era de fake news é muito prejudicial para a sociedade, não só pensando na minha própria vida, de falarem uma mentira sobre mim, mas hoje as fake news elegem governo. Por isso o jornalismo é muito importante para a sociedade; ele leva e traz a informação que muda o mundo. Acho que jornalistas, e quem lida com informação de modo geral, precisa ter muito mais cautela, da Luísa Sonza à presidência — concluiu.