O resultado da Pesquisa Datafolha, publicada no domingo (14), sobre feminismo levantou, mais uma vez, debates sobre o movimento. Segundo a sondagem, 52% dos homens responderam que apoiam a causa feminista, contra 39% das mulheres brasileiras.
A pesquisa ouviu 2.086 pessoas com 16 anos ou mais (sendo 1.095 mulheres e 991 homens), em 130 municípios do país, nos dias 2 e 3 de abril. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O resultado não surpreende a pesquisadora Jane Felipe de Souza, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que é categórica:
– A gente vem observando não somente no Brasil, mas em países da América Latina, muitos movimentos conservadores contra as questões de gênero e a educação sexual na escola, que estão insuflando de modo equivocado as pessoas para que elas temam o feminismo e os avanços que tivemos com o movimento – afirma ela.
Um dos dados que chama atenção na pesquisa é que mais de dois terços dos participantes concordam com o que prevê o movimento feminista. Essa maioria, por exemplo, acredita que o espaço ocupado por mulheres na política hoje é menor do que deveria ser.
Então, por que parece que mais gente se afasta do movimento do que se soma, mesmo quem claramente luta por direitos iguais?
Segundo especialistas consultadas por Donna, isso se dá pelos estereótipos que a palavra feminismo criou. Como a de que feministas não se depilam, não usam salto alto ou maquiagem e nem gostam de homens, por exemplo.
Segundo Jane, mulheres tendem a rejeitar o termo "feminista" por sua conotação de ódio ao gênero masculino, lesbianismo ou falta de feminilidade.
– Quando a gente fala de feminismo, na verdade estamos falando de equidade de gênero. É por direitos iguais entre homens e mulheres! Me parece inconcebível que as pessoas sejam contra isso – analisa.
O Datafolha mostrou ainda que a avaliação de que o feminismo traz benefícios para as mulheres e a sociedade é mais frequente entre negras (pretas e pardas) do que entre as brancas. E é isso que Joanna Burigo prefere destacar. Segundo a criadora da Casa da Mãe Joanna, projeto feminista de comunicação e educação sobre gênero, mulheres negras têm pautas ainda mais específicas.
– A gente precisa fazer um recorte dentro desse resultado que é o de que mulheres brancas são as que mais respondem com negativa ao feminismo. Não tem como passar pano pra isso, sobretudo em países coloniais como o Brasil, que tem histórico de escravatura – explica Joanna, que estudou feminismo no mestrado em Gênero, Mídia e Cultura pela London School of Economics.
– As mulheres brancas se beneficiaram muito da supremacia branca ao longo da história. Uma das vantagens da mulher branca é não necessariamente precisar trabalhar para se sustentar, por exemplo. A gente precisa fazer esse mea culpa, ter esse entendimento.
Com a palavra, as leitoras
Donna aproveitou e lançou a questão no grupo de leitoras do Facebook. Confira algumas opiniões:
"Hoje mesmo li que, para algumas pessoas, a feminista é aquela de peito de fora, mas a verdade é que eu sou feminista e nunca fiz isso, ou seja, a imagem de feminista é uma, e as feministas são outras. Isso se dá puramente por muitas fake news e propagação em massa das mesmas".
Alícia Nunes Muniz, 23 anos, assistente comercial
"Acho esse resultado bem condizente com a falta de informação sobre o assunto. Confunde-se feminismo com femismo, que é o ódio aos homens. Distorcem o conceito, infelizmente. Feminismo é algo necessário, que revela as desigualdades com que nós mulheres nos deparamos ao tentar estar em espaços antes só ocupados por homens. Há menos de 50 anos éramos todas donas de casa e ainda prestávamos contas de nossa vida ao marido. Só que saímos de casa e, para nos autoafirmarmos, acabamos abraçando o mundo, nos obrigando a dar conta da casa, dos filhos, da carreira, da aparência. É um peso isso. Chegamos a um estágio em que tudo isso está sendo revisto e questionado. E entender o quanto esses questionamentos são necessários e que o feminismo é quem nos auxilia a ultrapassar esses paradigmas é superimportante".
Semadar Jardim Alves, 38 anos, funcionária pública
"Eu acho que essa onda conservadora contribui para isso sim, porque faz com que as mulheres conservadoras não queiram ser associadas às feministas. E acho que o feminismo liberal, da moda, mainstream, colabora para que os homens gostem do feminismo, especialmente pelas questões ligadas à liberdade sexual, prostituição e pornografia. Se for pegar teoria, feminismo radical, todos os homens e mulheres seguem nos vendo como loucas extremistas odiadoras de homens mesmo".
Ana Carolina Sal Zotto, 34 anos, maquiadora