Anitta é onipresente. Vivendo a melhor fase de sua carreira, a carioca de 26 anos, que começou em bailes de favela do Rio de Janeiro, é hoje a artista mais popular do país.
Ainda que o estilo da estrela não seja o preferido de muita gente, seus feitos merecem reconhecimento. Depois de quatro anos, Anitta lançou um novo disco de estúdio, o trilíngue Kisses (cantado em português, espanhol e inglês). Mas não era um simples álbum. O trabalho tem dez canções, entre parcerias com Snoop Dogg, Prince Royce, Ludmilla e Caetano Veloso. Mais do que isso, a obra também é um projeto visual que contou com um videoclipe para cada uma das 10 faixas, uma jogada de marketing armada para seduzir o mercado gringo. Resultado? No mês passado, Kisses foi anunciado como um dos indicados a melhor álbum no 20º Grammy Latino, que será entregue em novembro.
A cantora gravou ainda com Madonna, dividiu o show de abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016 com nomes como Gilberto Gil e Caetano Veloso (que, aliás, se declarou um fã da funkeira). E ainda apresenta um programa de TV (e já estrelou outros, no canal por assinatura Multishow), protagoniza campanhas publicitárias, acumula bilhões de views e plays em plataformas de streaming e números cada vez mais expressivos na internet.
Com 41,2 milhões de seguidores, Anitta é a brasileira mais seguida no Instagram, atrás dos jogadores Neymar (126 milhões), Ronaldinho (48,7 milhões) e Marcelo, do Real Madrid (41,7 milhões), segundo dados do site Trackalytics, que monitora estatísticas de redes sociais. Mais: além de se envolver em cada passo que dá na carreira, também acaba de assumir o posto de head de criatividade de uma cerveja da fabricante de bebidas Ambev – e atuará diretamente com a empresa, auxiliando no marketing e em decisões sobre o negócio.
Cercada de expectativa, a artista é a principal atração da Oktoberfest de Igrejinha, na próxima sexta-feira (18).
– Não foi uma negociação fácil, por questões de agenda. E a Anitta é hoje uma estrela internacional. É uma honra recebê-la – diz o empresário Ezequiel Stein, presidente da 32ª edição da festa.
Antes de desembarcar no Estado, Anitta fez sua estreia no Rock in Rio de sua terra natal no último sábado (5), com uma performance histórica diante de uma plateia de cerca de 100 mil pessoas – após ter sido esnobada pelo festival há dois anos, diga-se de passagem. Na edição de 2017, fãs chegaram a fazer uma campanha pelo nome da cantora como substituta de Lady Gaga, que cancelou de última hora sua participação por causa de uma crise de fibromialgia.
Anitta cumpriu uma promessa feita no início da carreira: levaria o funk a um novo patamar da música, embora seu repertório transite também entre o pop e o reggaeton. Mais do que cantar e dançar, a artista tem um faro raro para a gestão de negócios. Fluente em inglês e espanhol (e arriscando italiano), coordena a própria equipe de funcionários e não é de largar o osso. Assumiu essa gestão desde que rompeu com a empresária Kamilla Fialho, em 2014.
– Sou muito ligada em tudo que acontece no meu trabalho. Criei uma dinâmica com a qual consigo controlar o que acontece à distância, com grupos de WhatsApp – afirmou a estrela em entrevista à Revista Donna.
Nascida Larissa de Macedo Machado e criada em Honório Gurgel, bairro carioca de classe média baixa do Rio, formou-se em um curso técnico em Administração e foi estagiária na Vale do Rio Doce por um ano – até ter um vídeo em que canta segurando um desodorante no lugar de um microfone descoberto pelo produtor Renato Azevedo, o DJ Batutinha, do grupo Furacão 2000. Autêntica e proativa, era querida pelos chefes e, quando estava prestes a ser efetivada na multinacional, pediu para sair. Aos 17 anos, não hesitou em tomar a decisão que, como os anos seguintes mostrariam, foi a mais acertada:
– Ou fazia carreira ali, e acredito que tinha muita chance de ser bem-sucedida, ou me dedicava ao meu sonho. Escolhi a segunda opção – comenta.
Em 2013 (quando foi capa de Donna pela primeira vez), Anitta lançou o clipe de Show das Poderosas e, de cara, quebrou recordes, com 10 milhões de visualizações em um mês. Na época, a Revista Forbes previu:
“O Brasil pode ser pequeno demais para ela”, dizia um artigo da publicação. Quatro anos depois, Anitta deu os primeiros passos rumo ao mercado internacional. Traçou uma estratégia certeira (lançou um clipe por mês), fechou parcerias com nomes importantes como Madonna e virou “Anira” (pronúncia em inglês de seu nome artístico).
Esse instinto para negócios de sucesso levaram Anitta a palestrar sobre empreendedorismo. Em abril do ano passado, saiu aplaudida de pé da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, ao fim de sua participação na Brazil Conference, na qual falou sobre vida pessoal e carreira, lembrou a rotina no subúrbio carioca e defendeu a educação:
A mulher quer ter a liberdade de ser o que ela quiser, vestir o que ela quiser, dançar como ela quiser, se casar com quem ela quiser e se ela quiser".
– Sempre quis ser artista, desde pequena, mas a gente era muito pobre na minha família. (…) Quando a gente é pobre, sempre tem medo de não conseguir pagar as contas – discursou.
Na entrevista a seguir, Anitta mostra seu lado "mulher de negócios" e fala sobre autoestima, cirurgia plástica, superexposição nas redes sociais e sua relação com a família – para onde ela recorre em momentos de tristeza e fragilidade, mas também para se divertir à beira da piscina com cerveja e karaokê.
Este ano está sendo intenso para você. Teve o lançamento do projeto Kisses e muitas parcerias de sucesso. É o melhor ano da sua carreira?
Graças a Deus, a cada ano que passa me sinto mais realizada com o que tenho alcançado na minha carreira. Curto muito minhas conquistas e sou muito organizada em relação aos planos futuros, mas vivo intensamente cada momento da minha vida. Sobre o sucesso, é resultado de tantas coisas: trabalho, dedicação, determinação, coragem...
E como é administrar essa carreira tão agitada?
Sou ligada em tudo que acontece no trabalho. Criei uma dinâmica com a qual consigo controlar o que acontece a distância, com os grupos de WhatsApp. Minha rede de apoio é a equipe que executa minhas ideias, por mais “impossíveis” que sejam.
Como aprendeu a ser uma gestora de negócios?
Sou exigente e delego funções, sim! Montei uma equipe com profissionais que me atendem em diferentes áreas e capacitei vários para formar um time que tenha a minha cara, o meu jeito.
Antes da fama, você foi vendedora de loja e estagiária da Vale do Rio Doce. Quando começou a cantar, ganhava R$ 150 por show. Que lembranças você tem dessa época?
Foi uma fase de muita aprendizagem. Até que chegou o momento em que tive que fazer uma escolha: ou fazia carreira ali (e acredito que tinha muita chance de ser bem-sucedida) ou me dedicava ao meu sonho. Escolhi a segunda opção. A partir daí, muita ralação, muitas barreiras para romper, muito desafio para encarar.
Minha família sempre valorizou demais a minha educação. Isso foi fundamental para chegar até aqui. E a gente nunca deve parar de estudar. Eu estou sempre estudando coisas novas".
Você tinha oito anos e cantava na igreja. Tem alguma religião? Acredita em Deus?
Tive uma criação dentro da Igreja Católica por conta da minha família. Sou uma pessoa de muita fé, acredito em tudo que possa nos fazer bem e propagá-lo.
Em julho, foi exibida no programa do Luciano Huck a sua participação no quadro Visitando o Passado, e teve uma repercussão enorme. Você ficou emocionada ao entrar na réplica da casa da sua avó. Como é a relação com a sua família?
Eu me emocionei muito naquele dia. Minha família é a base para tudo. É para lá que volto para descansar, ter apoio, carinho... E para me divertir, claro.
O que suas origens dizem sobre você? Como se refletem na sua personalidade e na sua carreira?
Sou muito pé no chão. E isso fez com que eu soubesse, ao longo da minha carreira, dosar os momentos de arriscar e de ser mais cautelosa.
Seus pais, Mauro e Miriam, dizem que você sempre chamou a atenção pela dança.
Sempre gostei! E aprendi cedo a dançar. Saía com meus pais para os bailes de dança de salão, ia aos bailes funks. Sempre fui muito eclética na dança, e hoje isso me ajuda muito.
Sua imagem é bastante exposta. Você tem mais de 40 milhões de seguidores no Instagram, mais do que Lady Gaga, Madonna e Britney Spears. Esses números assustam você? Como você vê a relação das pessoas com as redes sociais?
Não me assustam, não. E estou aprendendo a ter uma relação mais leve com as redes sociais. Por exemplo, parei de ler os comentários. Aconselho! Faz um bem enorme!
Aliás, você tem usado o Instagram para se manifestar a respeito das queimadas na Floresta Amazônica. Esse tema preocupa você? Por quê?
Sempre me preocupa. É um assunto muito importante para a humanidade como um todo. As pessoas ainda não entenderam que quando esses recursos acabarem, não teremos como sobreviver. É muito sério e urgente!
Você foi ao perfil do presidente Jair Bolsonaro questioná-lo sobre a suspensão do edital com séries LGBT+ para TVs públicas. Como você acha que a cultura tem sido tratada no Brasil atualmente?
Independentemente de qualquer situação, temos sempre que defender a liberdade de expressão.
E os movimentos pelos direitos das mulheres? Cada vez mais, elas se unem e se engajam em causas de interesse feminino. Você se identifica com essas reivindicações?
Sempre defenderei os direitos das mulheres. A mulher quer ter a liberdade de ser o que ela quiser, vestir o que ela quiser, dançar como ela quiser, se casar com quem ela quiser e se ela quiser. É claro que me identifico pela luta que defende o respeito e a igualdade de direitos.
E sobre aborto, você é contra ou a favor?
Eu não faria. Mas a mulher precisa ter o direito de escolha.
Em abril do ano passado, você esteve em um evento na Universidade Harvard e foi apresentada à comunidade acadêmica como “a mulher brasileira mais vista no mundo”. Na ocasião, falou bastante sobre educação. Por que escolheu essa pauta para abordar numa palestra tão importante fora do Brasil? E como foi a sua educação?
Porque minha família sempre valorizou demais a minha educação. Isso foi fundamental para chegar até aqui. Meus pais sempre exigiram de mim dedicação aos estudos. E a gente nunca deve parar de estudar. Eu estou sempre estudando coisas novas.
Você vira notícia por tudo que faz: de uma música nova lançada ao post sobre a unha postiça que incomoda. Isso faz você pensar duas vezes antes de fazer algo?
Não. Ia perder a minha identidade. Tenho responsabilidade com o que faço e falo, mas não me censuro.
Você parece lidar muito bem com a superexposição. Sempre foi assim? Quais os ônus e bônus da fama?
A gente vai aprendendo. De vez em quando, cansa um pouco. Tem muita gente, especialmente nas redes, que acha pelo em ovo. Me dá preguiça. Mas, de maneira geral, lido bem. Recebo muito carinho dos fãs.
Você já disse que se achava feia na adolescência. Teve problemas de autoestima? Como foi lidar com isso e recuperar seu amor próprio?
Não. A gente pode não gostar do que vê no espelho e amar a si mesma também. E a gente pode se amar e, mesmo assim, querer mudar uma coisa ou outra. Eu mudei uma coisa “e” outra (risos).
Como é a relação com seu corpo hoje em dia?
Estou feliz! Tudo que me incomodava já resolvi (risos).
Você tem 26 anos e está no auge da sua carreira. A que atribuiu a chave para o sucesso que tem agora?
Trabalho! Muito trabalho.
O que você ainda quer conquistar?
Estou muito feliz com as minhas conquistas! O que vier agora é lucro.
E a Larissa na vida pessoal? O que sonha em realizar?
Quero muito continuar envolvida em causas que são valiosas para mim, como a defesa dos animais e do meio ambiente.
Para finalizar, o que os fãs podem esperar da apresentação na Oktoberfest de Igrejinha
Estou muito animada! Adoro cantar na Oktoberfest, a energia é incrível! Vai ter muito funk, como sempre.