Rossana Silva, Especial
Genética, zero açúcar e ausência de mágoas. Aos 74 anos, Susana Vieira se vale de uma fórmula que envolve alimentação e bons sentimentos para manter a jovialidade e interpretar personagens de destaque na dramaturgia brasileira. Em 2016, ela esteve no ar como a Adisabeba de A regra do jogo, desfilou no carnaval do Rio e começou a fazer participações semanais no Vídeo Show.
Neste fim de semana, ela vem a Porto Alegre para apresentar a comédia Uma Shirley qualquer no Teatro do Bourbon Country. Se na TV Susana está acostumada a trabalhar com grandes equipes, no espetáculo que chega a Porto Alegre tem uma experiência diferente ao estar sozinha no palco. A montagem brasileira da peça inglesa Shirley Valentine, de Willy Russel, foi traduzida pelo diretor Miguel Falabella especialmente para a atriz. Uma Shirley qualquer fala sobre uma mulher cansada da indiferença do marido que decide fazer uma viagem sem a família.
Às vésperas de embarcar a Porto Alegre, Susana Vieira falou com Donna por telefone, desde o Rio. Tinha recém saído de uma aula de alongamento, estava no carro a caminho da academia e pediu ao motorista que estacionasse, para estar mais à vontade ao ar livre. Ela falou sobre a carreira e cuidados com o corpo e a saúde e reafirmou que é uma mulher independente que não segue regras de moda ou de comportamento. Leia a conversa:
Seus papéis na TV tem ajudado a mostrar que a mulher tem vida ativa, incluindo a amorosa, depois dos 70. Qual a importância destas personagens?
Fazer papéis na TV que as minhas colegas talvez não estejam fazendo é uma bênção. Tenho de agradecer muitíssimo aos diretores e aos produtores. Mantenho ainda essa chama de mulher acesa. Não sou vovó. Tenho dois netos, mas não sou a vovó. Não sou uma senhora, mas não sou mesmo. Pode me chamar do que quiser, mas não sou uma senhora. Sou uma atriz, uma mulher independente, que não depende de ninguém a não ser do trabalho e do emprego, e faço o que quero respeitando todas as leis do país, ou seja, pagando os impostos, sempre pelo lado direito, não atravessando o sinal. E tenho uma família que me ama, e estamos permanentemente juntos. Minha família é meu filho, minha nora e meus netos. Esses são os pilares da minha felicidade, e meus quatro cachorrinhos. Minha paixão por cachorro é muito grande. Saímos uma vez por ano, todos juntos, e vamos para alto-mar. Passeamos de barco, descemos em praias, ficamos nos melhores hotéis e somos muito felizes.
(Foto: Marcelo Sá Barreto/AgNews)
Como você lida com a idade?
O desejo de ser feliz, o desejo sexual, de fazer alguma coisa importante, só terminam com a morte. Depende de você deixar morrer ou não. Tenho uma genética muito boa, porque sou uma pessoa muito conservada. Mas, além disso, me preocupo muitíssimo com meu corpo e minha saúde. Tanto que saí agora de uma aula de alongamento e estou indo para a academia. Fora isso, não como açúcar, não bebo, não fumo.. Isso tudo pode ser que ajude, mas não acredito, não. Acho que o que me conserva, além do fator genético, é o espírito. Não reclamo de nada, só fico muito brava. Não fico magoada, não uso essa palavra. Acho péssimo o verbo magoar. É uma palavra baixo astral, que não tem conserto. Quando você fica magoada, você fica magoada até que horas? Quando você tem raiva, fica algum tempo e acabou, mas a mágoa leva para o resto da vida. Não tenho trauma com nada e não tenho raiva de ninguém, estou sempre com gente jovem por perto, seja filho, amigos ou namorados, acho que isso tudo vai me renovando.
Como você administra a rotina de artista?
Tenho pessoas em volta de mim que são absolutamente necessárias e me dão tranquilidade, cuidam da minha casa, do meu cachorro, das minhas contas… Mas, fora isso, sou muito preocupada, sou chata pra caramba em casa. Sou o terror das empregadas, pois, onde passo, vou olhando tudo o que está errado. Agora mesmo, antes de sair de casa, puxei uma cadeira porque tinha caído um brinco atrás. Chamei: "Fulana, dá uma espiadinha aqui, você está fazendo coleção de pó, você está fazendo estudos?". Minha casa tem de ser um brinco. Sou ótima dona de casa e sou ótima mulher de trabalhar fora. Consigo conjugar essas duas coisas.
Como é sua relação com a moda?
Para mim, não existe moda, nem idade, nem nada. Ninguém vai me dizer que roupa eu tenho que vestir. Para mim, não existe isso de que a mulher depois de uma certa idade não pode usar saia. Em que enciclopédia ou lei trabalhista está escrito que depois de certa idade tem de usar tal tipo de saia? Nunca dei bola pra isso, mas nunca mesmo. Se pode andar de bicicleta, se pode andar de patins. Quando fui patinar no gelo com o Faustão, tinha 65 anos. Eu digo "sim" pra tudo na vida. Ninguém pode mandar na gente, não sou obrigada a ser vovó e tomar conta de neto. Não existe nenhuma lei que diga que depois que você é avó, vai tomar conta dos seus netos. Ou que depois que você passa a ser avó, se você não tem um marido, vai morrer sozinha. Na minha vida, quem manda sou eu e não estou fazendo nada de errado. Apenas quero continuar viva, feliz e saudável. E para ser saudável, você tem de estar com todas as antenas de sentimentos bons em volta de você. Isso inclui a vida afetiva e a vida sexual. Não tenho vestido ou bolsas de grife, porque não gosto e não uso. Essas coisas, eu passo por cima. Mas a coisa de que mais gosto na minha vida é carro. Amo carro, sempre estou comprando o da moda. E também gosto de casa grande. E essas duas coisas, eu tenho. Estou pouco ligando se estou de chinelo Havaianas, eu sou a Susana Vieira _ pago o chinelo assim como pago o carro que tenho. Sou vaidosa de pele e de corpo, mas vaidosa com a minha saúde.
(Foto: Alex Carvalho, TV Globo/Divulgação)
Você vai à academia todos os dias?
Quando não estou fazendo novela, sim. Porque quando estamos gravando, não sei como não engordamos muito. Porque adoro comer. Só tenho uma restrição na vida: açúcar. Não como açúcar nem em fruta, nem em bebida, nem sobremesa, Coca Cola ou vinho. Não gosto do gosto. Tenho alguma coisa no suco gástrico que não assimila nem dextrose, nem frutose, nem sacarose, nem glicose. Não pode passar para minha língua. Se Deus me deu alguma coisa além dessas que estou te falando, que são maravilhosas, ele me deu isso também. Tenho pavor de açúcar. Acho que substituo o açúcar por carboidrato. Tenho de comer pão, batata, macarrão. Mas também saio muito dos trilhos. Posso comer todo dia pão integral com café com leite e queijo minas, mas, se me convidarem para uma feijoada no sábado, vou mesmo. E como! Também adoro dormir. É uma coisa que aconselho, você se beneficia dormindo. Tenho dormido até pouco ultimamente, por causa das viagens, mas amo dormir. Preciso dormir 10 horas, mas só tenho dormido entre seis e oito horas. Gosto de dormir 10 horas por dia e levanto linda.
A sinceridade também é uma das características pela qual você é conhecida.
Posso me diferenciar porque sou uma pessoa absolutamente independente e tenho opiniões, mas essas opiniões são restritas. Hoje em dia, não vou abrir minha boca para falar de política, porque me manifestei a favor do juiz Sérgio Moro e recebi milhões de ofensas públicas. Fora isso, não acho que ofenda alguém. Falo o que acho de mim, faço o que quero da minha vida. O que me desgasta e incomoda, eu falo. Sou uma cidadã brasileira. Não tenho interesse em ofender ninguém. Às vezes, posso julgar o que está acontecendo. Se você me perguntar o que está acontecendo na televisão brasileira hoje, posso dar uma entrevista, mas não falo diretamente de A, de B ou de C. E tenho papas na língua, sim, meu amor, porque, se não tivesse, você não sabe o que eu estaria dizendo hoje da política brasileira. Sou uma pessoa transparente, então não tenho problemas de falar. Tenho sinceridade. Conto com a maior naturalidade sobre tudo que acontece comigo, inclusive desgraças. Não fico posando de Rainha Elizabeth, que não acontece nada de ruim na minha vida. Sou comum, e talvez seja por isso a minha proximidade com o povo brasileiro, pois em qualquer lugar que eu chegue tenho muita facilidade em me aproximar das pessoas. É como se eu fosse da turma deles.
SERVIÇO
Uma Shirley qualquer
Dias 26 e 27 de novembro
Sábado às 21h e domingo às 20h
Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80, 2º andar – Shopping Bourbon Country)
www.teatrodobourboncountry.com.br
Ingressos de R$ 100 a R$ 240 (50% de desconto para sócios do Clube do Assinante RBS – limitado a 100 ingressos)