A indústria alimentícia está aproveitando um momento muito oportuno no nosso tempo: a idealização de um corpo magro e a hipervalorização de dietas restritivas, que está levando os consumidores a comprar desenfreadamente produtos que prometem ajudar a emagrecer. É tanta opção no supermercado que até nós, profissionais da alimentação, ficamos perdidos!
Em um estudo que avaliou o consumo de produtos light e diet em Curitiba (PR), mais de 70% das pessoas que estavam comprando esses produtos admitiram que não sabiam direito o que significava um produto diet, light ou zero. E isso é até preocupante: como as pessoas consomem em grandes quantidades algo que nem sabem o que é, ou o que faz no nosso corpo, e ainda pagam mais caro por eles?
Por isso, trouxe algumas informações aqui, para tentar esclarecer a diferença entre esses produtos, para quem se destinam e se vale a pena ficar gastando dinheiro com eles.
Light
São aqueles produtos que têm pelo menos 25% a menos de algum nutriente (gordura, açúcar, sódio…) ou energia (calorias) quando comparados ao alimento processado convencional. É uma informação extra, que costuma ter destaque no rótulo do alimento. Por exemplo: iogurte light com 30% menos gorduras.
Diet
São formulados para grupos com alguma condição de saúde alterada (como diabéticos, hipertensos), e até pouco tempo atrás eram considerados alimentos medicamentosos e vendidos sob orientação médica. Apresentam na sua composição uma quantidade mínima ou são totalmente nula de algum nutriente ou ingrediente, como no caso de geleias para dietas com restrição de açúcar, que contém adoçante no lugar do açúcar ou produtos sem sódio para pacientes com pressão alta.
Zero
Se assemelha às características do diet – é uma roupagem nova na rotulagem de alimentos, para chamar a atenção das pessoas e vender mais produtos. Como no caso de um famoso refrigerante de cola que, antigamente tinha a opção diet e agora conta com a opção zero (mas as características permanecem as mesmas), com adição de vários adoçantes sintéticos para manter o sabor doce do tradicional, que leva bastante açúcar.
Mas atenção: nenhuma dessas versões garante que o produto a ser comprado é saudável – aliás, quase nunca é, por se tratar de um alimento ultraprocessado ou com baixas calorias.
Os produtos diet servem apenas para pessoas com alguma doença, em que há necessidade de retirar da alimentação algum nutriente específico, por questão de saúde. Por exemplo, chocolates diet têm zero açúcar, para população de diabéticos, mas têm adoçantes, o que significa aumento de gordura, e algumas vezes de sódio, e até mais calorias que o chocolate tradicional.
Sempre que retiramos algum ingrediente de um produto, precisamos equilibrar adicionando outros ingredientes para manter as características agradáveis e semelhantes entre o produto especial e o convencional.
Alguns dos produtos light, por exemplo, têm redução de gordura, mas acabam tendo aumento de carboidratos. Quando você reduz a gordura, o produto fica “sem graça”, muda muito as características dele, então, são adicionados carboidratos para aproximar o sabor e a textura do produto tradicional. Isso é bastante comum acontecer em iogurtes, o que acaba sendo uma troca nada interessante.
O consumo de gordura está associado a um aumento da sensação de saciedade, substituir essa gordura por carboidratos, que são absorvidos rapidamente, vão gerar fome mais rápido e a pessoa vai tender a consumir mais alimentos ou calorias no dia.
Além disso, esses produtos com reduções de nutrientes costumam ter adição de muitas substâncias sintéticas para manutenção de suas características, o que não é nada interessante, pois além de já estarmos falando de um produto ultraprocessado, estamos falando em aumentar, sem nenhuma necessidade, o consumo de substâncias que o nosso corpo não reconhece, e sabe-se lá o que pode causar a longo prazo. Não podemos esquecer que o no Brasil ainda são liberadas substâncias que são maléficas pro organismo e banidas em muitos outros países (por exemplo, corante caramelo IV e edulcorante ciclamato).
Na minha opinião profissional, não vale a troca. O produto light ou diet nunca vai ser “tão gostoso” quanto o tradicional, não vai trazer o mesmo prazer em consumir e quase sempre estamos trocando gato por lebre (às vezes até trocando dois gatos por uma lebre!). Então, vale muito mais o consumo moderado e equilibrado do produto tradicional, entender que trocar algo ruim por algo pior não é interessante, ser crítico e cético quanto à rotulagem de alimentos (que é feita apenas para aumentar o consumo dos alimentos e o lucro das empresas – e não para informar a educar as pessoas).
Diminua o consumo de produtos alimentícios ultraprocessados, não se gratifique com comida, mas coma um chocolate que você gosta quando tiver vontade. Lembre-se que não é o alimento que vai fazer você emagrecer, são seus hábitos diários e consistentes de sono, exercício e alimentação.
Raquel Lupion é formada em Nutrição e Educação Física, tem especialização em Nutrição Clínica e Mestrado em Ciências do Movimento Humano. Sua motivação é promover um estilo de vida saudável, fugindo de radicalismos e tentando encontrar o caminho do meio entre o que é necessário e o que é prazeroso. Na vida profissional, divide seu tempo entre atender em consultório, dar aulas de yoga, palestrar e ministrar cursos. Escreve semanalmente em revistadonna.com.