Para Lidia Schaab Vieira, o futebôlei é mais do que esporte: com a prática, ela celebra cada desafio superado e a nova turma de amigos | Foto: Camila Domingues Juliana joga na Praça da Encol | Foto: Carlos Macedo Conhecida como “a gauchinha” nas competições, Regina Formagio da Silveira é referência em futevôlei no país | Foto: Camila Domingues Giuliana Viegas Cademartori pratica o futevolêi também com o namorado, mas o combinado é não levar as cobranças da partida para fora da quadra | Foto: Camila Domingues Giuliana e o namorado | Foto: Camila Domingues Na rua Faria Santos, 451 – bairro Petrópolis :: Mulheres à água: elas se aventuram com esportes náuticos no Guaíba e no Rio Jacuí :: Mulheres no esporte: atletas profissionais contam seus dilemas :: Por que as mulheres praticam esporte mais para entrar em forma do que se divertir?
Por Lara Ely, especial
Muitas começam atraídas pelo alto gasto calórico, que pode chegar a 800 calorias por treino. Outras vão incentivadas por amigos. Há ainda as que jogam futebol e resolvem testar o domínio da bola em outro terreno. É nesse espírito de experimentação que um grupo crescente de mulheres vem invadindo as quadras de futevôlei no Sul, buscando protagonismo em um esporte predominantemente masculino. Embora a Federação Gaúcha de Futevôlei (FGFV) não tenha dados que comprovem esse movimento, nas escolinhas, nota-se o grande crescimento da participação feminina.
De cara, o contato com a areia e a dinâmica descontraída fisgam as novas praticantes. No verão, quando uma partida e outra podem ser intercaladas por um banho de mar e o bronzeado vem de brinde, tem ainda mais graça. Mas o clima frio não é impeditivo – Porto Alegre dispõe de opções para treinar o ano todo.
Como elas chegam
Tradicional na orla do Rio de Janeiro e muito difundido como jogo recreativo entre os amantes da bola, o futevôlei chegou há tempos no Estado, mas foi nos últimos dois anos que a modalidade ganhou fôlego, com o crescimento de escolinhas em parques e clubes.
Um marco para a participação das gurias foi o evento Skol Beach Fest realizado em Ipanema, em 2014, com presença de jogadoras de renome nacional, como Lana Miranda, de Brasília, Aninha Manhaes e Patricinha (Patrícia Lessa), do Rio de Janeiro. Depois disso, recorda o professor do Time Villeroy Futevôlei Marcelo de Freitas Lima, a participação feminina bombou: – Esse foi um divisor de águas. Daí em diante, elas viram que também podiam jogar e passaram a nos procurar. Na escola encontraram um norte para aprender.
Muitas chegam sem saber chutar uma bola e com dificuldades para cabecear e se movimentar em quadra. Segundo a publicitária Lidia Schaab Vieira, 22 anos, que treina no Villeroy, a força física e alguns fundamentos técnicos, como o uso do peito, podem intimidar: – Algumas vezes, com medo, nós acabamos por treinar outros fundamentos e substituímos este recurso. Mas nada impede de praticarmos e efetuarmos o exercício da maneira mais confortável.
É um processo. Primeiro, virão os roxos, pelo contato com a bola (“nada que uma pomada não resolva”, diz Lidia). Há também um longo caminho até aprender os fundamentos básicos (chapa do pé, peito de pé, ombro, cabeça, coxa, peito), adquirir mobilidade na areia, se posicionar na quadra, defender os ataques e ainda atacar (ufa!). Mas a publicitária garante que vale a pena perseverar: – Vai na fé, que a gente realmente aprende. Você pratica e se desafia, e o alcance desse desafio diário traz uma satisfação pessoal e a confiança de que podemos nos superar.
Sem contar que o jogo geralmente vem acompanhando da confraternização.
– Para mim, o futevôlei representa descontração, leveza, amizade. É viver o vício sempre que há um tempo livre. É combinar uma Encol ou Marinha no fim de semana e pensar no churrasco que vai ter logo depois – diz Lidia.
Essa dedicação tem impressionado os professores. Segundo Lima, as alunas surpreendem em relação ao desempenho. Sua evolução, em muitos casos, é mais rápida do que entre os homens: – A mulher mostra-se com muito poder de concentração e exigência.
Virada de chave
Ao procurar uma atividade que lhe devolvesse a qualidade de vida perdida em meio à rotina de estudo e trabalho, a engenheira de produção Fernanda Ziomkowski Rodrigues, 28 anos, encontrou no Clube da Areia uma terapia. Na primeira semana, fez duas aulas; na segunda, três. E, quando viu, estava treinando dois turnos em um só dia.
– Ainda tenho muito que aprender, mas estou feliz com o meu resultado até aqui – diz a jogadora.
O hábito veio para combater o ciclo vicioso de computador e escritório que, além de uns quilos a mais, lhe rendeu baixa imunidade e desânimo. O futevôlei foi a virada de chave. Com a prática do esporte, os dias se tornaram mais leves e a vida saiu do automático.
– Costumo dizer que é a hora da higienização mental e, apesar dos litros de suor deixados na quadra, é hora da recarga de energia.
Além de desenvolver agilidade, força, explosão, faz um bem danado para a mente, garante a empresária Juliana Beatriz Fernandes, 33 anos: – É uma válvula de escape, consigo me desligar dos problemas.
Jogando há um ano e meio, ela treina de duas a três vezes por semana na escola Sul Futevôlei. Além das novas amizades, conta que também faturou algumas medalhas: – No início, você pensa que não vai conseguir. Mas, com os profissionais certos, você aprende rápido.
Lugar na areia
Atleta mais destacada no Estado, Regina Formagio da Silveira, 27 anos, estreou no esporte em uma praça de Osório, onde mora. Ela fazia altinha (troca de passes em roda sem deixar a bola cair no chão) e treinava com um professor.
– Não faltava um dia. Jogava no frio, na chuva e, aos poucos, fui me aperfeiçoando. Até que joguei no festival em Porto Alegre com outras meninas de fora e fui convidada para ser atleta profissional – conta.
Hoje representante da Federação Gaúcha de Futevôlei (FGFV), Regina virou referência para outras jogadoras no Estado e no país – nas competições, é conhecida como “a gauchinha”. Ela treina cinco vezes por semana na sua própria escola #teamborussia, onde conta com o apoio do treinador Fabio Abadi. Mas ela não pratica esporte só na quadra de areia: divide a paixão pelo futevôlei com enduro de regularidade de moto (modalidade praticada fora da estrada, em trilhas).
– Lugar de mulher é onde nós quisermos. Temos uma capacidade muito grande, que só percebemos quando encaramos os desafios, basta não se subestimar.
Amor e medalhas
De dois anos para cá, a participação das meninas aumentou nos campeonatos. Elas vêm, inclusive, conquistando boas colocações, mas a maioria dos jogos ainda são em duplas mistas: – É importante a participação deles porque, às vezes, só com meninas, não sai jogo – diz Juliana.
Acostumada a competir ao lado do namorado, Giuliana Viegas Cademartori, 24 anos, formada em Marketing, sabe bem da importância de uma dupla de peso. Ela joga desde 2015, e, desde então, já foram 11 competições, e geralmente ela fica entre as três primeiras colocações. Dessas disputas, apenas duas foram sem o namorado, que ela conheceu enquanto treinava futevôlei na Praça da Encol.
– O esporte nos une muito porque treinamos todos os dias, e eu acompanho ele em todas as competições. Amo jogar e vê-lo jogando.
As discussões que eventualmente ocorrem dentro de quadra terminam junto com jogo – uma combinação que os dois fazem questão de manter.
– A intimidade, às vezes, atrapalha porque nos cobramos muito. Ambos somos competitivos e queremos sempre dar o melhor. Depois, tudo certo, não levamos esse tipo de briga para casa, ou não dá para namorar.
Onde aprender
Time Villeroy Futevôlei
Clube da Areia, na Av. A. J. Renner, 295 – bairro Humaitá
Petrópolis Tênis Club
Map Sports
Na rua rua Hélia Fernandes Presser, 87 – bairro Vila Nova
Sul Futevôlei
Na Praça da Encol (Carlos Simão Arnt) – Av. Nilópolis, bairro Bela Vista
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