Durante o pior da pandemia, em 2020, nos vimos pouco. Você, eu, nossos parentes, nossos amigos, quantos encontros presenciais tivemos? Reuniões por Zoom foram necessárias, aniversários foram festejados a distância, cada um no seu quadrado (mesmo!), mas vá lá, era o que tínhamos naquele longo “hoje” que ainda não virou “ontem”, continua se arrastando. Quantas vezes, nos últimos dois anos, você esteve frente a frente com quem realmente importa?
Foi uma longa solidão. Para uns, insuportável, para outros nem tanto. Não tive problema com o isolamento. Escritor trabalha só, se aquieta em seu ninho. Afora a preocupação com os idosos da família e com o desconhecimento sobre o vírus, me defendi bem. Ao ser perguntada onde doía, eu respondia que doía quando lia as notícias, mas quase dormia tão bem quanto antes. Quase. Impossível não se sentir afetada pela quantidade de vezes que a palavra “morte” era enunciada e no clima pouco amistoso entre os “ele sim” e “ele não”. Não costumo escrever sobre política, mas impossível se calar diante de tanto descompromisso com a saúde, então expus minha indignação e levei bronca de quem se sentiu ofendido pelas minhas opiniões.
Ontem recebi a notícia de que uma amiga desmaiou em casa, foi conduzida ao hospital, o estresse à levou ao chão. Esse esgotamento nos acomete de vez em quando, nossos “pregos” perdem o poder de sustentação e a gente vem abaixo, quem nunca passou por isso? Problemas familiares, emocionais, financeiros e zás! Caímos.
Cada um de nós precisa encontrar um meio de se reerguer.
Não imaginei que o meio podia ser este: voltei a fazer sessões de autógrafos e elas se tornaram ainda mais significativas. Depois de tanto tempo me relacionando online, através das plataformas digitais, voltei a enxergar as pessoas e a me encantar com a expressão de seus olhos. Os olhos. Com o uso das máscaras, ganharam ainda mais relevância, são dos olhos a responsabilidade de substituir o sorriso escondido, são eles que declaram “como eu gosto de você”.
Voltei a me sentir querida e meus leitores voltaram a se sentir indispensáveis. O vigor da presença física e o sentimento declarado através do olhar fazem isso (estou exemplificando com a sessão de autógrafos, mas vale para todos os encontros). Os olhos trouxeram de volta o que perdemos durante nossa invisibilidade mútua. A gente reconhece que faz diferença para o outro no momento exato em que é visto.
Eu dependo das palavras, gosto de ler e de ser lida, mas é através do contato visual que me sinto abraçada e acolhida de um jeito que voltou a ser possível.
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Vamos trocar olhares? Dia 16, quarta, às 19h, autografarei os livros Noite em Claro Noite Adentro e A Claridade Lá Fora na Livraria da Travessa, em Ipanema. Se você estiver no Rio de Janeiro, te vejo lá.