Martha Medeiros
Caetano Veloso tem medo de barata. Declarou durante Narciso em Férias, documentário em que relata, de forma detalhada, como foram os 54 dias em que esteve preso pela ditadura militar, no final dos anos 1960. Um trabalho pontuado por revelações ora sentimentais, ora aflitivas. Os primeiros dias isolado numa solitária, sem entender a razão de ter sido detido. A caminhada no pátio com um guarda armado atrás dele, que o ameaçava de morte caso parasse ou conversasse com alguém. O alívio de sair da solitária e dividir uma cela com outros presos, sendo que alguns deles eram Perfeito Fortuna, Ferreira Gullar, Paulo Francis. A dor de escutar, por trás das paredes, os gritos dos torturados e de testemunhar a absurda prisão de um rapaz paraplégico que era homônimo de Antonio Callado. A informação, por fim, do “crime” que havia cometido: o de ter, supostamente, cantado o Hino Nacional em forma de paródia durante um show na boate Sucata, no Rio. O interrogatório, totalmente nonsense, o acusava de fazer música “desvirilizante” – nem o Aurelião conhecia essa palavra.
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