O presidente Jair Bolsonaro provocou polêmica e reações ao propor comemoração do golpe militar de 31 de março de 1964. Este é um tema constantemente abordado no cinema brasileiro em diferentes épocas, tanto no viés da ficção quanto no registro documental, destacando dos bastidores das articulações que provocaram a deposição do presidente João Goulart ao período da repressão aos opositores e da censura à imprensa.
Veja abaixo uma lista de 18 filmes que contam diferentes histórias do período, entres eles clássicos assinados por cineastas como Glauber Rocha e Eduardo Coutinho.
O Desafio, de Paulo César Saraceni (1965)
Primeira "reação" cinematográfica ao golpe de 1964, narra o romance da mulher de um industrial e um jornalista de esquerda, vivido por Oduvaldo Vianna Filho, em crise política e de identidade.
Terra em Transe, de Glauber Rocha (1967)
A obra-prima do período, tenta entender, de forma alegórica, as razões da não resistência ao golpe contra a democracia. É dos raros filmes que procuram compreender as estruturas sociais que fazem tão frágeis as instituições brasileiras. É mais do que atual.
Cabra Marcado para Morrer, Eduardo Coutinho (1964-1984)
É a obra referencial do período militar. As filmagens de uma obra de ficção sobre um líder camponês, interrompidas pelo golpe, só seriam retomadas às vésperas da redemocratização, agora já buscando o paradeiro dos personagens originais.
O Bom Burguês, de Oswaldo Caldeira (1979)
Conta a história de um funcionário do Banco do Brasil que desviava dinheiro para a luta armada contra o regime. Inspirado no caso verídico do roubo do "cofre do Adhemar" por grupos armados.
Pra Frente Brasil, de Roberto Farias (1982)
Filme que provocou tensão quando lançado ainda em pleno regime militar. Conta a história de um homem confundido com militante político que é torturado nos quartéis do aparelho repressor.
Jango, de Silvio Tendler (1984)
Um dos documentários de maior sucesso do cinema brasileiro, relata o tempo febril do governo de João Goulart e a articulação de direita para derrubá-lo.
Nunca Fomos Tão Felizes, de Murilo Salles (1984)
Baseado em relato do escritor João Gilberto Noll, conta, em tom sutil, o relacionamento de um adolescente com seu pai, militante clandestino da resistência.
Que bom te ver viva, de Lúcia Murat (1989)
Tendo ela própria sido presa política, a diretora Lúcia Murat resgata a memória de um grupo de mulheres que pegaram em armas contra o regime militar.
Lamarca, de Sérgio Rezende (1994)
Cinebiografia de Carlos Lamarca, vivido por Paulo Betti, um dos líderes da luta armada contra o regime, morto na Bahia pelos órgãos de repressão.
O Que é Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto (1997)
Baseado no best seller de Fernando Gabeira, narra a saga do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969. O objetivo da ação, bem sucedida, era trocar o refém por prisioneiros políticos.
Batismo de Fogo, de Helvécio Ratton (2007)
Relato da trágica trajetória de Frei Tito Alencar, dominicano que, preso e torturado, não resistiu às sequelas da prisão e suicidou-se na França.
Hércules 56, de Silvio Da-Rin (2007)
O documentário reúne os sobreviventes do grupo trocado pelo embaixador norte-americano Charles Elbrick, sequestrado em 1969 por organizações de esquerda. O título refere-se à matrícula do avião da FAB que levou os ativistas para o exílio.
Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski (2009)
Rara produção que fala dos vínculos do empresariado com a repressão política, através do perfil do empresário dinamarquês Hanning Albert Boilensen, do grupo Ultragás, acusado de financiar a tortura durante o regime militar.
O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares (2013)
Documentário bastante completo, destaca a participação dos Estados Unidos no golpe que derrubou o presidente João Goulart em 1964. Camilo Tavares, o diretor, é filho do jornalista e ex-preso político exilado Flávio Tavares, que assina a produção do longa.
70, de Emilia Silveira (2015)
O filme ouve as histórias de vida de alguns dos 70 presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher em 1970. O detalhe é que não falta humor à narrativa de eventos às vezes tão dramáticos.
Soldados do Araguaia, de Belisário Franca (2017)
Documentário conta a história da guerrilha (1967-1974) pelas vozes de soldados locais, convocados compulsoriamente pelo Exército para lutar contra os guerrilheiros.
Deslembro, de Flavia Castro (2018)
Quando a anistia é decretada no Brasil, Joana precisa voltar ao Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. Apaixonada por música e literatura, a adolescente, que deixou o país muito pequena, deve largar Paris para escrever sua vida em um lugar do qual mal se lembra. Flávia é autora do premiado documentário Diário de uma Busca, sobre seu pai, um militante de esquerda que morreu de forma misteriosa em Porto Alegre, em 1984.
Marighella, de Wagner Moura (2019)
Biografia do guerrilheiro com Seu Jorge no papel principal, primeira direção de Wagner Moura, estreou no Festival de Berlim deste ano, e ainda não tem data para estrear no Brasil.