Martha Medeiros
Meu reino por um assunto, penso a cada manhã. Um assunto que não faça o leitor sair de mãos abanando dessa página. Que ao menos o distraia, que acenda uma fagulha, conduza a algum lugar... A um livro, por exemplo. Acabei de ler Querida Konbini, da japonesa Sayaka Murata, uma prosa simples, direta, com uma história que poderia ser trivial, mas não é (o talento dos grandes escritores é transformar o corriqueiro em matéria para reflexão). Estaremos nos saindo bem como seres humanos? É a pergunta embutida no livro, cuja resposta me desola: não, não estamos. Repetimos fórmulas consagradas de viver, mesmo que nos façam infelizes. Não sentimos compaixão, empatia e pouco nos responsabilizamos pelo mundo que deixaremos. Temos medo da horizontalidade, de conviver com quem é diferente. Os muros continuam a ser erguidos, separando em vez de unir. Só pensamos em nós mesmos.