Sentada, tenho 63. Levantada, uns 10 anos menos. Caminhando, 20 menos.
Na época em que assistia shows inteiros em pé, na pista do estádio, como aconteceu nas turnês de Paul McCartney, Rolling Stones e Roger Waters, eu tinha de 17 a 56, dava no mesmo. Hoje, ficar três horas em pé no meio da multidão é uma coisa que não aguardo com ansiedade. A última vez foi ano passado, vendo Titãs, ao ar livre, sob uma chuva torrencial: iniciei o show com 18 e encerrei com 110.
Diante de um cálice de vinho, sou maior de idade. Diante de dois, estou apta a dar conferências. Com um cachorro-quente nas mãos, me lambuzo com a mostarda e cai meu primeiro dente de leite.
Assim que coloco os pés em um aeroporto, tenho 35. Ao embarcar no avião, 32.
Ao desembarcar em outro país, depois de um longo voo noturno, retorno aos meus 63, e com eles permaneço até que eu passe pela fila da imigração, pela esteira da bagagem e pelo trajeto até o hotel. Depois de me instalar, rua. Volto aos 30 e poucos.
Ao me sentar em uma cadeira de dentista, tenho oito anos. Diante de um primeiro beijo, 15. Com febre e dor no corpo, 96.
Reunida com as melhores amigas do colégio, todas nascidas em 1961, temos, no máximo, 19 – quem escutar nossas risadas por trás das paredes confirmará. Às vezes, engatamos conversas adultas, aí encostamos nos 37.
Se o encontro se der apenas entre mim e uma delas, voltamos aos 63. Amigas íntimas, em dupla, trazem sua vivência plena para o centro da mesa.
Quando rezo, 10 anos. Quando transo, idade é o que, mesmo?
Dentro do cinema, na plateia do teatro, devorando um livro, tenho 26, 88, 32, 5, 49, 71, 104, 11.
Quando treino, minha idade depende do peso de cada haltere e de cada caneleira, e de quantas vezes precisarei repetir os exercícios. Vou dos 25 à morte.
De manhã, sou sempre mais jovem do que à noite.
Quando sofro, envelheço. Aí escrevo algo — e compenso. Se vier a publicar, congelo o tempo. Como mágica, leitores de todas as idades passam a ter comigo a mesma história para contar.
Se entra por WhatsApp uma mensagem muito aguardada, fico excitada como se fosse meu aniversário — que, aliás, celebro com entusiasmo adolescente, não importa o número de velas sobre o bolo.
Triste, sou idosa. Alegre, mais gaiata. Sorrir sai mais em conta do que harmonização facial: suprime, no ato, uns oito anos da minha certidão de nascimento.
Neste instante, estou sentada (63), escrevendo (49), com planos de viajar (35), a fim de me apaixonar (17) e acreditando no futuro (12), mesmo ciente de que o mundo entortou e os problemas não irão sumir (63).
São 10h30min da manhã e sou mais moça do que ontem.