Entre as coisas que um divórcio de milhões não havia apartado ainda estava a natureza em comum. A natureza, até onde minhas pesquisas avançaram, ou ficava com um, ou com outro conje. Sim, eu sei que é cônjuge, mas desde que o ex-juiz aquele criou a corruptela, nunca mais consegui usar o termo original. Só não sei se o certo do errado é conje ou conge.
Muito já se viu ex-casais de magnatas lutando por uma casa construída em uma área de vegetação exuberante e, não raro, preservada. Ou por uma ilha. Ou por uma floresta inteira nos fundos da propriedade. Magnatas casam e, diferentemente dos mortais, que ralam para pagar o financiamento do apartamento, já entram na sociedade, digo, no casamento, arrastando uma montoeira de bens. Haja contrato para estipular tudo nos devidos detalhes, o que continuará exclusivo, o que será compartido, o que ficará para os herdeiros.
Nessas ocasiões, os ricos de berço até tentam manter a elegância cultivada em internatos na Suíça. Já os ricos da cultura pop, aí incluídos artistas e jogadores de futebol, convivem com os vazamentos mais sórdidos e até conseguem faturar em cima de um coração partido. Caso da Shakira, que tascou logo uma série de canções alfinetando o ex, o zagueiro do Barcelona Piqué. O tal que levou a namorada para casa e serviu à ela a geleia de morango que a Shakira comia no café da manhã. O traidor traído pela geleia. Isso merece mesmo uma música.
Eu gosto da Shakira desde que ela apareceu, em 1993. Uma colombiana em primeiro lugar nas paradas do mundo, quem não se acabou dançando “estoy aquí/ queriéndote?” A Shakira era poderosa antes mesmo desse adjetivo virar lugar-comum. Cantou no Super Bowl, em abertura de Copa. Ficou 11 anos casada com o Piqué, que ninguém discute ser um gato. Então o caldo entornou.
Mesmo os sites mais ávidos por fofoca não descobriram nada sobre uma possível guerra pelos bens do casal. Shakira não depende de pensão para os filhos, ao contrário de maioria das mães com crianças pequenas – que cortam um dobrado para conseguir o que é minimamente a obrigação de seus ex-companheiros. De todo jeito, o maior conflito do divórcio dos dois foram os filhos, que Piqué queria que permanecessem em Barcelona. Shakira venceu a parada e levou los niños para os Estados Unidos.
Novos divórcios já estavam nas manchetes quando apareceu uma notícia de novembro de 2022: Shakira mandou retirar da casa em que morou com Piqué uma árvore que havia sido plantada por ela alguns anos antes. Árvore essa cuja mudinha veio do Líbano, terra dos avós paternos da cantora.
O vídeo da operação mostra um enorme guindaste retirando a árvore por cima dos muros da mansão de Piqué. E abre uma nova perspectiva para divorciados com patrimônio a manter. Se o verde é hoje uma das maiores riquezas do planeta, deixar uma árvore para trás é perder – o que seja, dinheiro, lembranças, sombra, passarinhos, frutos, flores, vida.
Certíssima, a Shakira. Eu, se fosse ela, buscava a minha árvore também. Depois fazia uma música sobre o assunto e ganhava rios de dinheiro. Melhor dizendo: árvores.
No Mubi, o melhor dos streamings, é possível assistir a um documentário sensacional chamado Taming the Garden – algo como Domando o Jardim, sobre a coleção de árvores de Bidzina Ivanishvili, bilionário da Georgia, país da região do Cáucaso. Pois Bidzina, o exótico, manda equipes correrem o país sequestrando para seu jardim as árvores mais raras e frondosas que encontrarem. Se há quem as entregue sem discutir, existem os que tentam impedir a expropriação. Mas quem pode com as vontades de um biliardário amalucado? Filme da diretora Salomé Jashi, também nascida na Geórgia, Taming the Garden impressiona desde o cartaz, que mostra uma árvore sendo carregada de barco pelo Mar Negro. Sei não, mas algo me diz que serviu de inspiração para a Shakira.