É nesse domingo, senhoras, senhores e senhorxs. Tantas eleições depois, e olha que estive nas ruas pela redemocratização, não lembro de uma votação assim, com tanto significado.
Ou tantos significados.
Aquela tática de votar mais tarde, em um horário de menor movimento para não esperar tanto na fila: nesse ano, acho que não consigo. Estou quase fazendo como os fãs do Guns n’Roses, que foram para o portão da Arena do Grêmio já no sábado de barraca, cadeira de praia, mala e cuia para esperar o show da segunda. Me coçando aqui para pegar um mochinho e um cobertor e me plantar na porta do colégio onde voto. Agora. Melhor não.
Periga a diretora chamar a patrulha da prefeitura. Flagrante por vadiagem dá prisão nesses dias pré-eleitorais? Não vou arriscar.
Vontade de acabar logo com isso, de começar outra história. Deixar para trás a violência, a baixaria. Quem imaginou que as pessoas iam se matar por conta de candidatos diferentes? Só não é a volta da Idade Média porque, como aprendemos na escola, o povo não votava naquele longínquo período histórico. Galera ia direto para a parte da matança.
Pior que, nesses dias estranhos, quem agride e mata alega estar defendendo a “nossa liberdade”.
“Nossa liberdade” para quem, cara pálida?
O conceito de liberdade, aliás, foi bem deturpado nos últimos tempos. Virou algo como: ou todo mundo faz o que eu acho, ou isso daí vai complicar no tocante a isso daí.
A liberdade de 2022 é a mamadeira de piroca de 2018. Uma fake news que só convence quem não entende o significado de “liberdade”. Que, em uma simplificação barata, é o conjunto de condições capaz de dar dignidade a um povo. A pátria, a família, a tradição e até o tão invocado em vão Deus até podem entrar no pacote. Mas menos, né?
Tergiversações pré-eleitorais, se me perdoam.
Há quem diga que, dependendo do resultado de domingo, as coisas podem piorar. Há mesmo quem use desse argumento para ameaçar carinhosamente – contradição em termos – o eleitor: olha lá, vê direitinho em quem vai votar, depois a coisa endurece e aí não adianta chorar, estou falando para o teu bem.
Mas o bem não deveria ser para a maioria?
Importante: sem bons deputados e senadores, os governadores e o presidente vão continuar reféns de acordos e conchavos. Anular ou votar em branco não ajuda em nada. Aqui em casa, todo mundo já guardou a colinha na carteira. Esquecer não é uma opção.
O que foi feito de bom, o que foi mal feito, a esperança, tudo cabe em uma urna. Domingo a gente vai passar o dia em função de saber o que nos espera.
Não sei você, mas eu estou que não me aguento. Vou pegar meu mochinho e esperar na 0 frente do colégio. Se a patrulha aparecer, ainda tento virar o voto dela.
Boa eleição para todo mundo. E que a gente não vote com o fígado, vote com o coração.