Nesses dois anos vivendo de máscara, saindo pouco e fugindo das aglomerações, não peguei covid e nunca mais tive nada, gripe, tosse, qualquer dessas doenças que se espalham pelas gotículas e pela convivência. Isso até a semana passada, quando a garganta começou a doer.
Primeira coisa que a pessoa pensa: peguei a maldita. E já começa a levantar hipóteses: onde? No supermercado, agora que alguns clientes – usando de seu direito - vão sem máscara? No cinema, que nem estava cheio? No teatro, onde estive para ver O Inverno do Nosso Descontentamento – Nosso Ricardo III, o maravilhoso espetáculo de Luciano Alabarse, Marcelo Ádams e Margarida Peixoto? Sei que a peça volta em maio no Festival Palco Giratório e preciso recomendar: assistam.
Entre desconfiar que se pegou covid e ter, só o teste para confirmar. Positivo, na forma de uma gripe que mais pareceu um caminhão descontrolado me pegando de jeito. Santas três doses de vacina. Para não contaminar geral, o jeito foi recolher o facho e ficar na companhia dos livros e das redes, a forma da sociedade não sair da gente, mesmo que a gente saia dela.
Foi lá que fiquei sabendo, por exemplo, que a Cíntia Moscovich abriu uma nova turma da sua Oficina do Subtexto. A partir do dia 10 de maio, 12 encontros remotos, sempre às terças, com a publicação de um livro no final. Informações e inscrições aqui: oficinadosubtexto@gmail.com.
Estava difícil de fazer tudo, até de ler. Consegui ir até o fim, com prazer, de dois livros que estavam me olhando da mesa de cabeceira há alguns dias. Em Rato de Redação: Sig e a História do Pasquim (Matrix Editora), o jornalista Márcio Pinheiro recupera a trajetória e revela potins desconhecidos até dos leitores mais fiéis do Pasquim. Em A Batalha, (Companhia das Letras), um episódio pouco conhecido da nossa história, a batalha fluvial de Mbororé, é contada por Fernanda Verissimo e ilustrada por Eloar Guazelli. Impossível não torcer pelos índios a cada quadrinho.
Mas a grande companhia desses dias febris foi Avenida Angélica, o novo álbum de Vitor Ramil, lançado na semana passada. Era para ter sido um show viajando pelo país, virou uma gravação nas obras do Theatro Sete de Abril, em Pelotas, por conta da pandemia. Vitor musicou poemas da conterrânea Angélica Freitas e o resultado é pop, amoroso, lírico, surpreendente, lindo. Ouvir na voz de Vitor os versos de Rilke Shake, Vida Aérea, Mulher de Rollers, Família Vende Tudo, Treze de Outubro e tantos mais, embola de vez a velha discussão sobre letra de música ser ou não poesia, agora que a poesia virou letra. Avenida Angélica está inteirinho aqui: gzh.rs/AvenidaAngélica.
E se vale um conselho, não esqueçam de tomar o reforço da vacina, e a vacina contra a gripe, também. Nos ambientes fechados, mesmo que não seja mais obrigatório, a máscara protege, inclusive de quem não se protege. Sua saúde, penhorada, agradece: obrigada, obrigada.